O globo, n.31368, 25/06/2019. País, p. 06

 

Julgamento sobre liberdade de Lula no STF fica para agosto 

Carolina Brígido 

Jailton de Carvalho

25/06/2019

 

 

Pedido feito pela defesa do ex-presidente também aponta parcialidade de Moro; Cármen nega ter decidido adiamento

O julgamento de um pedido de liberdade apresentado pela defesa do ex presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estava previsto para ser analisado hoje na Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), foi adiado. Como a Corte entrará em recesso em julho, o caso só poderá ser reagendado a partir de agosto.

A ministra Cármen Lúcia, embora assuma o comando da turma hoje, divulgou nota ontem à noite negando ser a responsável pela retirada. Ela afirmou que cabe ao ministro relator ou ao que pediu vista solicitar a inclusão ou não de habeas corpus na pauta. O ministro Gilmar Mendes foi quem fez o pedido de vista nesse caso.

Antes da retirada de pauta, diante de notícias de que o julgamento não deveria acontecer, a defesa de Lula havia entrado com um pedido para que o caso fosse tratado como prioridade. Os advogados ressaltam que o ex-presidente já está preso há 443 dias — e, portanto, o processo deveria ser analisado antes do recesso.

No habeas corpus, a defesa alega que o então juiz Sergio Moro, hoje ministro da Justiça, atuou com parcialidade no processo do tríplex do Guarujá, que resultou na condenação e na prisão de Lula. O caso começou a ser julgado no ano passado, quando dois ministros da Segunda Turma votaram contra a libertação de Lula: o relator da Lava-Jato, Edson Fachin, e Cármen Lúcia. Ambos argumentaram que o habeas corpus não é o processo adequado no caso.

BASTIDORES: OUTRA SAÍDA

Gilmar Mendes havia interrompido o julgamento com um pedido de vista, para analisar melhor o caso. No último dia 10, o ministro liberou o processo. Além dele, ainda votarão os ministros Ricardo Lewandowski e Celso de Mello.

Em outro habeas corpus, que também constava da pauta de hoje, os advogados recorreram da decisão do ministro Felix Fischer, do STJ, de negar o benefício ao ex-presidente. Como essa decisão de Fischer já foi confirmada pela Quinta Turma do STJ, havia poucas chances se Lula conseguir liberdade nesse processo. O mais provável é o pedido ser considerado prejudicado — o que, em linguagem jurídica, equivale a dizer que o caso não poderia mais ser julgado pelo Supremo. Esse habeas corpus também foi retirado da pauta.

Nos bastidores, ministros comentam que o ideal seria o destino de Lula ser definido por instâncias inferiores, e não pela mais alta Corte do país. Está pendente no Superior Tribunal de Justiça (STJ) o julgamento do pedido da defesa para progressão de pena de Lula. Os advogados alegam que o ex-presidente já teria direito de ser transferido para o regime aberto. Esse pedido só deve ser analisado no próximo semestre.

A defesa de Lula apresentou o pedido ao STF quando Moro aceitou o convite do então presidente eleito Jair Bolsonaro para comandar o Ministério da Justiça. Moro era juiz e atuava na 13ª Vara Federal de Curitiba. Em 2017, condenou Lula na Lava-Jato. A decisão foi confirmada em 2018 e resultou na prisão do ex-presidente. Ele está na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba desde abril de 2018.

Depois que o site The Intercept Brasil divulgou diálogos atribuídos a Moro e ao procurador da República Deltan Dallagnol, a defesa de Lula pediu para o caso ser levado em consideração no julgamento. Nas conversas, os dois teriam tratado de combinações sobre investigações da Lava-Jato. Moro e Dallagnol negam a autenticidade das mensagens.

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Líder do governo: ida de Moro à CCJ é 'dispensável'

Daniel Gullino

25/06/2019

 

 

A líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), afirmou nesta segunda-feira que um depoimento do ministro da Justiça, Sergio Moro, na Câmara dos Deputados é "dispensável" porque ele já "respondeu tudo o que tinha que responder" no Senado, na semana passada, sobre as mensagens divulgadas pelo site "The Intercept Brasil". Moro havia se comprometido a comparecer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara na próxima quarta-feira, para falar sobre o mesmo assunto, mas desmarcou no domingo a ida.

— Ele já foi sabatinado oito horas no Senado. Então duvido que alguém tenha deixado passar alguma pergunta. Vai ser mais do mesmo. Do ponto de vista do cuidado do tempo e do trabalho do ministro, eu acho que é dispensável. Porque ele já respondeu tudo o que tinha que responder — afirmou Joice, depois de uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto.

Joice, contudo, defendeu que o ministro tente agendar uma nova data, para evitar que os deputados aprovem uma convocação — o que tornaria sua presença obrigatória.

— Não falei com o ministro Moro a respeito disso ainda, mas vamos ver se a gente consegue apaziguar um pouquinho e transformar essa convocação em convite de novo. É possível. O ministro pode ter uma agenda que não está batendo com a agenda da CCJ, mas com uma boa conversa a gente tenta.

O ministro marcou as audiências no Senado e na Câmara assim que o caso veio à tona com o objetivo de enfraquecer as iniciativas da oposição de propor uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) com base nas conversas divulgadas pelo "The Intercept Brasil". A assessoria de imprensa do ministro informou que ele não poderá comparecer à Câmara devido a uma viagem aos Estados Unidos, mas disse que "nova data será definida com a Câmara".

Havia a expectativa de um clima mais hostil em relação ao ministro na Câmara. Deputados do PT afirmam que Moro deixou várias perguntas sem resposta no Senado e prometiam uma atitude mais incisiva.

Apoiadores de Moro também previam um clima diferente na Câmara, mas acreditavam que o ministro não teria problemas. Um dos deputados lamentou a decisão de Moro em adiar a presença afirmando que, desta forma, ele fica mais exposto a novas publicações, em vez de encerrar o assunto de vez no Congresso.