Valor econômico, v. 20 , n. 4769 , 11/06/2019. Internacional, p. A9

 

México quer atuação do Brasil para conter migração para EUA

 

 

 

Marsílea Gombata

11/06/2019
 
 
 

Marcelo Ebrard quer que países da região compartilhem responsabilidade por onda migratória em direção aos EUA

 

O México envolveu ontem o Brasil na disputa com os EUA sobre imigração, pedindo participação do país para conter o fluxo migratório. Não ficou claro o que o governo mexicano deseja. O governo brasileiro não havia sido oficialmente informado até a noite de ontem.

Ontem o ministro das Relações Exteriores do México, Marcelo Ebrard, disse que, se nos próximos 45 dias as medidas acordadas com os EUA não forem suficientes para conter a onda migratória, outros países da região precisarão ser envolvidos. A responsabilidade migratória "tem de ser regional", disse Ebrard, ao citar o Brasil, o Panamá e a Guatemala.

"Se as medidas que estamos propondo não forem bem-sucedidas, temos de discutir com os EUA e com outros países, como Guatemala, Panamá e Brasil", disse Ebrard. "Precisamos da solidariedade deles. Brasil porque é onde as pessoas chegam de fora do continente. Panamá porque é onde chegam cubanos e haitianos, a Guatemala, porque é onde passam hondurenhos e salvadorenhos. É um sistema regional."

O ministro mexicano sugeriu que os requerentes de asilo poderiam ter que procurar refúgio no primeiro país a que chegaram depois de deixarem sua terra natal.

Questionado sobre mais detalhes, Ebrard disse que os países da região "precisam fazer um pacto para que o número de migrantes não cresça", porque se os números aumentarem, os EUA imporão tarifas sobre produtos de origem mexicana.

O governo brasileiro não havia sido informado oficialmente até a noite de ontem. A Embaixada do Brasil na Cidade do México aguardava um posicionamento oficial do governo mexicano para emitir um comunicado oficial.

No domingo, o presidente dos EUA, Donald Trump, havia dito que algumas coisas não mencionadas no comunicado de sexta-feira sobre o acordo com o México seriam anunciadas no momento apropriado. Ontem Ebrard e o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, reconheceram que o escopo completo do acordo não foi divulgado na declaração conjunta de sexta-feira.

Para o ex-vice-chanceler do México Andrés Rozental, um acordo regional para conter a onda migratória parece ter sido uma condição imposta pelo governo americano.

"Aparentemente é algo que os americanos puseram na mesa de negociação. Entendo que ocorreria caso o acordo não seja suficiente para reduzir o fluxo de imigrantes para os EUA", afirmou. "De todo modo, acho muito difícil que o México possa diminuir o número de imigrantes que tentam chegar aos EUA em tão pouco tempo. É um número muito elevado."

Autoridades dos EUA detiveram cerca de 140 mil migrantes ao longo da fronteira do México no mês passado, o nível mais alto desde 2006 e quase o dobro do número de detidos em fevereiro.

Segundo o jornal "The Washington Post", durante as negociações, o governo mexicano teria afirmado que suas medidas reduziriam o total de detenções na fronteira dos EUA para 50 mil por mês até outubro, com o objetivo de reduzir a migração ainda mais. Os EUA teriam pedido que os números caíssem em um ritmo mais rápido, e as autoridades mexicanas, aceitado. (Com agências internacionais)