Título: Todos os riscos do PT na urna
Autor: Lyra, Paulo de Tarso; Correia, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 07/10/2012, Politica, p. 2

Com Lula fora do poder e no auge do julgamento do mensalão, petistas acreditam em apenas uma vitória antecipada nas capitais e temem naufrágio da candidatura no Recife. Na capital paulista, apostam na chegada de Haddad

A eleição para prefeito dos mais de 5,5 mil municípios, que reunirá hoje 138,5 milhões de pessoas em 26 estados — o Distrito Federal não tem eleições municipais — trará desafios adicionais ao PT, partido que comanda o governo federal há 10 anos e que tenta tomar o poder do PSDB em estados estratégicos, como São Paulo e Minas Gerais. Será a primeira disputa nas urnas sem Luiz Inácio Lula da Silva como mandatário principal do país. Também será realizada sob a égide do mensalão, justamente na semana em que um de seus principais ícones — o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu — teve encaminhada a sua condenação por corrupção ativa.

Na polarização direta com o PSDB, o PT leva desvantagem na disputa pelas capitais. Os tucanos aparecem de maneira competitiva em 11 delas, enquanto os petistas em apenas oito, seguidos pelo PSB (6) e PMDB (3). O PSDB aposta em vitória no primeiro turno em Maceió, com Rui Palmeira, e em Vitória, com Luiz Paulo Velloso Lucas. O PT só reconhece possibilidade de levar hoje em Goiânia, onde o atual prefeito, Paulo Garcia, se beneficiou do enfraquecimento do PSDB goiano graças ao envolvimento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira.

O PT também tem visto apostas consideradas como certas escorrerem entre os dedos. No Recife, por exemplo, a legenda deixará a prefeitura após 12 anos comandando a capital pernambucana. Fruto de uma divisão interna que impediu a candidatura de João da Costa à reeleição, o partido, apoiado por Lula, lançou o nome do senador Humberto Costa, que deve ficar fora do segundo turno. Lula nem sequer apareceu pessoalmente para evitar maiores complicações. “Se ele fosse ao Recife e não fosse em Fortaleza, os petistas do Ceará iriam reclamar”, disse o secretário de organização do PT, Paulo Frateschi.

Fortaleza também repetiu o cenário do Recife, com a cisão de antigos aliados — PT e PSB — que se tornaram antagônicos na disputa municipal. Para sorte do PT, o candidato Elmano Freitas conseguiu desbancar o demista Moroni Torgan e deve estar no segundo turno contra o candidato apoiado pelo governador Cid Gomes (PSB), Roberto Cláudio. “Vamos para o segundo turno aqui e em Salvador, com Nelson Pellegrino virando em primeiro”, disse o vice-presidente do PT, deputado José Guimarães (CE).

Musculatura Para Guimarães — que é irmão do ex-deputado José Genoino, um dos réus no julgamento do mensalão — o PT tem musculatura suficiente para vencer as dificuldades, amparando-se, sobretudo, nos bons resultados do governo federal. “Temos condições de enfrentar as turbulências e tempestades porque temos o que mostrar. O povo brasileiro reconhece que sabemos cuidar dele, da economia do país e isso é levado em conta na hora do eleitor depositar seu voto na urna”, completou Guimarães.

O fator Lula, que o PT sonhava em desfrutar com o ex-presidente livre dos compromissos de administrar o país, foi minimizado pelo câncer de laringe que atingiu o petista no ano passado. Ele passou por um longo tratamento quimioterápico, curou-se da doença, mas, por recomendação médica, fez menos viagens que gostaria. “Lula gravou 288 mensagens de apoio e tirou mais de 500 fotos para que os candidatos possam usar nas campanhas eleitorais”, ponderou Frateschi.

O secretário de organização petista acrescentou que a decisão de ir a menos lugares foi de Lula e não tem a ver diretamente com a doença. “Ele está curado do câncer. Mas é claro que, se tivesse viajado para 200 municípios, teria algum abalo nessa recuperação”, completou. Guimarães reconhece o esforço do ex-presidente em mandar mensagens de apoio para o maior número de petistas e aliados. Admite, contudo, que poderia ter sido melhor. “É óbvio que a presença física dele faz diferença. ACM Neto (DEM) podia ganhar em primeiro turno. Lula foi a Salvador, Pellegrino virou o jogo”, completou.

Dirceu e Genoino Outro desafio é o julgamento do mensalão. O PT lutou para que ele não ocorresse durante o período eleitoral. Mas os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) começaram a analisar o processo em agosto. Logo no início, o partido presenciou a queda de uma de suas principais estrelas. Condenado pela Suprema Corte, o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha teve de abrir mão da candidatura a prefeito de Osasco. O partido liderava a disputa e, agora, está em terceiro em um município importante para consolidar o “cinturão vermelho” em torno da capital paulistana, composto, dentre outros, pelos municípios do ABC, mais Osasco e Guarulhos.

Para piorar, José Dirceu, o ex-presidente do partido José Genoino e o ex-tesoureiro Delúbio Soares começaram a ser julgados na semana passada. “O mensalão não tira os nossos votos consolidados. Mas acanha os simpatizantes do partido”, admitiu Frateschi.

Sob a marca da Ficha Limpa A Lei da Ficha Limpa, mais do que o julgamento do mensalão, é a grande marca das eleições municipais deste ano. A opinião é da presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Cármen Lúcia. Durante pronunciamento em cadeia de rádio e televisão na noite de ontem, a ministra declarou que “o Brasil que queremos é Brasil justo, igual, honrado e limpo. Não é que seja fácil, mas viver também não é. E seguimos vivendo”, resumiu. “Neste domingo, vote limpo. Porque o Brasil merece. Porque você merece”, conclui a presidente do TSE. Mais cedo, em evento no Tribunal, Carmen Lúcia lembrou que o eleitor, além da Ficha Limpa, está mais preocupado com os problemas de sua cidade do que no julgamento do mensalão.