Título: A máquina em campo
Autor: Lyra, Paulo de Tarso ; Braga, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 17/10/2012, Política, p. 2

Planalto intensifica as ações para beneficiar os candidatos da base. Além das viagens para subir em palanques, Dilma anuncia reforço no caixa de estados e já estuda novas mudanças na Esplanada

O trator federal liga os motores na reta final do segundo turno. Serão 11 dias em que a máquina conduzida pela presidente Dilma Rousseff agirá para eleger o maior número de aliados nas prefeituras, sobretudo nas capitais, deixando a oposição acuada. Ministros vão intensificar as viagens para ajudar os candidatos da base; Dilma subirá em pelo menos três palanques; emendas seguem sendo liberadas — foram R$ 343 milhões e apenas 7% deste valor para oposicionistas —; e conversas para reorganizar a base na Esplanada já foram iniciadas.

O principal objetivo, claro, é eleger Fernando Haddad (PT) prefeito de São Paulo na disputa contra o tucano José Serra. “Ninguém pode se considerar vitorioso nas eleições sem ganhar na principal cidade do país”, resumiu ao Correio um aliado da presidente. Ela voltará a São Paulo no sábado para mais um evento ao lado de Haddad. O comício seria na sexta, mas o PT preferiu trocar para não concorrer com o último capítulo de Avenida Brasil.

Dilma, então, vai a Salvador na sexta, atendendo ao pedido do governador Jaques Wagner (PT-BA), que queria ser o primeiro a receber a presidente no segundo turno. Problemas para a população ver, então, o desfecho da saga de Carminha e Nina? De jeito nenhum. O governo local marcou o comício para as 19h, com horário de término previsto para as 21h. Mesmo que haja atraso no evento, serão instalados telões no bairro de Cajazeirinhas, periferia da capital baiana, onde vivem 600 mil pessoas, para que os discursos de Nelson Pelegrino (PT) e Dilma não atrapalhem o derradeiro capítulo do atual fenômeno da dramaturgia brasileira.

Na segunda-feira, Dilma estará em Manaus para apoiar Vanessa Grazziotin (PCdoB). Antes mesmo da viagem, deu boas notícias à população ontem, durante audiência com o governador do Amazonas, Omar Aziz (PSD). O governo federal vai liberar R$ 276 milhões para a construção de um anel viário em Manaus e investirá R$ 175 milhões em sete novos aeroportos para o estado. Aziz tentou desvincular o pacote de bondades do período eleitoral. “Se a Vanessa ganhar a eleição, ou o Arthur (Virgílio, do PSDB), será em relação às propostas, àquilo que eles querem fazer pela cidade de Manaus. O meu apoio à senadora é um apoio político, porque ela faz parte do meu grupo”, desconversou.

Para evitar polêmicas com a base, a presidente não vai para as capitais em que dois aliados estiverem disputando o segundo turno — como Fortaleza. No Ceará, aliás, quem reforçará o palanque aliado é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, outro ator de peso nestas eleições. Além da capital cearense, o petista visitará João Pessoa e Salvador.

O giro da engrenagem presidencial a favor dos aliados nas eleições também alterou a configuração da Esplanada (veja arte). Entretanto, depois das mudanças no primeiro escalão para ajudar Fernando Haddad, Dilma está sendo mais cautelosa. A única sinalização é de que o PSD, quarto colocado em número de prefeitos eleitos no primeiro turno, deve ganhar uma pasta em 2013. Setores do PMDB pressionam para que seja aberta uma vaga para Gabriel Chalita em troca do apoio no segundo turno. “Se o PMDB quiser tirar um de seus ministros, tudo bem”, ironizou um governista. “Para que vamos oferecer ministério agora? Se Haddad perder, fazemos o quê? Pedimos a pasta de volta”? completou.

Programas O governo federal lançou, durante a campanha, uma série de programas e propostas que beneficiam o eleitorado mais carente e, por tabela, municiam os candidatos da base com material para propaganda. Em pleno feriado da Independência, Dilma anunciou a redução dos impostos na conta de energia elétrica, inclusive para os consumidores residenciais. Depois, sancionou o programa Brasil Carinhoso e definiu que as cotas sociais nas universidades públicas devem valer a partir do vestibular de 2013.

Emendas Dos R$ 343 milhões empenhados pelo governo federal para emendas individuais, propostas por deputados e senadores ao Orçamento deste ano, menos de 7% foram destinadas a partidos que se declaram oposicionistas — PSDB, DEM, PPS e PSol. Já o PMDB, o PP e o PT, nesta ordem, abocanharam a maior parte dos recursos, seguidos por PDT, PR, PSB e PTB.

Esplanada Dilma cedeu espaço a aliados na Esplanada para tentar alavancar a candidatura de Haddad. Primeiro, sob a desculpa de estancar a sangria de votos dos evangélicos no Congresso, nomeou Marcelo Crivella (PRB) para o Ministério da Pesca. Com o intuito de conter o ímpeto de Aloizio Mercadante de disputar as prévias do PT, indicou-o para a Educação. Ainda nomeou Marta Suplicy para a Cultura e já sinaliza que o PSD passará a integrar a Esplanada em 2013.

Palanques e gravações A presidente subirá em três palanques até o fim do mês. No primeiro turno, só tinha participado de eventos de campanha em São Paulo e em Belo Horizonte. Agora, voltará a São Paulo, além de viajar para Salvador e Manaus. Também gravou programas eleitorais para essas três capitais, além de João Pessoa, Campinas (SP), Garulhos (SP) e Santo André (SP).

Viagens ministeriais Os ministros estão liberados para fazer campanha fora do horário de expediente. Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Paulo Bernardo (Comunicações) trabalham para a vitória de Gustavo Fruet (PDT) em Curitiba. Alexandre Padilha (Saúde), Aloizio Mercadante (Educação), Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) também têm viajado para auxiliar os aliados. Na semana passada, Dilma levou quatro ministros a São Paulo para discutir as eleições com Lula.

Cofres abertos A seis dias do comício em Manaus, Dilma anunciou ontem, para o governador do Amazonas, Omar Aziz (PSD), a liberação de recursos para obras no estado e na capital manauara — Aziz apoia a candidata do PCdoB, Vanessa Grazziotin, contra o tucano Artur Virgílio. O governo repassará R$ 276 milhões para a construção do anel viário de Manaus, além de bancar a construção de sete aeroportos no estado, com preços que variam entre R$ 22 milhões e R$ 25 milhões.