Título: 3 milhões livres da pobreza
Autor: Lorenzi, Sabrina
Fonte: Jornal do Brasil, 19/09/2008, Tema do Dia, p. A2

Pela primeira vez na história, o Centro-Oeste supera o Sudeste na remuneração paga ao trabalhador. Agronegócio e governo causaram a mudança

Quase três milhões de pessoas deixaram a pobreza no ano passado graças ao recuo da desigualdade social e ao crescimento econômico. A distribuição da renda do trabalho foi a maior dos últimos 17 anos, conforme indicou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad). A publicação mostra avanços expressivos no mercado de trabalho, com mais empregos, salários maiores, formalização das vagas; bem como estampa o maior acesso dos brasileiros a bens duráveis e saneamento básico. Mas os indicadores ainda não livram o Brasil das evidências do trabalho infantil nem do rótulo de desigual. ­ Considerando o tamanho da renda, o Brasil ainda é um dos países mais desiguais do mundo, apesar dos avanços da distribuição de renda ­ disse o presidente do IBGE, Eduardo Nunes. ­ É importante que daqui para frente este ritmo de diminuição da concentração de renda seja o padrão.

Concentração de renda

O índice de Gini do trabalho, que mede a concentração de renda entre os trabalhadores, diminuiu de 0,540 em 2006 para 0,528 em 2007. Foi uma redução maior do que a soma dos quatro anos anteriores (2002 a 2006). O índice varia de 0 a 1 e, quanto mais perto de zero, menor a concentração da renda. ­ Já que o bolo está crescendo, é hora de acelerar a distribuição da renda e a queda da pobreza ­ completou Nunes. Para a FGV, o bolo está sendo distribuído. Na pesquisa "Miséria e a Nova Classe Média na Década da Igualdade", que será divulgada hoje, o chefe do Centro de estudos Sociais da FGV, Marcelo Cortes Neri, mostra que a pobreza recuou 5,6% em 2007 ­ e foi mais influenciada pela distribuição de renda do que pelo crescimento da economia. Pelas contas do especialista, 18% da população pode ser considerada pobre, segundo a linha de miséria estabelecida pela FGV, de R$ 135. Em 2006, a pobreza recuou 15%, mas a queda refletiu a expressiva expansão do programa Bolsa-Família, que passou a beneficiar mais de 11 milhões de famílias, além do aumento do salário-mínimo. Já em 2007, o programa social do governo não avançou tanto, tampouco o salário-mínimo.

A fotografia do IBGE da ocupação brasileira foi uma das melhores notícias da Pnad. O número de empregos cresceu 1,6% e mais da metade da população trabalhava em 2007 - 90,8 milhões de pessoas. Também diminuiu o contingente de desempregados, de 8,2 milhões para 8,1 milhões de pessoas (-1,8%). A taxa de desemprego recuou de 8,4% para 8,2%. A desigualdade entre os sexos se revela na taxa: 6,1% (homens) e 10,8% (mulheres).

Em 2007, 35,3% dos trabalhadores brasileiros tinham carteira de trabalho assinada, totalizando 32 milhões de pessoas. Em 2005, esse percentual era de 33,1%, tendo aumentado para 33,8% em 2006.

A formalização do mercado de trabalho respingou na Previdência. Ao longo dos últimos 10 anos, aumentou a proporção de trabalhadores que contribuíam, de 42,6% em 1997 para 51,1% em 2007.ela primeira vez, desde o início da década de 1990, esse percentual ultrapassa a metade dos trabalhadores. Mais de 46 milhões de trabalhadores contribuíam para o instituto em 2007, um aumento de 5,7% em relação a 2006.

"Em todas as regiões foi registrado crescimento da proporção de contribuintes para a Previdência Social, sendo que o maior percentual deles entre os ocupados foi verificado no Sudeste (61,6%), e o mais baixo (32,1%), no Nordeste", salienta o estudo do IBGE.

Além do aumento de postos de trabalho com carteira assinada, o rendimento médio real mensal cresceu pelo terceiro ano consecutivo e alcançou R$ 956.

­ O aumento real de 3,2% observado de 2006 para 2007, no entanto, foi inferior aos de 2005 para 2006 (7,2%) e de 2004 para 2005 (4,5%) ­ observou Cimar Azeredo, gerente da Pnad. ­ A renda acumula aumento de 15,7% desde 2004. Todas as categorias de posição na ocupação obtiveram ganhos pelo segundo ano consecutivo. As remunerações médias dos empregados com carteira cresceram 1,8%.