Valor econômico, v. 20 , n. 4781 , 28/06/2019. Internacional, p.A9

 

Brics suaviza linguagem contra os EUA

 

 

 

Assis Moreira

20/06/2019

 

 

 

Os líderes do Brics - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - farão um comunicado hoje em Osaka que suaviza em muito sua reação a medidas que vêm provocando tensões no comércio global e iniciadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, conforme apurou o Valor.

A mudança é significativa em comparação com o que o grupo dos grandes emergentes adotou há seis meses em Buenos Aires, quando foi incisivo num cenário em que Washington ameaçava Pequim com novas sobretaxas.

Na capital argentina, os líderes do Brics afirmaram que o espírito e as regras da Organização Mundial de Comércio (OMC) eram contrárias a medidas unilaterais e protecionistas. E conclamaram todos os demais 160 membros da entidade a "se oporem a essas medidas inconsistentes com a OMC, reafirmarem os compromissos que assumiram na OMC e recuarem de tais medidas de natureza discriminatória e restritiva".

Desta vez, em Osaka, o comunicado do Brics trará uma linguagem muito menos incisiva, mencionando que unilateralismo e protecionismo não são amparados pelas regras do sistema multilateral de comércio. Não menciona mais a demanda de reação dos parceiros a políticas que se propagam no rastro do "America First" de Donald Trump.

Uma razão para essa nova postura é que no Brics não vê razões para "jogar mais lenha na fogueira, esticar a corda" e tensionar ainda mais o ambiente comercial. Sobretaxas e retaliações dos países afetados têm derrubado os fluxos comerciais.

Além disso, a maioria no Brics não queria uma linguagem dura. O presidente chinês, Xi Jinping, se encontrará amanhã com Trump e busca uma trégua com os americanos, dependendo de certas condições que Pequim tem sinalizado a Washington.

A China obtém um certo conforto de seus sócios no grupo. Mas estes evitam alvejar duramente o governo Trump.

O comunicado deverá tratar de alguns dos temas principais da agenda do G-20, como economia digital, desenvolvimento, apoio à reforma na OMC para preservar o sistema multilateral de comércio e abordar questões na área financeira.

Para o general Heleno Augusto, um dos principais auxiliares de Bolsonaro, a mensagem do Brics será a de cada vez mais procurar coordenação entre os cinco grandes emergentes - mas "é só entendimento econômico, não tem nada além disso", ressalvou.