O globo, n.31397, 24/07/2019. País, p. 08

 

No Nordeste, Bolsonaro diz: 'Somos todos paraíbas'

Mário Bittencourt 

24/07/2019

 

 

Em meio à polêmica sobre a paternidade da obra e sob a repercussão de um comentário gravado em que fala sobre “governadores de paraíba”, o presidente Jair Bolsonaro inaugurou ontem o Aeroporto Glauber Rocha, em Vitória da Conquista, na Bahia. Na tentativa de aproximação com a região, Bolsonaro disse amar o Nordeste e afirmou, durante discurso, que “somos todos paraíbas.”

— Eu amo o Nordeste, afinal de contas a minha filha tem em suas veias sangue de cabra da peste —disse o presidente, em referência à origem nordestina da família da primeira-dama, Michelle, mãe de Laura, de 8 anos.

A inauguração não contou com o governador Rui Costa (PT). O petista cancelou sua participação e acusou o governo federal de tornar a cerimônia uma “convenção político-partidária”. Em entrevista ontem à Rádio Metrópole, Costa disse que Bolsonaro tem ódio pela população da região.

— Infelizmente temos um presidente que odeia o povo do Nordeste, odeia o povo baiano —afirmou à emissora.

Ao discursar, Bolsonaro “lamentou muito” a ausência de Costa e reclamou que o governador não autorizou a presença da Polícia Militar no evento. Bolsonaro acusou o petista de colocar a população em risco ao negar que PM, Polícia Civil e Bombeiros atuassem na segurança

Costa rebateu o presidente. Afirmou que o Planalto “fechou o aeroporto e excluiu o povo”, e que Bolsonaro cria “falsa polêmica”.

Durante o evento, Bolsonaro foi aplaudido por convidados, enquanto um ato contra o presidente ocorria em frente ao aeroporto. Cerca de 40 pessoas levaram cartazes contrários aos cortes na educação e à reforma da Previdência. Parte usou chapéus de cangaceiros, comuns às campanhas que exaltam o orgulho nordestino. Bolsonaro também usou o acessório.

— Não é qualquer um que usa um trem desses na cabeça, não. Somos todos paraíbas —afirmou o presidente.

Com receio da repercussão da declaração de Bolsonaro contra governadores — gravada na última sexta-feira —, o Planalto determinou que o evento não fosse transmitido pela TV Brasil, como ocorre em cerimônias oficiais, nem exibido nas redes sociais. Mas imagens dos protestos correram a internet. Questionada, a Secretaria de Comunicação (Secom) afirmou que foi uma “decisão interna”.

Na ausência de Costa, Bolsonaro foi recebido pelos prefeitos de Vitória da Conquista e Salvador, Herzem Gusmão (MDB) e ACM Neto (DEM) —a quem Bolsonaro chamou de futuro presidente.

O terminal não recebeu verbas do governo Bolsonaro. A obra foi feita com recursos do estado e liberados pelas gestões de Dilma Rousseff (PT) e de Michel Temer (MDB), ao custo de R$ 105,8 milhões, sendo que R$ 74,6 milhões pagos pela União. (Colaborou Jussara Soares).

Obras inacabadas e ‘dois pais’

> A obra do Aeroporto Glauber Rocha, no Sudoeste da Bahia, levou cinco anos para ser concluída. Há sete meses, a inauguração chegou a ser suspensa pela Justiça.

> À época, o Tribunal de Justiça da Bahia não explicou o motivo que levou à decisão, mas hoje se sabe que foi por uma batalha judicial entre as empresas que concorriam pela concessão do aeroporto. A liminar só foi suspensa em de janeiro deste ano.

> O novo terminal foi entregue com obras de reurbanização do entorno e acesso inacabadas. Ontem, ainda havia operários trabalhando com máquinas às margens da BR-116, na rotatória do aeroporto.

> Pelo Twitter, os governos da Bahia e federal reivindicaram a autoria da obra. Mesmo sem liberação de verbas por parte do governo Bolsonaro, a pasta da Infraestrutura postou: “Mais uma entrega do governo do presidente Jair Bolsonaro”.