Correio braziliense, n. 20520, 27/07/2019. Economia, p. 7

 

Vagas temporárias devem crescer 10% com FGTS

Rodolfo Costa

27/07/2019

 

 

Conjuntura » Liberação escalonada do fundo, a partir de setembro, se somará ao pagamento do 13º salário e, segundo o presidente da União Nacional das Entidades de Comércio e Serviços, deve estimular as vendas e, consequentemente, as contratações

A injeção de recursos na economia com a liberação de saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do PIS-Pasep deu uma chacoalhada no varejo. Tamanho é o ânimo entre os empresários, que representantes do setor apontam para uma geração de empregos temporários 10% superior ao do ano passado. É o que estima o presidente da União Nacional das Entidades de Comércio e Serviços (Unecs), George Pinheiro. Em 2018, a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) — um dos braços da Unecs — estima que foram criados cerca de 60 mil postos. Ou seja, neste fim de ano, devem ser contratados 66 mil trabalhadores.

O cálculo de 10% não tem, ainda, embasamento da equipe econômica da Unecs ou de entidades representantes, como a CNDL. É uma estimativa feita por Pinheiro a pedido do Correio. O presidente da entidade, que representa setores que respondem por cerca de 15% do Produto Interno Brasileiro (PIB), justifica o incremento: “A liberação do FGTS e do PIS-Pasep começa em setembro e será escalonada, se estendendo ao longo do ano. Soma-se a isso o pagamento do 13º salário”.

A geração de empregos temporários pode ser ainda maior, a depender do otimismo dos empresários. Afinal, a liberação dos recursos do FGTS vai durar até o primeiro trimestre de 2020. Fora isso, os empresários acreditam que o governo apresentará outros pacotes de estímulo à economia. “Dentro dessa expectativa, mas com muito pé no chão, podemos estimar esses 10% a mais de contratação temporária. Mas estamos falando de um movimento que vai começar a acontecer dentro de uma expectativa muito boa para o setor terciário. Como estamos com números ruins, a gente estima que isso vai dar um upgrade”, destacou.

O pagamento do 13º desponta como outro fator de otimismo. Em 2018, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) estimou a injeção de R$ 211,2 bilhões na economia com o salário extra. Mantido um estímulo dessa grandeza e somados os R$ 28 bilhões do FGTS e os R$ 2 bilhões do PIS-Pasep, circularão na atividade econômica cerca de R$ 241 bilhões ao longo do último quadrimestre do ano. A consequência, segundo Pinheiro, deve ser crescimento de vendas no Natal superior aos 2,66% registrados pela CNDL em 2018. “Estagnado não vai ficar, nem registrar queda nas vendas”, ponderou.

PIB

Além da expectativa em relação aos estímulos à demanda, Pinheiro atribui a confiança à previsão de melhora nas projeções de PIB nos próximos meses. O varejo como um todo deve sair ganhando, mas a previsão é de que os recursos gastos no comércio com os R$ 500 do FGTS serão usados primordialmente no setor de eletroeletrônicos, como celulares.

“Há uma campanha muito grande de usar os aparelhos e mudar por equipamentos mais novos. É desejo da pessoa se sentir atualizado”, adiantou o presidente da Unecs. Produtos semiduráveis, como peças de vestuário, e não duráveis, como alimentos, também estarão entre os produtos demandados. “Claro, vai ter sempre compra de roupas, de alimentos, de mudar um pouco o alimento que compra normalmente por categorias premium”, acrescentou.

O segmento de bares e restaurantes — um dos mais representativos do setor de serviços — será um dos mais beneficiados nos próximos meses. Sobretudo pela previsão de o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, de pacificar o regime de trabalho intermitente — modalidade que remunera o trabalhador por horas trabalhadas. A promessa foi feita pelo ministro ao secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho.

Intermitente

A ideia é pautar o quanto antes o julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 6154, que questiona no STF o trabalho intermitente. Derrubada a ação e dando mais segurança jurídica ao empresariado, o presidente da Associação Brasileira de Bares e Supermercados (Abrasel), Paulo Solmucci estima, que 30 mil vagas de trabalho podem ser criadas no país no último trimestre do ano, sendo que, aproximadamente, metade podem ser postos temporários.

Também por consequência, a expectativa é de crescimento no volume de receitas. Para este ano, a projeção é de um avanço entre 5% e 10% acima da alta de 1,5% registrada em 2018. “Muitos especialistas estão subestimando o tamanho da injeção de recursos no PIB. Mas no setor de bares e restaurantes isso será expressivo. Embora R$ 500 pareça pouco, 40% das pessoas que estão com nome negativado devem o equivalente a esse valor. Limpando o nome, elas terão mais espaço no orçamento para consumir”, destacou Solmucci.

A confiança dos varejistas tem fundamento. O economista Marcos Ferrari, ex-secretário de Planejamento e Assuntos Econômicos do governo Michel Temer e um dos idealizadores do saque das contas inativas do FGTS, em 2017, calcula que o saque imediato de até R$ 500 previstos na MP vai estimular o pequeno varejo. “A população de baixa renda que precisa usar esse dinheiro para pagar as contas ou fazer a compra do mês será a mais beneficiada”, explicou. (Colaborou Rosana Hessel)

Confiança em alta no setor de construção

 

 

O Índice de Confiança da Construção (ICST), medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), subiu 2,6 pontos de junho para julho deste ano. Essa foi a segunda alta consecutiva do indicador. Com o resultado o ICST chegou a 85,4 pontos, em uma escala de zero a 200 pontos, e voltou ao nível observado em dezembro de 2018. A alta do índice foi influenciada tanto pela melhora da situação corrente quanto pelas expectativas do curto prazo. O Índice da Situação Atual cresceu 1,5 ponto e chegou a 75,1 pontos, e o de Expectativas subiu 3,5 pontos, passando para 96 pontos. A demanda prevista nos próximos três meses cresceu 2,3 pontos e a tendência dos negócios nos próximos seis meses aumentou 4,7 pontos.

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Saque de R$ 500 será mantido

Bernardo Bittar

27/07/2019

 

 

O presidente Jair Bolsonaro disse ontem, antes de embarcar para Goiânia, que considera difícil que o Congresso Nacional modifique a MP 889, que trata das regras de saque do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Ele mantém a decisão de limitar as retiradas a R$ 500 para “preservar os recursos” do programa Minha Casa Minha Vida.

Entretanto, diz que se o Legislativo resolver “majorar o valor” terá “todo direito”. “Se, na ponta do lápis, eles falarem que não será atingida a construção de casas populares no Brasil, não tem problema, está certo? Depende deles mostrarem. Matemática não tem como fugir, né? Matemática, pelo que eu aprendi até hoje, dois e dois são quatro e ponto final”, disse

De acordo com o presidente, a medida procurou atender 82% das pessoas que têm saldo abaixo de R$ 500. “Alguns falam que atendi o interesse de construtoras. Não. Atendi o interesse do povo, não majorando isso, porque temos que ter recursos para continuar o programa Minha Casa Minha Vida, que é muito importante para quem não tem onde morar. Essa que é a nossa intenção”, afirmou.

Na quarta-feira, o governo federal anunciou a liberação de saques de contas ativas e inativas do FGTS e do PIS-Pasep, que em dois anos deve injetar na economia R$ 42 bilhões.

No Rio, onde fez palestra na Associação Comercial, o ministro da Economia, Paulo Guedes, destacou que, diferentemente da liberação do FGTS ocorrida durante o governo Michel Temer, a de agora beneficiará até 100 milhões de pessoas e permitirá que pessoas mais pobres possam ter um salário extra todo ano. “Vai ser como um 14º salário para quem tem salário mais baixo”, explicou.

Reforma tributária

Além das questões ligadas à liberação do fundo, Bolsonaro falou sobre a mudança nos tributos. Segundo ele, a reforma tributária que o governo vai propor tratará apenas da unificação de impostos federais. Deixará de fora o Impostos sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que é estadual, e o Imposto sobre Serviços (ISS), municipal. “Vamos tratar, pelo acertado até agora, para que vocês não digam que eu recuei depois: atingirá apenas impostos federais”, disse.

Nas duas Casas do Congresso, propostas estão sendo retomadas. Tanto na Câmara quanto no Senado, os projetos preveem uma unificação que engloba, também tributos de estados e municípios.