Correio braziliense, n. 20436, 04/05/2019. Política, p. 4

 

Bolsonaro desiste de homenagem

04/05/2019

 

 

Após uma série de críticas, presidente cancela viagem a Nova York, onde receberia prêmio da Câmara de Comércio Brasil—Estados Unidos

O presidente Jair Bolsonaro desistiu de viajar a Nova York para receber o prêmio Personalidade do Ano, organizado pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. O motivo do cancelamento foi a repercussão negativa da presença do presidente no evento, previsto para o próximo dia 14.    
Em nota, o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, admitiu que Bolsonaro cancelou a ida aos Estados Unidos por causa dos protestos de diversos grupos e do prefeito de Nova York, Bill de Blasio, que chegou a chamar Bolsonaro de “ser humano perigoso”.    
“Em face da resistência e dos ataques deliberados do prefeito de Nova York e da pressão de grupos de interesses sobre as instituições que organizam, patrocinam e acolhem em suas instalações o evento anualmente, ficou caracterizada a ideologização da atividade”, disse Rêgo Barros.    
Ainda de acordo com o porta-voz, diversos setores do governo foram consultados antes da tomada de decisão. “O presidente decidiu pelo cancelamento da ida a essa cerimônia e da agenda prevista para Miami”, informou.    
A homenagem ao presidente foi alvo de resistências nos EUA. A Câmara de Comércio teve dificuldade de conseguir um lugar para realizar o evento. Primeiro, o Museu de História Natural de Nova York se recusou a ser sede. Por fim, havia reservado um espaço em um hotel da rede Marriott, próximo à Times Square.     
Ao longo da semana, ativistas de direitos LGBTQ e ligados às minorias passaram a pressionar empresas que patrocinam o evento a boicotar a premiação. Os ativistas lançaram uma petição, intitulada #CancelBolsonaro, para que o Marriott Marquis boicotasse o evento. Promovida pelo senador estatal de Nova York Brad Hoylman, que é homossexual, a petição recolheu mais de 53 mil assinaturas. “Ao acolher este evento, Marriott está dando a Bolsonaro uma plataforma que recompensa seu abominável comportamento”, afirma o documento.
Como resultado da polêmica, algumas empresas, como a companhia aérea Delta, o jornal britânico Financial Times e a consultoria Brain & Company decidiram retirar o patrocínio. Uma nova manifestação vinha sendo preparada para acontecer no dia da homenagem.     
Procurada, a Câmara de Comércio não respondeu se haverá mudança no evento, que também homenageia o secretário de Estado americano, Mike Pompeo.
Consultado sobre a polêmica, um porta-voz do Marriott, Jeff Flaherty, informou que a rede de hotéis foi criada com base nos ideais de respeito, diversidade e inclusão. “Dar as boas-vindas a todos e ser inclusivo significa incluir grupos que podem, ou não, compartilhar os valores de nossa companhia. No entanto, permitir a um grupo que use nossas instalações de nenhuma maneira significa que apoiamos suas posições”, frisou.
Em uma recente postagem em inglês e português, o presidente da rede Marriott, Arne Sorenson, estimou que a empresa não pode discriminar ninguém por suas crenças, se a legalidade e a segurança não forem ameaçadas.
Anualmente, a Câmara de Comércio Brasil-EUA escolhe duas personalidades, uma brasileira e outra americana, e as premia em um jantar de gala para mais de mil pessoas, com a presença de líderes do mundo das finanças, dos negócios e da diplomacia de ambos os países. As entradas custam US$ 30 mil cada uma e já estavam esgotadas.