Correio braziliense, n. 20799 , 03/05/2020. Mundo, p.12

 

Liberdade vigiada

03/05/2020

 

 

Espanhóis passeiam e praticam esportes após 49 dias de confinamento, mas com restrições. País planeja relaxamento progressivo até o mês que vem. Em outras nações da Europa e nos Estados Unidos, o fim do distanciamento social também começa com cautela

Os espanhóis saíram para passear ou praticar esportes, ontem, após 49 dias trancados em suas casas, enquanto o fim do confinamento da população em outras partes da Europa e dos Estados Unidos começou com cautela, à medida que a pandemia do novo coronavírus vai perdendo força.

Em Madri, perto do grande parque do Retiro, que ainda está fechado, muitos habitantes foram dar uma volta, alguns em grupos, segundo a agência de notícias France Press. A Espanha planejou, para até o fim de junho, uma saída progressiva do confinamento. Além disso, o chefe de governo, Pedro Sánchez, anunciou a obrigatoriedade do uso de máscara de proteção nos transportes públicos a partir de amanhã. Ele acrescentou que o governo distribuirá 6 milhões de unidades no país, nesta segunda, e dará outros 7 milhões para prefeituras e províncias, para que sejam entregues à população.

Até então, os espanhóis podiam sair de casa apenas para ir trabalhar — caso o trabalho remoto fosse impossível —, comprar comida, ir à farmácia, ao médico ou fazer pequenos passeios com cães. A partir de agora, os cidadãos devem respeitar faixas de horário, para evitar multidões e manter distantes crianças e idosos, que não poderão sair nos mesmos intervalos. A tarde é reservada para os menores de 14 anos, que podem sair acompanhadas por um adulto.

Em outros países europeus, como Itália e Alemanha, os governos também vão relaxando, gradualmente, as medidas de confinamento — uma decisão que continua subordinada à evolução do número de mortos e dos casos de infecção, e que exige medidas de proteção e distanciamento social dos cidadãos. O objetivo é evitar uma segunda onda de infecções. “A partir de segunda-feira (amanhã), depende de vocês”, advertiu na Itália o chefe da Defesa Civil, Domenico Arcuri, pedindo à população que “não baixe a guarda” durante a saída do confinamento. Os italianos poderão passear pelos parques e visitar seus familiares, após dois meses de quarentena.

Avanço

A suspensão das restrições está bem avançada na Áustria e em países escandinavos, que continuam impondo, porém, “medidas de barreira” e distanciamento social. Ontem, em Viena, o clima era de animação nas ruas, com a reabertura de todas as lojas.

O Reino Unido — onde o pico da pandemia foi atingido, de acordo com o primeiro-ministro, Boris Johnson — prometeu um plano para o fim do confinamento para a próxima semana. O país é o segundo mais afetado na Europa em número de mortes, depois da Itália.

Já o governo da França decidiu, ontem, prolongar até 24 de julho o estado de emergência sanitária em vigor no país. A suspensão do estado de emergência em 23 de maio “seria prematura” e “os riscos de recuperação da epidemia” são “comprovados em casos de interrupção súbita das medidas em andamento”, justifica o projeto de lei examinado, ontem, no conselho de ministros e que deve ser apresentado a partir de amanhã ao Parlamento.

O texto especifica, principalmente, as condições de quarentena impostas àqueles que chegam à França e estão infectados com o vírus. Também aponta para a implementação de um “sistema de informação” que afeta os doentes e seu entorno por até um ano. O objetivo é “reforçar o quadro jurídico” e “expandi-lo” para “integrar os desafios do desconfinamento”, que deve começar em 11 de maio, disse o ministro da Saúde, Olivier Véran. “Vamos ter de conviver com o vírus por um tempo”, enfatizou. “Aprender a conviver com o vírus: esse é o desafio dos próximos meses”, reiterou o ministro do Interior, Christophe Castaner. O novo coronavírus causou 24.760 mortes na França, de acordo com o último balanço oficial, divulgado ontem. Nas últimas 24 horas, foram 166 óbitos.

Férias

Na China, onde quase não há mais infecções locais, começaram, ontem, as primeiras férias desde o surgimento da pandemia. Em Pequim, foi reaberta a Cidade Proibida, embora de uma maneira mais limitada do que o habitual.

Nos Estados Unidos, o país mais afetado pela pandemia no mundo, os estados também estão avançando na suspensão das medidas de confinamento. Para revitalizar a economia, mais de 35 dos 50 estados começaram a suspender — ou estão prestes a fazê-lo — o distanciamento social. O Texas, por exemplo, reabriu lojas, restaurantes e bibliotecas na sexta-feira, desde que operem com 25% da capacidade.

Frase

“Devemos manter o distanciamento social, os níveis máximos de higiene e as máscaras. Fizemos o melhor que poderíamos. A partir de segunda-feira, dependerá de vocês. Imploro, não baixem a guarda”

Domenico Arcuri, chefe da Defesa Civil da Itália

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Premier da Nova Zelândia, mais bem-avaliada

03/05/2020

 

 

Os cidadãos dos países europeus mais afetados pela pandemia da Covid-19 são os mais pessimistas e menos satisfeitos com a ação de seus governos para enfrentar a crise sanitária, segundo uma pesquisa internacional divulgada ontem.

Entre os habitantes de sete países ouvidos pelo Instituto Ipsos para um centro de pesquisa política francês, o Cevipof, e parceiros internacionais, os franceses, britânicos e italianos são os que pior classificam seus dirigentes e se mostram mais pessimistas. O mais mal-avaliado é o presidente francês, Emmanuel Macron, cuja gestão não satisfaz a 42% dos franceses e que recebeu nota 4,1 (em uma escala de 0 a 10).

No topo da classificação está a premier da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, que recebeu nota 7,8 e apenas 7% de descontentes. Ela é seguida pelo chefe de governo da Áustria, Sebastian Kurz, que teve nota 6,8 (11% de insatisfeitos), e pela chanceler alemã, Angela Merkel, com 6 (20% de insatisfeitos).

É também na França onde a gestão da crise pelo governo tem a taxa mais elevada de insatisfeitos (62%), contra 9% na Nova Zelândia. Itália, 45% “não satisfeitos”; Reino Unido, 39%; Suécia, onde não houve confinamento, 30%.

À pergunta “o seu governo lidou melhor com a crise do que a maioria dos países?”, um total de 43% dos franceses respondeu que não, e 12% concordaram. Na Nova Zelândia, 3% disseram “não”, e 85%, “sim”.

Pessimismo

O índice de pessimismo em relação ao futuro do país é inversamente proporcional à confiança nos dirigentes: 43% na França se dizem pessimistas (12% otimistas) e 6% na Nova Zelândia. (Itália 34%, Reino Unido, 29%). Qualquer que seja o nível de otimismo, a grande maioria dos entrevistados acredita que as consequências da pandemia são graves tanto para a saúde quanto para a economia.

Alemães, franceses, italianos e austríacos também foram questionados sobre seu grau de satisfação frente à forma como a União Europeia (UE) lidou com a crise do novo coronavírus. Mesmo na Alemanha, onde se registrou a maior proporção de satisfeitos (25%), a nota da UE em uma escala de zero a 10 foi 4,8. Caiu para 3,2 na Itália, país mais severo com a UE (8% satisfeitos; 51%, descontentes).

As pesquisas foram feitas em sete países (França, Alemanha, Reino Unido, Itália, Áustria, Suécia e Nova Zelândia), entre 16 e 24 de abril, com amostras representativas de cerca de mil pessoas ou mais em cada nação, entrevistadas remotamente por meio do Access Panel da Ipsos.