Título: Em jogo, os votos de 2 milhões de eleitores
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 13/09/2012, Política, p. 3

O PT espera que a nomeação de Marta Suplicy para o Ministério da Cultura — a posse será hoje, às 10h30, no Palácio do Planalto — incendeie a militância petista da periferia paulistana e assegure Fernando Haddad para o segundo turno da eleição da prefeitura de São Paulo. Marta tem um exército a seu dispor nas regiões mais pobres da capital paulista, especialmente na Zona Leste, que representa 34,84% do eleitorado da maior cidade do país. A região tem 3,003 milhões de eleitores, de um total de 8,619 milhões que votam em São Paulo. Pouco mais de 2,4 milhões votaram em Marta na última disputa pela prefeitura.

Quando foi convencida a aderir em definitivo à campanha de Haddad, Marta ouviu do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff que o candidato petista precisaria — e muito — de uma tutora nas regiões mais carentes da cidade. Ainda na fase de pré-campanha, o ex-ministro da Educação confundiu Itaim Paulista (Zona Leste, região carente) com Itaim Bibi (Zona Oeste, área nobre).

Além disso, o PT perdeu esse eleitorado mais pobre para o candidato do PRB, Celso Russomanno. Três fatores ajudaram a compor essa equação: Russomanno é ex-apresentador de programas sobre direitos do consumidor na tevê; ainda tem uma imagem ligada ao malufismo, por ter sido filiado ao PP; e, apesar de o PCdoB apoiar o PT, os votos do vereador Netinho de Paula não migraram para Haddad e acabaram migrando para o candidato do PRB.

Marta aceitou o desafio e até já participou de um evento ao lado de Haddad, na segunda-feira: uma caminhada no Centro de São Paulo. "Mas a nomeação dela para o ministério traz um simbolismo, para o eleitorado, de um comprometimento maior", aposta um articulador político do PT paulista. "Ela não vai estar apenas de "corpo presente" ao nosso lado, ela estará de corpo inteiro", completou.

Os petistas esperam que ela possa transferir para Haddad um desempenho próximo ao que conseguiu nas regiões carentes, normalmente entre 50% e 60% do votos. Em Parelheiros, zona rural da capital paulistana, a nova ministra conseguiu, em média, 75% dos votos em disputa. "Esse "bafo quente" do eleitorado de Marta levou José Genoino, um simples deputado federal, ao segundo turno nas eleições para governador em 2002 e fez uma enorme falta na campanha de Aloizio Mercadante em 2010", resumiu um interlocutor de um partido da base aliada do governo Dilma.

Força O presidente estadual do PT, deputado Edinho Silva, afirmou em dezembro ao Correio que era impossível fazer campanha em São Paulo sem o apoio de Marta Suplicy. Mesmo diante de céticos companheiros da legenda, ele sempre acreditou que Marta iria aderir a Haddad, no momento adequado. E isso aconteceu agora, com o início do horário eleitoral gratuito. "Marta é forte na periferia, mas a presença dela estimula a militância em qualquer parte de São Paulo", acrescentou.

O outro objetivo com a nomeação de Marta Suplicy para o ministério — abrir a suplência para Antônio Carlos Rodrigues (PR) — só deve se concretizar no segundo turno, caso José Serra (PSDB) não avance na disputa eleitoral. A assessoria do PR garantiu que "não existem motivos para romper a aliança com o PSDB após todos os debates conduzidos pela direção nacional do partido nesse sentido". Caso o segundo turno venha a ser disputado entre Haddad e Russomanno, a tendência é que o PR alie-se ao petista.

Serra fez ontem duras críticas à presidente Dilma Rousseff pela nomeação de Marta Suplicy para o Ministério da Cultura. "Ela (Dilma) vem meter o bico em São Paulo, vem dizer para os paulistanos como é que eles devem votar", disse Serra. Sobrou também para Marta. "A Marta Suplicy fez três insultos a mim e ganhou um ministério. Isso mostra que me insultar vale bastante", ironizou o candidato do PSDB.

"A Marta Suplicy fez três insultos a mim e ganhou um ministério. Isso mostra que me insultar vale bastante" José Serra, candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo

Severino Cavalcanti desiste da reeleição O ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PP), prefeito de João Alfredo (PE), desistiu de disputar a reeleição. Na manhã de ontem, os advogados de Severino entregaram a documentação de renúncia no cartório eleitoral do município. O prefeito teve a candidatura impugnada pelo Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE) com base na Lei da Ficha Limpa — ele renunciou ao cargo de deputado federal em 2005 para evitar a cassação do mandato. Na época, foi acusado de ser o mentor do "mensalinho", um esquema de corrupção no qual era cobrado propina a donos de restaurantes instalados na Casa para que fossem renovados os contratos. (Júlia Schiaffarino)

Capital eleitoral

3.248.115 Votos recebidos por Marta em 2000. Ela foi eleita prefeita de São Paulo

2.740.152 Votos obtidos pela petista em 2004. Naquele ano, perdeu a disputa pela reeleição para José Serra no segundo turno

2.452.527 Número de votos recebidos em 2008, quando foi derrotada na disputa pela prefeitura por Gilberto Kassab no segundo turno