Título: Alianças na lógica paroquial
Autor: Almeida, Amanda
Fonte: Correio Braziliense, 25/10/2012, Política, p. 6

O segundo turno une partidos e candidatos que não costumam caminhar juntos. Em seis capitais, legendas da base do governo apoiam nomes da oposição. Em cinco, ocorre o contrário

O segundo turno das eleições municipais uniu, em 11 capitais, partidos antagônicos no plano nacional. O quadro de alianças na reta final da campanha mostra que, em alguns casos, as legendas dispensam a lógica das afinidades políticas e ideológicas e optam pelo pragmatismo e pela conjuntura local. Em seis das 17 capitais que ainda não escolheram seu próximo prefeito, legendas da base de sustentação da presidente Dilma Rousseff (PT ) decidiram se aliar a candidatos de partidos de oposição ao governo federal. O contrário — oposição aderindo à campanha de candidatos de partidos governistas — ocorre em cinco delas. Apesar do argumento de que as alianças locais respeitam mais o contexto político de cada cidade e que, por isso , nem sempre respeitam o alinhamento nacional, os partidos também levaram em consideração, nos acordos do segundo turno , as eleições presidenciais. Potencial candidato ao Palácio do Planalto em 2014, o senador mineiro Aécio Neves (PSDB), por exemplo, quer atrair o apoio do PSB, uma das legendas que mais cresceram neste pleito, para o seu lado . Com várias possibilidades no horizonte — manter-se na base de Dilma em troca de mais espaço na aliança com o PT , fazer o vice em uma chapa tucana ou alçar voo solo —, o presidente nacional da legenda, governador Eduardo Campos, retribui o flerte sem demonstrar preferências. Além do namoro em algumas das 50 cidades que vão eleger o prefeito em segundo turno, PSB e PSDB se uniram em uma capital. Em Manaus, o PSB decidiu apoiar o tucano Arthur Virgílio na briga contra o PCdoB de Vanessa Grazziotin, partido dos mais fiéis da base do governo federal. “É o princípio da reciprocidade. O PSDB é um grande parceiro em outras cidades, como em Belo Horizonte, onde atuou fortemente pela reeleição do prefeito Marcio Lacerda (PSB)” , justifica o secretário nacional do PSB, Carlos Siqueira. Ele aponta também a “ aproximação política ” como um dos fatores que são considerados pelos socialistas para se ligar a candidatos de outras legendas no segundo turno. Para Siqueira, o exemplo mais emblemático de que eleição municipal tem uma lógica própria é a aliança entre PT e PSDB em mais de 300 cidades neste pleito. Só nas capitais é que não houve casos de união entre os dois partidos . Embora ignorem o PT nos principais colégios eleitorais, os tucanos se juntaram, em Natal, à maior legenda aliada do governo petista. Na capital potiguar, pedem voto para o peemedebista Hermano Moraes. Por outro lado, o PSDB também recebe apoios de partidos base: em São Paulo, uma parte do PDT , liderada pelo presidente da legenda no estado, Paulinho da Força, aderiu à campanha do ex-governador José Serra (PSDB). Segundo o ministro do Trabalho, Brizola Neto, uma união “individual” , que não tem o aval da direção nacional dos trabalhistas.

PT x PSDB

Secretário-geral do PSDB, o deputado feder al Rodrigo de Castro repete Siqueira e justifica a troca de apoio entre antagônicos pela lógica local. “Na maioria dos casos, as eleições municipais giram em torno da disputa entre nomes fortes nas cidades. O eleitor nem sempre leva em conta o partido ” , acredita ele. Mas quando o assunto é o PT , prevalece a rivalidade nacional. Em Cuiabá, houve racha entre os tucanos depois que uma parte do partido decidiu apoiar Lúdio (PT ). Castro enviou carta à direção municipal da legenda desautorizando a aliança. “Não nos interessa pactos com o PT . Nesse caso, não havia nem contexto local. Uma briga interna motivou o apoio de alguns filiados aos petistas” , alega o deputado. Disputas estaduais também entraram nas articulações para o segundo turno. Com a pretensão de se candidatar ao governo da Bahia em 2014 — r ivalizando com o PT —, o ex-ministro e vice-presidente da Caixa Econômica Geddel Vieira Lima trabalhou para que o PMDB fechasse apoio ao deputado federal Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM), em Salvador. A torcida é para que o PT saia enfraquecido com uma der-rota de seu candidato , Nelson Pellegrino . O candidato derrotado do PMDB no primeiro turno, Mário Kertész, não concordou, deixou o partido e, agora, pede votos para Pellegrino. Nos bastidores, o PT avalia que, em eleição municipal, o apoio do candidato derrotado pesa mais que o do partido .

Belém

Na capital do Pará, a briga em torno de alianças no segundo turno foi inusitada. A crise começou quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT ) gravou um vídeo de apoio para a campanha de Edmilson Rodrigues, do PSol, que concorre com Zenaldo Coutinho, do PSDB. Insatisfeita com a declaração de apoio de Lula, parte do PSol paraense anunciou o rompimento com a candidatura do próprio partido. Em nota, afirmando que “todos os limites foram ultrapassados” pela legenda ao aceitar a adesão de Lula. “ Assim, levam nosso partido para a vala comum da base aliada do governo Dilma/Temer e da ordem estabelecida, cujo maior representante é Lula ” , registra o documento .

Lula chama ACM Neto de mentiroso

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador da Bahia, Jaques Wagner , participaram, na tarde de ontem, de uma carreata de apoio ao candidato do PT à prefeitura de Salvador , Nelson Pelegrino. Em um discurso de cerca de 20 minutos, no bairro de Paripe (subúrbio da cidade), o ex-presidente chamou o candidato do DEM, ACM Neto, de mentiroso por dizer que o Bolsa-Família nasceu do Fundo de Combate à Pobreza, programa criado pelo avô dele, o senador e ex-governador Antônio Carlos Magalhães — o ACM. Depois do comício, Lula, que fará 67 anos no sábado, seguiu para Cuiabá. ACM Neto, que lidera as pesquisas de opinião em Salvador , respondeu à acusação pedindo respeito à memória do avô, “ que não está mais aqui para se defender”. Em um comício na Baixa do Tudo (periferia da cidade), ACM Neto disse que o Bolsa-Família “ é do povo, o PT não é dono do dinheiro público”.