O Estado de São Paulo, n. 45996, 23/09/2019. Política, p. A6

 

Para Salles, críticas são 'desinformação'

Giovana Girardi

Paulo Beraldo

Beatriz Bulla

23/09/2019

 

 

Às vésperas da Assembleia-Geral da ONU, ministro do Meio Ambiente fala em ‘desmistificar’ visão internacional sobre governo Bolsonaro

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou que o Brasil quer “desmistificar” para a comunidade internacional, durante a Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU), que houve uma flexibilização da legislação ambiental durante o governo Bolsonaro. Segundo ele, é preciso esclarecer a situação da Amazônia e exaltar as oportunidades de investimento no País.

“(Queremos) Desmistificar essa falsa ideia de que houve um desmonte do sistema ambiental, de que houve flexibilização da legislação ou da fiscalização, de que o Brasil não se importa com meio ambiente. Não é verdade. Temos que esclarecer tudo isso para que essas mentiras ou desinformações não continuem a ser repetidas”, disse o ministro, que recebeu o Estado em um café no hotel onde está hospedado em Nova York.

A presença do ministro coincide com a greve do clima, que mobilizou milhares de jovens em 130 países na sexta-feira, e permeia a Cúpula do Clima, que acontece hoje, e a AssembleiaGeral das Nações Unidas, que será aberta amanhã com discurso do presidente Jair Bolsonaro.

Ontem, um grupo de empresários brasileiros e organizações não governamentais promoveram em Nova York um evento no qual lançaram um desafio para construir o que chamam de “Amazônia Possível”. O evento, voltado para pedir que o setor empresarial se comprometa a combater crimes ambientais em suas cadeias – a fim de conter o desmatamento na Amazônia – teve a presença de Salles. O ministro pediu para participar da discussão.

A presença do governo federal não estava prevista, mas Salles pediu para participar. Por uma hora e meia, escutou e tomou notas do que disseram pessoas como o empresário Guilherme Leal, cofundador da Natura e integrante do Conselho do Pacto Global da ONU, Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), e o cientista Carlos Nobre, da USP.

‘Monalisa’. Ao final do evento, Sallesf oi convidado ase pronunciar. André Guimarães, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia e facilitador da Coalizão Brasil Clima Florestas e Agricultura, que mediou o diálogo, pediu mensagens “inspiradoras” do ministro. Salles lembrou declarações dos participantes, mas não chegou ase comprometer com soluções.

“Vamos salvara Monalisa como faz ermais, melhor ”, disse em referência a uma fala de Denise Hills, diretora de Sustentabilidade da Natura. Ela afirmou que o País está “queimando” sua “Monalisa”, ao dizer que a Amazônia é o tesouro do Brasil. O ministro também disse que a chave é conseguir ambas as coisas: proteção do ambiente com desenvolvimento.

Durante sua manifestação, alguns participantes chegaram a sair da sala em protesto e dois jovens da organização Engajamundo fizeram uma manifestação silenciosa com máscaras no rosto que diziam: “Salles, ecocida”.

Salles disse ao Estado que se tivesse espaço, gostaria de poder falar na Cúpula do Clima da ONU. O programa não inclui o Brasil entre os países que terão direito a discursar. A cúpula foi convocada pelo secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, para que os países sejam mais ambiciosos nos projetos de preservação.

O presidente Jair Bolsonaro desembarca na segunda-feira às 16h40 (horário de Brasília) em Nova York. Até o momento, a agenda do presidente está limitada à realização do discurso, marcado para as 10h de amanhã. A indígena Ysani Kalapalo, moradora de uma aldeia no Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso, irá acompanhar a comitiva brasileira. Ela foi convidada pelo presidente para viajar com a comitiva do governo aos EUA.

De acordo com o Itamaraty, ainda não está na agenda oficial um jantar com o presidente americano, Donald Trump, anunciado por Bolsonaro. O americano receberá chefes de Estado em um jantar na noite de segunda-feira.

O presidente brasileiro ainda se recupera de uma cirurgia feita no último dia 9. A equipe médica do Planalto acompanhará Bolsonaro na viagem. 

“(Queremos) Desmistificar essa falsa ideia de que houve um desmonte.”

Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, em referência à Amazônia

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'Me dá pena pelo Brasil', afirma Bahelet sobre fala de Bolsonaro

23/09/2019

 

 

Comissária para Direitos Humanos da ONU diz a TV chilena ver ‘redução do espaço cívico e democrático’ no País

Alvo de crítica recente do presidente Jair Bolsonaro, a comissária para Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile, disse sentir “pena pelo Brasil”.

A declaração foi feita em uma entrevista para uma emissora de TV local, conforme reportou a agência de notícias Reuters. A fala remete ao ataque feito por Bolsonaro contra Bachelet e seu pai, Alberto Bachelet, torturado e morto durante a ditadura de Augusto Pinochet.

“Então se alguém diz que em seu país nunca houve ditadura, que lá nunca houve tortura... Bem, então deixe ele dizer que a morte do meu pai por tortura garantiu que o Chile não se transformasse em uma Cuba. A verdade é que eu sinto pena pelo Brasil”, afirmou a ex-presidente do Chile em entrevista à TVN.

No início do mês, Bolsonaro acusou Bachelet de se “intrometer” em assuntos do Brasil, após ela levantar preocupações sobre o salto no número de mortes provocadas pela polícia do Rio de Janeiro.

Nas redes sociais, o presidente brasileiro afirmou que o golpe militar que derrubou o presidente chileno Salvador Allende em 1973 “deu um basta” à esquerda no país, “entre esses comunistas o seu pai (Alberto Bachelet), brigadeiro à época”.

‘Restrições’. Na entrevista, Bachelet também disse ter observado (no Brasil) “uma redução do espaço cívico e democrático, caracterizado por ataques contra defensores dos direitos humanos” e “restrições impostas ao trabalho da sociedade civil”.

Na ocasião, a fala de Bolsonaro provocou rechaço de setores de esquerda e direita no Chile.

Ao Estado, o chanceler chileno, Teodoro Ribera, disse que Bachelet merece respeito mesmo estando em um campo ideológico oposto ao dele, e lembrou que, no Chile, há uma grande unidade sobre a questão dos direitos humanos.