Correio braziliense, n. 20511, 18/07/2019. Opinião, p. 11

 

Telemedicina, o futuro começou ontem

Claudio Lottenberg

18/07/2019

 

 

Estamos no fim da segunda década do século 21. Uma época de inovações, que mudou por completo a relação de consumo, seja de serviços, seja de produtos. Acessibilidade, mobilidade, apropriação tecnológica e inclusão formam o motor por trás desse novo mundo que construímos diariamente.

As tecnologias recentes surgiram da necessidade de um novo consumidor, mais informado e engajado, que busca por serviços convenientes, customizados e acessíveis para atender os seus anseios. Percebemos que as próprias aspirações da sociedade estão mudando, e a qualidade de vida passou a ser um fator determinante. E é dentro dessa esfera — da qualidade de vida — que a saúde deve trabalhar.

A telemedicina, modelo de atendimento de sucesso em muitos outros países, surge nesse cenário no Brasil, e proporciona uma alternativa de atendimento ao paciente de forma rápida, eficiente, cômoda e segura. O atendimento virtual oferece a possibilidade, antes restrita a poucos, de a pessoa ser atendida por um médico que segue as melhores práticas assistências e que, se julgar necessário, a indicará para um atendimento presencial. Isso gera inclusão, ao encurtar distâncias graças aos avanços da tecnologia.

Posso citar vários exemplos de nações que melhoraram e ampliaram o alcance de seus sistemas de saúde graças ao atendimento virtual, como Canadá, México, Colômbia, Austrália e diversos países europeus. Ou a Malásia que, em 1997 (no século passado!), regulamentou a telemedicina. Entretanto, vou me restringir a Israel, Estados Unidos e Japão.

Conhecido como startup nation, Israel é o país que concentra a maior média de empresas de tecnologia por habitante. Não surpreende que seu sistema de saúde seja quase totalmente digital. Lá, a telemedicina foi implementada em 1992 e hoje vai além, com numerosas soluções inovadoras sendo desenvolvidas simultaneamente. Apenas para citar uma: o TytoCare, um kit de instrumentos que permite que exames comuns de garganta, ouvidos, olhos, pele e pulmões sejam realizados em casa e transmitidos ao vivo para um médico.

Mas quero destacar o que é feito no Moma (centro de saúde multidisciplinar fundado em 2012 pela Maccabi HealthCare Services) que, desde sua criação, atendeu mais de 20 mil pessoas com uma ampla gama de condições e evitou idas desnecessárias ao pronto-socorro ou ajudou e monitorou a aplicação de um medicamento, mesmo a distância.

Nos Estados Unidos — onde a Associação Americana de Telemedicina (ATA), fundada em 1993, conta, hoje, com 400 organizações —, uma pessoa pode buscar, agendar e pagar uma consulta por aplicativo e conversar com um médico em tempo real. Há dispositivos para os mais diversos fins, como para realizar eletrocardiogramas, medir a pressão arterial ou para facilitar a coordenação do cuidado à distância — como o projeto que foi desenvolvido com foco em um grupo de pessoas muito querido entre os americanos: os veteranos de guerra (CCHT, na sigla em inglês).

No Japão, a telemedicina é usada para atender moradores de ilhas distantes ou de áreas rurais desde 1997. A partir de 2015, com a reforma da lei do sistema de saúde, ficou amplamente disponível para toda a população. Antes disso, ainda, uma plataforma de monitoramento remoto ajudou médicos a rastrear o risco de estresse cardíaco entre os sobreviventes do terremoto de 2011. Com uma das populações de maior longevidade no planeta, o Japão estrutura o próximo passo: liberar a consulta on-line sobre remédios entre pacientes e farmacêuticos, como reflexo da crescente demanda por cuidados médicos domiciliares.

É fato que toda nova tecnologia cria a necessidade de um diálogo, o que é benéfico e importante. No entanto, não podemos segurar um avanço tecnológico e privar o Brasil de participar desse futuro que se desenha hoje. (...)

» Claudio Lottenberg

Mestre e doutor em oftalmologia, presidente do UnitedHealth Group Brasil e do Instituto Coalizão Saúde