Título: Batendo no limite
Autor: D´Angelo, Ana
Fonte: Correio Braziliense, 22/01/2013, Economia, p. 9

As prestações dos financiamentos para a compra de imóveis, principalmente dos mais novos, não estão cabendo no bolso de parte da classe média. A quantidade de casas e apartamentos prontos financiados pelos bancos com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) — em geral, para famílias com renda superior a R$ 5,4 mil — registrou queda em 2012, em relação a 2011. Com isso, os preços permanecem praticamente estáveis há mais de um ano, principalmente no Distrito Federal. No caso de imóveis novos, as construtoras foram obrigadas a reduzir os valores pedidos inicialmente para desovar as unidades na planta, além de segurar os novos lançamentos.

O Índice FipeZap de Preços de Imóveis Anunciados, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), mostra valorização média de 4% no Distrito Federal em 2012, mas com queda de preço em vários meses. O indicador reflete apenas a variação dos valores que estão nos anúncios classificados, não aqueles pelos quais os negócios são realmente fechados, em geral, mais baixos, segundo o mercado.

Os dados preliminares da Associação Brasileira de Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), que reúne todos os bancos que concedem crédito pelo SBPE, apontam diminuição em torno de 7% do total de unidades contratadas no ano passado. Esse recuo foi influenciado pela retração no mercado de imóveis novos, pois houve crescimento do setor de usados, mais baratos proporcionalmente, por serem mais antigos.

O diretor de vendas da Êxito Imobiliária, Alexandre Lucho Langer, afirmou que o desaquecimento no mercado do DF foi ainda mais expressivo, e vem ocorrendo há um ano e meio. "Com o boom que houve até meados de 2011, grande parte das pessoas que tinham condições de comprar imóvel foi atendida e já se endividou", observou. Segundo ele, os lançamentos no Noroeste, que estavam na casa dos R$ 11 mil o metro quadrado, são encontrados hoje, facilmente, por R$ 8 mil.

Uma venda, que antes levava em torno de três meses, não é fechada em menos de cinco, disse. "O momento está bom para comprar, pois o consumidor pode decidir com calma, além de os juros estarem menores", afirmou Langer. Na semana passada, a Caixa Econômica Federal reduziu as taxas para o patamar de 8,3% e 8,9% ao ano, no caso de imóveis acima de R$ 500 mil.

Dívida maior O montante financiado pelos bancos, porém, manteve a trajetória de crescimento dos últimos anos, embora em ritmo menor, pois os compradores tiveram que contrair dívidas mais altas para adquirir o teto próprio. O valor médio financiado passou de R$ 162 mil, em 2011, para 180 mil, em 2012. Em 2008, era bem menor, de R$ 100 mil.

Depois de altas recordes, de 42,2% em 2011 e de 65% em 2010, o crédito liberado fechou 2012 com crescimento bem inferior, em torno de 6%. A previsão era de que o total liberado no ano passado dentro do SBPE atingisse R$ 95 bilhões, mas ficará pouco acima de R$ 80 bilhões, bem abaixo da previsão inicial de avanço de pelo menos 20%. Para este ano, a expectativa é de que a concessão também tenha alta, entre 15% e 20%, já que se espera desempenho melhor da economia do país.

O presidente da Abecip, Octavio Lazari Junior, afirmou que 2012 foi um ano de arrumação do mercado imobiliário, que veio de períodos anteriores muito fortes. "Por conta desse crescimento muito elevado, as construtoras lançaram empreendimentos muito acima da capacidade de produção e de entrega", afirmou, citando a queda de 32% no total de lançamentos em relação a 2011.

Lazari admitiu que os preços altos dos imóveis afetaram a demanda. Ele destacou, no entanto, que o custo mais elevado também se deve ao perfil dos imóveis lançados, com muitos benefícios, como suítes, área de lazer ampla, incluindo piscinas, quadra de esportes, espaço gourmet, entre outros.