Título: Na ofensiva final, sete reféns mortos
Autor: Walker, Gabriela
Fonte: Correio Braziliense, 20/01/2013, Mundo, p. 20

O Exército argelino entrou ontem no complexo de exploração de gás Tiguentourine, na cidade argelina de In Amenas, no que foi chamado de “ofensiva final”. Dezesseis pessoas foram libertadas e ao menos 18 morreram durante o último dia da investida militar contra os extremistas islâmicos. “O Exército argelino matou 11 terroristas e o grupo islamita assassinou sete reféns”, anunciou a imprensa estatal.

Apesar do fim trágico da operação resgate, o presidente da França, François Hollande, elogiou a iniciativa. “A Argélia teve uma abordagem que, a meu ver, é a mais adequada porque não poderia haver uma negociação”, disse Hollande.

Horas após o término da ofensiva, o governo argelino divulgou o número oficial de vítimas do sequestro. Nos três dias de ocupação, morreram 23 reféns e 32 terroristas islâmicos. De acordo com o levantamento feito pelo Ministério do Interior, ainda de caráter provisório, as forças de segurança conseguiram libertar 685 funcionários argelinos e 107 estrangeiros.

Os radicais que arquitetaram a operação terrorista se identificam como parte de uma facção da Al-Qaeda, conhecida como Signatários de sangue e exigiram a retirada da ajuda francesa do Mali, onde diversos grupos islâmicos tentam dominar o país. Comandantes da facção chegaram a propor a libertação dos reféns em troca da soltura de presos em território norte-americano, o que foi descartado pela Casa Branca.

Enquanto soldados realizavam uma varredura nas instalações, em uma busca por explosivos e rebeldes ainda escondidos, presidentes e chefes de governo de países da África Ocidental se reuniram na capital da Costa do Marfim, Abidjan, para discutir a situação do norte do continente. Os governantes cobraram mais engajamento internacional contra a ameaça terrorista.

“Chegou o momento para um envolvimento mais amplo das grandes potências e de um número maior de Estados e organizações nas operações militares”, defendeu Alassane Ouattara, presidente da Costa do Marfim e da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO). Na sexta-feira, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas condenou o ataque terrorista em uma declaração aprovada por todos os 15 membros e pediu a todos os países que ajudem as autoridades argelinas.

Mali Rebeldes que dominavam a cidade de Diabali, a 400km da capital Bamaco, fugiram após enfrentarem ataques diários das forças franco-malinesas, segundo agências de notícias. Se confirmado que a cidade não está mais nas mãos dos extremistas, essa será a segunda vitória desde a chegada dos franceses, há nove dias. Na noite de quinta-feira, os insurgentes abandonaram a cidade de Konna, distante 550km de Bamaco. Ontem, Hollande voltou a afirmar que manterá tropas na região até que ela esteja livre do terrorismo.

O conflito já obrigou centenas de pessoas a abandonarem seus lares e espalha medo por todo o território. De acordo com Maria Grosz-Ngaté, diretora do Programa para Estudo Africanos da Universidade de Indiana, a maior parte da população é contra as investidas dos grupos islâmicos. Moradores do norte do Mali fugiram para o sul e para países vizinhos quando os grupos armados aumentaram sua presença no país, conta ela. “Além da imposição da sharia, a falta de recursos e mantimentos — que chegavam na região norte vindos do sul — dificultou ainda mais a vida da população, que já vivia com uma infraestrutura muito debilitada”, ressaltou, em entrevista ao Correio.