O globo, n.31369, 26/06/2019. País, p. 10

 

Doria critica autódromo em Deodoro e reage a Bolsonaro 

Silvia Amorim 

26/06/2019

 

 

Em primeiro embate político com presidente, governador paulista diz que só se chega ‘de cavalo’ a bairro carioca

Foram necessários pouco mais de seis meses de governo para que o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria, protagonizassem o primeiro embate político tendo como pano de fundo a eleição de 2022. No centro do confronto não está nenhuma questão de governo, mas o futuro da Fórmula 1 no Brasil a partir de 2021.

O que era para ser uma discussão comercial entre os organizadores do evento virou uma batalha política com Bolsonaro e Doria em lados opostos. A disposição em medir forças ficou mais evidente ontem depois de Doria reagir às declarações do presidente do dia anterior.

Em entrevista em São Paulo ao lado do CEO mundial da F-1, Chase Carey, o governador paulista desqualificou o que Bolsonaro havia dito sobre a mudança do GP Brasil em 2021 para o Rio. Com ironia, afirmou não haver sequer local adequado para a corrida na capital fluminense.

—Não tem estrada para chegar lá. Só a cavalo. Aluguem um helicóptero ou um drone —disse Doria.

—Lamento frustrar o presidente Bolsonaro do ponto de vista de que 99% da decisão está tomada. A decisão não está tomada e vocês acabaram de ouvir isso aqui do CEO da Fórmula 1 —prosseguiu o tucano.

Anteontem, o presidente participou de reunião com Casey e o governador Wilson Witzel e declarou que a mudança da Fórmula 1 para o Rio estava “99%” garantida. A frase fez Doria ser alvo de ataques nas redes sociais por uma eventual saída do evento de São Paulo.

O governador é o principal nome do PSDB para a

Presidência daqui quatro anos. Bolsonaro passou a sinalizar na semana passada que pode concorrer à reeleição. Por mais de uma vez, Doria insinuou que Bolsonaro agiu com intenções eleitorais anteontem:

—Não estou fazendo disputa institucional, política nem eleitoral. Não é essa a intenção de São Paulo. Tenho respeito pelo presidente mas é meu dever defender o estado de São Paulo. Quem deve defender o Brasil é o presidente Bolsonaro. Não sou presidente.

No dia anterior, Bolsonaro tinha colocado Doria numa saia-justa ao provocá-lo a se declarar candidato ao Planalto. Ele comentou: “parece que quer ser presidente”.

WITZEL SE MANIFESTA

Doria negou que a disputa em torno da sede da Fórmula 1 tenha azedado a relação com o presidente. Até ontem, entretanto, eles não haviam se falado.

Aliados do governador estão divididos quanto ao embate. Os mais desconfiados das intenções de Bolsonaro avaliaram que o tucano tem mais a perder do que ganhar com o debate precoce sobre 2022. Outros apoiaram a reação de Doria e disseram que o presidente cometeu um erro político, porque acreditam que o GP continuará em São Paulo.

O governador do Rio, Wilson Witzel, entrou no embate e rebateu Doria:

—Por isso, o Rio de Janeiro elegeu Wilson Witzel governador. Vai ter autódromo, estrada, heliponto e policial bem pago —disse, reafirmando que o GP virá para o Rio.

O contrato da Fórmula 1 com a prefeitura de São Paulo termina em 2020. Carey disse ontem que pretende tomar uma decisão em breve, sem dar prazo. (Colaborou Paulo Cappelli).