O Estado de São Paulo, n. 45935, 24/07/2019. Política, p.A4
PF prende suspeitos de hackear Moro e Deltan
Fausto Macedo
Julia Affonso
Luiz Vassallo
24/07/2019
Investigação. Ação da Policia Federal cumpre mandados em São Paulo, Araraquara e Ribeirão Preto; quatro pessoas são detidas temporariamente e transferidas para Brasília
A Polícia Federal prendeu ontem quatro suspeitos de invadir os telefones celulares de autoridades, incluindo o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o procurador da República e coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato no Paraná, Deltan Dallagnol. Os agentes federais cumpriram os mandados de prisão temporária e de busca e apreensão em São Paulo, Araraquara e Ribeirão Preto. Foram presos um homem e uma mulher na capital e outros dois homens nas cidades do interior paulista.
Os presos foram transferidos para Brasília. Segundo a PF, por questão de espaço, dois deles permaneceram na carceragem da superintendência e os outros dois, levados por volta das 23h para local não informado. A ação da PF, batizada de Operação Spoofing, foi determinada pelo juiz da 10.ª Vara Federal de Brasília, Vallisney de Souza Oliveira.
Um dos endereços alvo de buscas ontem foi a residência da mãe de Gustavo Henrique Elias Santos, em Araraquara. Santos, no entanto, foi preso na capital paulista. Ele trabalha com shows e eventos, segundo investigadores. Ao Estado, seu advogado, Ariovaldo Moreira, alegou não conhecer os autos da investigação e disse que pediu informações à 10.ª Vara Federal de Brasília.
“Liguei para a PF em Brasília para buscar garantias de que ele está lá. Eles me disseram que ele (Santos) poderia ter me ligado, mas soube que o telefone do Gustavo foi apreendido”, disse o advogado. A pedido da defesa, a PF adiou o depoimento de Gustavo Santos e de sua mulher, Suellen Priscila de Oliveira – também presa ontem. Os dois só falarão quando o advogado estiver em Brasília.
Além do casal, detido em São Paulo, a PF prendeu em Araraquara Walter Delgatti Neto, que já responde a processos por estelionato. Segundo informações da Justiça Eleitoral, ele foi filiado ao DEM. A defesa de Delgatti Neto não foi localizada. Há, ainda, um quarto preso, em Ribeirão Preto, não identificado até a conclusão desta edição.
O inquérito é mantido em sigilo e está sendo conduzido pelo delegado Luiz Flávio Zampronha, que, em 2005 e 2006, presidiu o inquérito do mensalão.
Autoridades. Além de Moro, procuradores da força-tarefa da Lava Jato no Paraná e outras autoridades teriam sido alvo de hackers – no mandado de buscas, há menção ao desembargador federal Abel Gomes, do Tribunal Regional Federal da 2.ª Região, no Rio, ao juiz Flávio Lucas, da 18.ª Vara Federal do Rio e aos delegados da PF Rafael Fernandes, em São Paulo, e Flávio Vieitez Reis, em Campinas.
A PF informou também ontem que vai investigar a suspeita de invasão nos aparelhos celulares do ministro da Economia, Paulo Guedes, e da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) (mais informações nesta página).
Desde 9 de junho, o site The Intercept Brasil divulga supostas mensagens trocadas pelo então juiz federal titular da Lava Jato em Curitiba com integrantes do Ministério Público Federal, principalmente com Dallagnol. Foram divulgadas pelo The Intercept e outros veículos conversas atribuídas ao ex-juiz e a procuradores no aplicativo Telegram. O site afirmou que recebeu de fonte anônima o material, mas não revelou a origem. Moro nega conluio – ele e Dallagnol afirmam não reconhecer a autenticidade das conversas.
O ministro da Justiça já afirmou que a invasão virtual foi realizada por um grupo criminoso organizado. Para ele, o objetivo seria invalidar condenações por corrupção e lavagem de dinheiro, interromper investigações em andamento ou “simplesmente atacar instituições”.
Em 19 de junho, Moro passou oito horas e meia respondendo a questionamentos de senadores na Comissão de Constituição e Justiça da Casa sobre supostas mensagens que sugerem atuação conjunta com os procuradores quando ele era juiz.
Falsificação. Spoofing, segundo a PF, é um tipo de falsificação tecnológica que tenta enganar uma rede ou pessoa fazendo-a acreditar que a fonte de uma informação é confiável. “As investigações seguem para que sejam apuradas todas as circunstâncias dos crimes praticados”, informou a PF. A operação mira “organização criminosa que praticava crimes cibernéticos”.
O celular de Moro foi desativado em 4 de junho. O aparelho foi invadido por volta das 18h. Ele percebeu após receber três telefonemas do seu próprio número. O ex-juiz acionou então investigadores da PF. O último acesso de Moro ao aparelho foi registrado no WhatsApp às 18h23 daquele dia. O suposto hacker teria tentado se passar pelo ministro no Telegram.