Correio braziliense, n.20706, 31/01/2020. Brasil, p.6

 

Mais de mil leitos disponíveis

Maria Eduarda Cardim

31/01/2020

 

 

Coronavírus » Apesar da rede pública de hospitais de referência, Ministério da Saúde dá início a licitação para colocar mais vagas em unidades com capacidade de atendimento a pacientes infectados. Dependendo da necessidade, a quantidade pode ser ampliada

O Ministério da Saúde anunciou ontem que alugará mil leitos de UTI para reforçar alguns dos hospitais de referência contra o coronavírus. Até o momento, 45 unidades constam da lista que a pasta divulgou, na quarta-feira, mas que pode sofrer alterações, incluindo ou excluindo outros complexos hospitalares. O acréscimo de vagas para tratamento, anunciada no mesmo dia em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou emergência global, é mais uma etapa na preparação para manter o controle da situação. Nenhum caso de coronavírus foi confirmado no Brasil — nove são considerados suspeitos. 

“É bem provável que vamos precisar de um acréscimo na oferta de leitos de UTI. Então, na quarta-feira, o ministério começou a abrir uma licitação para colocar mais mil nos hospitais que são referência no atendimento de pacientes com coronavírus”, afirmou o secretário executivo do ministério, João Gabbardo, no balanço diário sobre a evolução da contaminação. Ele assegurou que, se for necessário, a quantidade de novos leitos pode ser ampliada.

“Esses hospitais poderão receber esses leitos de acordo com a necessidade de cada um, compatível com a demanda que vai aparecer. À medida que nós precisarmos de um reforço em determinados locais, esses terão prioridade na ocupação (das vagas)”, completou. Sem dizer quanto custará ao ministério a ampliação de leitos, Gabbardo disse que uma internação de UTI custa de R$ 15 mil a R$ 20 mil mensais.

O número de casos suspeitos de coronavírus no Brasil se manteve estável entre quarta-feira e ontem. De acordo com o último boletim divulgado pela pasta, há nove casos possíveis do novo vírus no Brasil, mas nenhum foi confirmado.

Apesar de o número ter se mantido, ocorreram algumas mudanças. Dois casos de Santa Catarina, que antes eram considerados suspeitos, foram descartados por meio de exames. Outros dois, do Rio Grande do Sul, passaram à condição de suspeitos. Um deles veio de uma nova notificação recebida; outro deixou de ser um caso excluído e passou a ser suspeito devido a mudanças clínicas do paciente.

As hipóteses de contaminação estão sendo monitoradas em Minas (1), Rio de Janeiro (1), São Paulo (3), Rio Grande do Sul (2), Paraná (1) e Ceará (1). O ministério recebeu 43 notificações para investigação de possível relação com a infecção pelo coronavírus. Desses, nove são suspeitos, seis descartados por apresentarem resultado laboratorial de outros vírus respiratórios e 28 excluídos por não se encaixarem na definição de caso suspeito.

Emergência global

Gabbardo também disse, na coletiva, que a mudança de avaliação da OMS para a situação — agora é emergência global — era esperada. “Já esperávamos essa mudança, até mesmo antes”. O secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, acredita que o novo status da OMS não mudará as medidas tomadas pelo ministério.

“Nossas ações já estão alinhadas, inclusive prevendo esse escalonamento da emergência internacional. Mas teremos que ver que medidas a OMS está recomendando”, explicou.

De acordo com Wanderson, o que mudaria a situação no Brasil seria a confirmação de um caso. A partir disso, é declarada emergência de saúde pública, coisa que o país só fez uma vez, durante a epidemia de zika vírus, em 2015.

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Mãos limpas evitam propagação

Augusto Fernandes

31/01/2020

 

 

Em razão de não haver nenhuma vacina ou tratamento específico para este novo coronavírus, a principal forma de se proteger contra a doença é a higiene pessoal. Em entrevista ao Correio, a infectologista do Hospital Brasília Camila Magalhães explicou que manter as mãos constantemente limpas com álcool ou água e sabão são cuidados indispensáveis.

“São medidas básicas, mas que fazem toda a diferença. Principalmente porque uma das formas de transmissão desse vírus é pelo contato interpessoal. Por meio de um espirro ou de uma tosse, uma pessoa infectada pode contaminar outra. Portanto, também é recomendável sempre cobrir nariz e boca nessas situações. Além disso, não compartilhar pratos, talheres e copos com pessoas suspeitas de estarem contaminadas são medidas preventivas importantes”, explicou a infectologista.

De acordo com Camila, qualquer sintoma que remeta à doença provocada pelo coronavírus, como febre, tosse e dificuldade para respirar, deve servir de alerta. Assim que algum desses indícios for constatado, buscar assistência médica é fundamental.

“Qualquer pessoa que se enquadrar no quadro clínico de suspeição deve procurar atendimento. Os casos devem ser notificados. Quanto antes isso acontecer, melhor. Afinal, com a notificação, é possível ser feito um teste de laboratório e, a partir daí, ter o manejo mais adequado para o diagnóstico estabelecido pela equipe médica”, detalhou.

A infectologista também destacou que “o espectro da doença é bem amplo, mas são poucos casos que evoluem com gravidade”. “A importância é de tentar minimizar a transmissão do vírus para outras pessoas imunossuprimidas, como crianças, idosos, gestantes ou aqueles com alguma comorbidade, que é quando a defesa do corpo já não é tão eficaz quanto precisaria”, acrescentou Camila.

Para ela, o Brasil tem totais condições para enfrentar o coronavírus, visto que o país é equipado com bons laboratórios centrais e em vários estados é possível identificar se alguém está contaminado pelo vírus mediante biologia molecular.

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Produto chinês sem problemas

31/01/2020

 

 

O secretário executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, afirmou que não há motivos ou decisão sobre possíveis bloqueios a chineses ou produtos importados do país. Segundo ele, um possível bloqueio seria discutido com os ministérios da Justiça e das Relações Exteriores.

"Não temos nenhum motivo e nenhuma decisão para fazer bloqueio. Isso pode mudar, mas essa decisão não vai ser tomada exclusivamente pelo Ministério da Saúde. Vai ser interministerial, pois envolve outros aspectos além de saúde", adiantou.

De acordo com diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Júlio Croda, os relatos são de que o vírus apresenta risco de contaminação por 24 horas, o que dificulta a chegada no Brasil.

"Não existe nenhum risco de contaminação de produtos vindos do país", disse.

A China é o epicentro do novo vírus. De acordo com o balanço do Ministério da Saúde, foram confirmados 7.736 casos da doença naquele país e 170 mortes foram registradas. Há ainda suspeitas em relação a 12.167 pacientes.


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Turismo se previne

Gabriel Pinheiro

31/01/2020

 

 

Setores da economia acompanham de perto a disseminação do coronavírus, no Brasil e no exterior. Apesar de o Ministério do Turismo confirmar que o governo federal vem acompanhando de perto a evolução do agente biológico, já há quem preveja efeitos por aqui.

Victor Beirute, economista da Guide Investimentos, destaca que o problema é alarmante para os países asiáticos, mas não crê em impacto econômico profundo no Brasil. “O dólar tende a aumentar com as percepções de risco”, lembrou, acrescentando que a moeda americana já atrapalha as viagens dos brasileiros. Ontem, fechou em R$ 4,26 por causa do noticiário relacionado ao avanço do agente biológico em todo o mundo.

Magda Massar, presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagens (Abav), acredita que é muito cedo para analisar se a doença vai ter algum grande impacto no turismo. "Não tivemos nenhum tipo de cancelamento ou questionamento com os nossos clientes. Claro que não recomendamos, nesse momento, que os turistas e viajantes vão até lá".

Ela explica que a China não é um local prioritário para o brasileiro. Acrescenta que o viajante que normalmente visita aquele país se organizou por muito tempo e possui recursos para adiar a viagem. "Normalmente, esse cliente quer um destino mais exótico e pode, sem problema, escolher outros similares. Os clientes não estão se sentindo ameaçados, porque não é uma viagem muito procurada".

Aline Silvério, de 37 anos, é agente de viagens na Open Air Travel, em Brasília. Diz que, num próximo momento, haver uma onda de desistências de viajar para a China e para a Ásia. “Eu alertaria para que não fossem agora”.

Ela participa de um grupo com várias agências de viagens e já soube de um caso de desistência de um cliente que estava querendo visitar a China. “Se o bilhete tivesse sido emitido, seria um prejuízo para a agência, pois tem multa quando cancelados”.

A Latam informou que avalia com atenção o tema, mas que ainda é cedo para fazer qualquer prognóstico. Explicou que está em contato direto com a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), uma organização comercial global que reúne mais de 290 companhias aéreas. Acrescentou que está “preparada para trabalhar com as autoridades de saúde pública”.

O Correio procurou a Embaixada da China para saber a quantidade média de vistos mensais, de trabalho e de turismo, é emitida. Mas, até o fechamento desta edição, não obteve resposta.