O globo, n. 31695, 17/05/2020. Economia, p. 25

 

Nada sera como antes

17/05/2020

 

 

As forcas que moldam o mundo pos-pandemia

Lamenta-se informar, mas o mundo pós-coronavírus terá muito a ver com… a quarentena. Impostas pelo trauma sanitário, soluções que viabilizaram o consumo, o trabalho, o ensino e o transporte durante o isolamento social devem moldar o futuro, após a pandemia, com o planeta ainda obcecado por assepsia, fragilizado pela recessão e habituado à comodidade da casa. Educação, saúde e trabalho serão cada vez mais remotos. O consumo será intermediado por tecnologias que reduzem o contato ao mínimo, como e-commerce ,realidades virtual e aumentada, pagamentos por aproximação e até drones.

As viagens de avião serão cada vez mais raras, caras, curtas e penosas, interrompendo a popularização do turismo. Nos restaurantes, os garçons mais parecerão enfermeiros, servindo mesas distantes umas das outras, e sempre reservadas com antecedência. Essas são algumas das tendências identificadas por empresários e especialistas ouvidos pelo GLOBO em meio ao exercício que estão fazendo para imaginar quais transformações no cotidiano serão legadas pela maior crise em várias gerações. E como os negócios terão ques e adaptara elas. Algumas mudanças serão estruturais. Se apeste acelerou o fim da Idade Média e a epidemia de SARS normatizou a tecnologia na China da década passada, o novo coronavírus marcará a reversão

da globalização e o aumento das desigualdades, avalia Alfredo Pinto, chefe da Bain & Company na América do Sul:

— Estamos convictos de que o coronavírus será apá de cal( sobre a globalização). Se ela já vinha se desacelerando com aguerra comercial entre EUA e China, agora passará por uma reversão. Com as dificuldades nas cadeias de suprimento hoje, muitas empresas buscarão alternativas mais locais. A disponibilidade ganhará ascendência sobre a eficiência. O comportamento das pessoas é oquem ove a economia. Com mais gente trabalhando, estudando, cozinhando e comprando decas a,a tendência é de desestímulo ao adensamento urbano. Isso mudará, portanto, acara das cidades, o que embute risco de aumento da exclusão social. Aumentará o clamor por uma solução para o saneamento básico.

Os meios de transporte terão que ser repensados com passageiros mais avessos a aglomerações. Para que isso não estimule o veículo individual, modais públicos terão que receber investimentos e se tornar mais eficientes enquanto alternativas sustentáveis, como a bicicleta, ganharão impulso. Mais pobres e sensibilizados pelo drama coletivo da pandemia, os consumidores serão mais assertivos na hora de comprar, privilegiando produtos e serviços que conjuguem preço, eficiência e responsabilidade social. Ainda assim, muitas vezes, o consumo será sacrificado pelo“faça você mesmo” de uma classe média reconciliada, a contragosto ou não, como lar, o fogão e a vassoura.