O globo, n.31535, 09/12/2019. Mundo, p. 16

 

Brasil cancela ida de ministro à posse de Fernández 

Daniel Gullino 

09/12/2019

 

 

O ministro da Cidadania, Osmar Terra, não será mais enviado à posse de Alberto Fernández na Argentina, amanhã, por decisão do presidente Jair Bolsonaro. O Brasil será representado na cerimônia pelo embaixador em Buenos Aires, Sérgio Danese. A informação foi antecipada pelo jornal argentino “Clarín” e confirmada pelo GLOBO.

No início de novembro, Bolsonaro anunciou que o Brasil não enviaria ninguém à posse. Depois, no entanto, informou que Terra representaria o país. A vivência política do ministro na fronteira entre os dois países — Terra é gaúcho e foi prefeito de Santa Rosa —pesou para a escolha. O ministro também morou em Buenos Aires na década de 1970, durante a ditadura militar brasileira.

Bolsonaro e Fernández trocaram acusações mútuas durante a campanha eleitoral argentina. O presidente brasileiro — que torcia pela reeleição de Mauricio Macri, de centro-direita — ficou irritado quando o peronista, na noite de sua vitória, publicou um post no Twitter felicitando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por seu aniversário e pedindo a sua libertação. Fernández já havia visitado o ex-presidente quando ele estava preso em Curitiba.

— Não vou à posse de um cara que se elege falando Lula Livre, não vou — declarou Bolsonaro na ocasião, negando-se a parabenizar o eleito.

Mas nos últimos dias, o argentino fez acenos a Bolsonaro. Na quinta-feira, o presidente eleito se reuniu com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em Buenos Aires, e enviou uma mensagem de “respeito” e “apreço” ao brasileiro. Além disso, Daniel Scioli, escolhido para ser embaixador no Brasil, disse ao GLOBO que terá a missão de “aproximar posições” e “desestressar a relação”. Scioli, que participou da reunião com Maia, afirmou que no encontro os dois coincidiram na necessidade de “deixar os desencontros para trás”.

Bolsonaro, por sua vez, disse que teria um relacionamento pragmático com a Argentina, mantendo a boa relação comercial. A Argentina é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, depois de China e Estados Unidos, e o maior comprador de produtos industriais brasileiros.

Segundo o jornal Clarín, o presidente brasileiro teria ficado incomodado com a presença de dois deputados de esquerda na comitiva de Maia, que incluía Paulo Pimenta (PT-RS) e Orlando Silva (PCdoBSP), além de Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Baleia Rossi (MDB-SP) e Elmar Nascimento (DEM-BA).

Na sexta-feira, Bolsonaro também ironizou o economista Martin Guzmán, escolhido para ser ministro da Economia de Fernández. O presidente destacou em uma publicação no Facebook que Guzmán já recomendou um livro de Laura Carvalho, ressaltando que ela assessorou a última campanha presidencial do PSOL.