Título: Efeito lei seca deixa estradas mais seguras
Autor: Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 15/02/2013, Brasil, p. 7

O carnaval 2013 foi o menos violento nas estradas nos últimos 10 anos. A quantidade de mortos em rodovias federais entre a zero hora de sexta-feira e a meia-noite da quarta-feira de cinzas chegou a 157, número 18% inferior às 192 mortes do carnaval do ano passado. O número de feridos também caiu — de 2.207 para 1.793, variação de 19%. Para autoridades da área, o saldo divulgado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) já é reflexo da fiscalização mais rigorosa da lei seca e da maior conscientização da sociedade em relação à segurança no trânsito. Quase 2 mil motoristas perderam a habilitação depois de flagrados dirigindo embriagados. Em relação aos acidentes que resultaram na morte dessas 157 pessoas, apenas sete casos estão ligados ao consumo de bebidas alcoólicas por parte dos condutores.

Para o coordenador de operações da PRF, José Roberto Barroso, o balanço aponta para uma mudança no perfil da mortalidade nas estradas. A média histórica, segundo ele, é de 10% de óbitos relacionados ao abuso de álcool nas estradas federais e de 20% no total de vias do país. No carnaval deste ano, esse índice caiu para 4,5% nas BRs. O coordenador aponta a falta de atenção como um dos principais motivos das ocorrências com mortes (22% dos casos). Em seguida, vem a ultrapassagem indevida. Para Barroso, isso explica o fato de 70 pessoas terem perdido a vida em decorrência de colisões frontais. “Apesar disso, a ingestão de álcool continua sendo uma causa importante, que deve ser combatida”, destaca o agente.

Os números da polícia rodoviária não deixam dúvida. Durante o carnaval, 86,2 mil testes de bafômetro foram aplicados, com resultado positivo para 1.055 motoristas, dos quais 607 foram presos. A detenção ocorre quando o nível de álcool é superior a 0,34 mg por litro de ar expelido dos pulmões. Se o motorista se recusar a soprar o etilômetro, mas o agente de trânsito constatar a embriaguez, devidamente registrada em vídeo ou por testemunhas, o motorista também pode ser levado à delegacia policial. Das 2.013 carteiras de habilitação apreendidas no período, 1.932 são de motoristas enquadrados na lei seca.

Para o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, as regras mais rígidas da legislação para coibir a mistura de bebida com direção, em vigor desde o fim do ano passado, facilitaram o trabalho dos agentes de trânsito neste carnaval. “A lei seca vem contribuir efetivamente para que as fiscalizações fossem mais efetivas. Tivemos também o trabalho focado em pontos críticos previamente levantados pela PRF. Sem falar na atuação conjunta com as polícias estaduais”, disse Cardozo. Para ele, a legislação modificou o hábito de quem costumava beber, mesmo em pequena quantidade, e depois dirigir.

“Hoje, menos famílias no Brasil choram depois do carnaval pelos mortos no trânsito”, constatou o ministro. Embora o efetivo durante o carnaval tenha contado com 50% a mais de policiais em relação a um dia normal, e 20% na comparação com o ano nterior, Cardozo garantiu que a fiscalização reforçada continuará. “Se alguém pensa que o rigor vai acabar com o carnaval, esqueça. O rigor continua”, prometeu.

Mesmo quando se considera a frota do país, que cresce, em média, 12% ao ano, o número de mortos nas estradas é o menor da última década. Em 2004, foram registrados 4 mortos por grupo de 1 milhão de veículos; este ano, o índice ficou em 2,1/milhão de carros em circulação. Devido à grande malha rodoviária e a um fluxo maior de veículos, os estados com mais registros de mortes durante o carnaval foram Minas Gerais (29), Bahia (18) e Rio Grande do Sul (14). O Paraná se destacou no ranking da lei seca, com 9.516 testes aplicados e apenas 207 autuações e 66 presos.