Valor econômico, v.20, n.4750, 15/05/2019. Empresas, p. B2

 

Eletrobras retoma venda de parques eólicos em junho

Rodrigo Polito

15/05/2019

 

 

Depois de reportar um lucro quase três vezes maior no primeiro trimestre de 2019 na comparação anual, devido aos efeitos da venda de distribuidoras deficitárias, a Eletrobras vai retomar em junho o processo de venda de participações minoritárias em sociedades de propósito específico (SPEs). O novo modelo será baseado no decreto 9.188/2017, sobre a governança na venda de ativos de estatais, o mesmo adotado pela Petrobras em seu programa. A capitalização da holding elétrica, por sua vez, ainda não está confirmada.

"Não desistimos de vender. Entendemos que temos ativos que podem ser bastante importantes para o posicionamento financeiro da Eletrobras. Essas 45 SPEs complementam as que foram vendidas no ano passado", afirmou ontem o presidente da elétrica, Wilson Ferreira Júnior, em teleconferência com analistas e investidores sobre o resultado do primeiro trimestre. Dessas 45 SPEs, 43 são relativas a parques de geração de energia eólica.

Segundo Ferreira, o processo de venda deve ser aprovado pelo conselho de administração no fim deste mês para ser lançado em junho. A expectativa é que as vendas ocorram no segundo semestre.

Ferreira explicou que a Eletrobras vai realizar o processo de venda baseado no decreto 9.188, de novembro de 2017, adotado pela Petrobras em seus processos de desinvestimento. O decreto estabelece regras de governança, transparência e boas práticas de mercado para a adoção de regime especial de desinvestimento de ativos pelas sociedades de economia mista federais. Na teleconferência, porém, não ficou claro se o processo de venda das SPEs da elétrica será feito em etapas, igual ao da Petrobras, ou por meio de um leilão, como foi realizado pela Eletrobras no ano passado.

Participando de Nova York, onde cumpre agenda de reuniões com investidores, Ferreira não fez menção ao plano de capitalização da Eletrobras, cuja nova versão está em estudo pelo governo. O assunto também não foi questionando pelos analistas.

No fim da reunião, o executivo disse apenas que a empresa continuará com o desafio de aumentar a produtividade e concluir empreendimentos. Segundo ele, essas são condições básicas para retomar a capacidade de investimentos e uma "eventual capitalização".

A empresa fechou o primeiro trimestre deste ano com lucro líquido consolidado de R$ 1,347 bilhão, com alta de 178% em relação a igual período do ano passado. Na mesma comparação, o lucro líquido atribuído a sócios da empresa controladora mais que triplicou (alta de 205%), para R$ 1,4 bilhão.

O crescimento foi fortemente motivado pela venda das distribuidoras. Não que tenha entrado recursos significativos no caixa da companhia, já que cada distribuidora foi vendida pelo preço simbólico de R$ 50. Mas a Eletrobras deixou de ter perdas com elas.

De acordo com a companhia, as operações descontinuadas da empresa haviam registrado prejuízo de R$ 1,91 bilhão no primeiro trimestre de 2018, montante que diminuiu para um prejuízo de R$ 223 milhões nos primeiros três meses deste ano.

Concluída em março, a venda da Ceal, distribuidora do Alagoas adquirida pela Equatorial, gerou um ganho de R$ 859 milhões para a Eletrobras pela reversão do patrimônio líquido negativo da distribuidora.

A companhia também estima que a conclusão da venda da Amazonas Distribuidora de Energia, a mais problemática das distribuidoras, no mês passado, vai gerar ganhos de R$ 5,3 bilhões neste segundo trimestre.

Ontem, Ferreira também afirmou que a Eletrobras vai recuperar o volume de investimentos ao longo do ano, após ter realizado um baixo valor de desembolsos no primeiro trimestre. "Vamos recuperar investimentos", disse.

De janeiro a março, a companhia investiu apenas R$ 501 milhões, 43% a menos que o aplicado em igual período do ano passado, de R$ 875 milhões. O investimento nos primeiros três meses de 2019 representam apenas 8% do orçamento da empresa para este ano, de R$ 5,7 bilhões.

Segundo Ferreira, o valor menor de aportes no primeiro trimestre foi provocado principalmente pela não realização de um investimento de R$ 70 milhões em um complexo eólico, além de uma economia de R$ 88 milhões no "overhaul" (revisão) do complexo termelétrico de Candiota, além de menos R$ 155 milhões em investimentos previstos em transmissão da Chesf.

Sobre o projeto da usina nuclear de Angra 3, o executivo contou que a empresa terá R$ 500 milhões em debêntures de infraestrutura para o empreendimento. Os recursos fazem parte da emissão de R$ 5 bilhões em debêntures anunciada em abril.

A expectativa do executivo é aprovar o modelo de parceria e lançar a concorrência internacional para a definição do sócio estrangeiro para retomar as obras da usina até o fim deste ano. A previsão é que Angra 3 inicie a operação em janeiro de 2026.