Título: Petistas minimizam importância do PSB
Autor: Lyra, Paulo de Tarso ; Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 07/03/2013, Política, p. 4

Caciques do PT avaliam que não há espaço para uma terceira força política nas eleições e que a ruptura com socialistas seria ruim, mas não "desastrosa"

O PT ainda espera contar com a permanência do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), na coalizão da presidente Dilma Rousseff em 2014. Mas o partido não fará sacrifícios para impedir que o socialista se lance candidato a presidente no ano que vem. “A coalizão com o PSB é ótima. Sem ele, não é tão desastrosa assim”, disse um dos caciques do partido. O Palácio do Planalto, por exemplo, já dá como certa as pretensões presidenciais de Eduardo, com base em uma matéria publicada pelo Correio. “Ninguém contrata o publicitário Duda Mendonça para ser candidato ao Senado”, disse um aliado da presidente Dilma.

Eduardo Campos esteve ontem no Planalto, em um evento da presidente Dilma para anunciar a liberação de R$ 33 bilhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Os recursos serão destinados a obras de saneamento e mobilidade urbana. Campos sentou-se na primeira fileira, entre o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), e o governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB). Por diversas vezes, anotou o que a presidente dizia e aplaudiu algumas palavras de Dilma.

Os petistas acreditam que ainda não existe no país espaço para um terceiro projeto de poder além da atual polarização entre PT e PSDB. “Isso que o Eduardo Campos chamou de rinha e que o Fernando Henrique diz que é picuinha não é uma questão de birra. É uma disputa séria, de dois projetos distintos de poder, para governar a quinta maior economia do mundo. Ninguém está aqui de brincadeira”, declarou um governador do PT.

Para outro correligionário de Lula, se a economia naufragar, quem será beneficiado é o candidato do PSDB, provavelmente Aécio Neves (MG). “Ele não poderá dizer, simplesmente, que não tem responsabilidade. Eduardo também faz parte desse projeto”, comentou. Caso a economia se recupere, como apostam os petistas, Dilma terá pavimentado seu caminho à reeleição.

Para integrantes do PT, caso Eduardo Campos decida lançar-se candidato, ele terá que aceitar o status de presidenciável. “Não adianta manter essa esquizofrenia de criticar as medidas do governo, reunir-se com sindicalistas, prefeitos e empresários e, quando pressionado, afirmar que é hora de pensar em 2013 e discutir 2014 apenas depois”, criticou um político próximo à presidente Dilma.

Aliados do Planalto alertam que Eduardo será tratado como adversário, caso decida realmente lançar-se candidato. Até mesmo o propalado crescimento chinês da economia pernambucana, segundo esses analistas, teria se dado graças ao impulso do governo federal, especialmente ao longo dos oito anos de governo Lula. “O que impede o Lula de aparecer no horário eleitoral gratuito para dizer que o governo federal foi fundamental para a ida da Fiat para Goiâna ou para a construção do Porto de Suape?” questionou um petista da região nordeste.

Ontem, depois do evento no Planalto, Eduardo Campos elogiou o discurso da presidente, o que provocou a ironia de adversários dos projetos futuros do governador. “Ele acha que o governo está sem rumo e, agora, elogia as palavras de Dilma? Estranho, não?”, questionou ao Correio um dos presentes à solenidade. Correligionário de Eduardo Campos, o governador do Ceará, Cid Gomes, também gostou da apresentação da presidente. “Foi o discurso de uma estadista, de quem tem uma visão precisa do país, de hoje e para o futuro. Um discurso de quem é candidata à reeleição”, elogiou Cid.

Uma das vozes mais incisivas contra o voo solo do PSB no ano que vem, Cid afirmou que não romperá com o partido, caso a legenda decida lançar Eduardo Campos candidato em 2014. “Aqueles que acham que eu serei uma quinta coluna dentro do PSB, estão enganados”, alertou ele. Cid afirmou que, na discussão política, sempre vai colocar, em primeiro lugar, os interesses do país, do seu estado e do seu partido. “Continuo achando que o ideal neste momento é trabalharmos pela reeleição da presidente, se possível, ocupando a vaga de vice na chapa. Não por concessão, mas por méritos, pelo nosso crescimento”, defendeu o governador do Ceará. “Nosso partido é democrático, sempre se comportou dessa forma, e acredito no debate interno em torno dessa questão”, prosseguiu ele.

Eduardo Campos chegou a Brasília na noite de terça-feira. Reuniu-se com diversos interlocutores políticos, de diversos partidos, em conversas que se estenderam até as 2h30 da manhã de quarta — nove horas antes da solenidade no Palácio do Planalto. Deixou a sede do governo federal para outro almoço político. “Querem que o Eduardo jogue pôquer com as cartas abertas. Esse não é momento para isso, é momento para apostar. E apostar alto”, afirmou um aliado de Campos.

Clandestinos O termo é usado para referir-se a grupos clandestinos que trabalham dentro de um país, ajudando a invasão armada promovida por um outro país em caso de guerra internacional. A expressão também costuma ser adotada para identificar pessoas que ajudam a ação de forasteiros, mesmo quando não existe risco de invasão.