Correio braziliense, n. 20798 , 02/05/2020. Cidades, p.17

 

Casos em cidades da Ride chegam a 100

Jéssica Eufrásio

02/05/2020

 

 

CORONAVÍRUS » Os 33 municípios que compõem a Região Integrada de Desenvolvimento do DF e Entorno começaram o mês com 10 mortes pela Covid-19

As mortes causadas pelo novo coronavírus começam a atingir mais cidades próximas da capital federal. Na última semana, Águas Lindas (GO) e Novo Gama (GO) tiveram as primeiras mortes pela Covid-19. Na segunda cidade, a vítima, uma mulher de 74 anos, chegou a ser transferida para o Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), mas não resistiu. Ontem, os 33 municípios goianos e mineiros que compõem a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride) iniciaram maio com 100 registros e nove óbitos confirmados oficialmente (veja Total).

Mesmo comunicado pelas secretarias de Saúde do Distrito Federal e do município de Novo Gama — a 40km do centro de Brasília —, o caso da paciente de 74 anos não consta no balanço mais recente de Goiás, divulgado ontem à tarde. A pasta estadual (SES-GO) informou que ainda não havia sido notificada sobre a morte e destacou que, embora tenha ocorrido no DF, a notificação acontece no município de residência da vítima.

Em 23 de abril, a idosa chegou a uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) do Novo Gama com quadro de insuficiência respiratória. Depois de ficar em observação por algumas horas na sala vermelha e de os sintomas se agravarem, a paciente foi entubada e levada para o HRSM. O resultado positivo para Covid-19 saiu no último domingo. Na quinta-feira, a mulher morreu. Um dia antes, o marido dela, de 75 anos, foi levado para a mesma unidade de saúde com insuficiência respiratória.

Em Águas Lindas — a 50km do Plano Piloto — a primeira morte ocorreu na terça-feira, mas só foi divulgada ontem. A vítima, um homem de 63 anos, estava internada no Hospital Estadual de Urgências de Goiânia (Hugo), onde faria uma cirurgia devido a uma fratura. No entanto, em 23 de abril, começou a apresentar sintomas respiratórios. O resultado do exame para detecção da Covid-19, feito enquanto o paciente estava hospitalizado, deu positivo.

Ampliação

Superintendente de Atenção à Saúde da SES-GO, Sandro Rodrigues explicou que o estado tem atuado em duas frentes de atendimento. Na primeira, há disponibilidade no hospital de campanha da secretaria, no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), na Maternidade da Região Oeste — que ganhou leitos para pacientes com Covid-19 — e em 10 leitos privados que foram contratados.

A segunda, de acordo com Sandro, inclui hospitais de campanha em diferentes partes de Goiás. “Estamos em fase de organização desses hospitais em Luziânia e Formosa. Todo o processo foi iniciado. Acreditamos que eles devem começar a funcionar nas próximas semanas”, disse.

O superintendente também afirmou que o governo estadual tem ampliado o número de leitos e trabalhado com estudos para acompanhar a evolução da doença. “Todos os leitos de Goiás são para todos os habitantes daqui. Em Luziânia, haverá mais 20 de UTI (unidade de terapia intensiva); em Formosa, mais 10. E tem a questão do Hospital de Campanha de Águas Lindas, cuja administração será cedida para o governo de Goiás e receberá até 200. São todos leitos novos, para não prejudicar a rede”, detalhou Sandro.

Nas quatro cidades mineiras da Ride, não houve registro de mortes. Até ontem, só Unaí registrou casos confirmados da Covid-19: o total chegou a oito. Na quinta-feira, a Secretaria de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) informou que a taxa de ocupação de leitos clínicos e de UTI por pacientes com a doença ou suspeita dela era de 4%, com 551 internados em todo o estado. “A secretaria dispõe de 11.622 leitos clínicos e 2.013 leitos de UTI, mais 50 leitos da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais”, ressaltou em nota oficial. A pasta não deu detalhes sobre iniciativas ou leitos nas cidades da Ride.

Governança

Para o professor Edilson Biaz, do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília (UnB), a proximidade entre municípios da Ride e o DF torna inevitável o atendimento de demandas de uma região na outra. “É preciso lembrar que alguns desses locais são cidades-dormitório e que, no Distrito Federal, há um movimento pendular, com pessoas que vêm para trabalhar e voltam no fim do dia. E a área da saúde pode ter sobrecarga. Hospitais do Gama e de Santa Maria, por exemplo, recebem muita gente do Novo Gama, Valparaíso, Cidade Ocidental. O mesmo ocorre em Brazlândia, com pacientes de Águas Lindas, ou em Sobradinho e Planaltina, com Planaltina de Goiás”, exemplificou.

Edilson destacou que, em um momento de pandemia, mais do que nunca é importante que haja uma governança compartilhada. “A Ride foi instituída com uma lei complementar de 1998. Ela buscava criar uma região em que fosse feito o planejamento integrado entre todos os municípios, mas, infelizmente, a coisa não caminhou nesse sentido. Existe uma carga muito grande, principalmente nas áreas da saúde e da educação”, destacou.

Em relação às iniciativas de isolamento social, Edilson considera necessário pensar na estratificação dos espaços, de modo que as medidas sejam estudadas regionalmente. “Os municípios podem começar a fazer avaliação a partir do número de casos registrados em cada um deles. Mas ela deve ser contínua e em picos curtos”, argumentou. “Sabemos que não há como impor determinações do DF para essas regiões, mas é preciso entrar em contato e tentar estabelecer protocolos que possam servir e atender aos dois lados.”

O secretário de Desenvolvimento da Região Metropolitana do DF, Paulo Roriz, afirmou que tem atuado junto a prefeituras de cidades vizinhas, principalmente nas áreas de saúde e educação. “Quase não temos tido problemas em relação à pandemia na região do Entorno. A não ser um caso ou outro. Com a inauguração do hospital de campanha, achamos que todos os problemas serão resolvidos”, afirmou.

Questionado sobre os riscos de colapso do sistema de saúde, o secretário falou que a medida mais importante para evitar esse problema é respeitar o isolamento social e permanecer em casa. “O (governador de Goiás, Ronaldo) Caiado e o (governador do DF) Ibaneis (Rocha) estão com tudo muito bem encaminhado e definido para o Entorno. Por isso, acreditamos que a pandemia na região será com pouca incidência”, completou Roriz.

O Correio perguntou ao Ministério da Saúde como estão as obras do Hospital de Campanha de Águas Lindas e em quanto tempo ele deve ficar pronto, mas não teve retorno da pasta até o fechamento desta edição.

Total

» Goiás

Total de municípios        246

Total de casos   808

Total de óbitos 29

» Municípios goianos da Ride

Cidades               29

Casos confirmados         92

Óbitos  9

» Minas Gerais

Total de municípios        853

Total de casos   1.935

Total de mortes               88

» Municípios mineiros da Ride

Cidades               4

Casos confirmados         8

Óbitos  0

Fontes: Secretarias de estado de Saúde de Goiás e de Minas Gerais; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dados de 1º/5/2020