Título: Amazônia perde em um mês meia S. Paulo
Autor: Abade, Luciana
Fonte: Jornal do Brasil, 30/09/2008, País, p. A14

Minc acusa governadores e prefeitos de olho na eleição.

BRASÍLIA

O desmatamento da Amazônia Legal durante o mês de agosto, de 756 km², dobrou em relação ao mês de julho (323 km²), e triplicou em relação ao mesmo período do ano passado ¿ 230 km². A área devastada corresponde à metade da cidade de São Paulo. E, como antecipou o JB, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) aparece oito vezes na lista dos cem maiores desmatadores da Amazônia. O anúncio foi feito, ontem, em Brasília, pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, que disse estar "passado" com os números "que são uma desgraça".

O aumento da atividade agropecuária, a grilagem de terras públicas, as eleições municipais e a redução da fiscalização durante o mês de agosto foram apontados pelo ministro como alguns dos fatores que contribuíram para o crescimento do desmatamento. O Pará foi o Estado com maior área desmatada (435 km²), seguido pelo Mato Grosso (229 km²).

Ano eleitoral

Os números do desmatamento poderiam ser ainda piores: os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espacial (Inpe) dependem de boa visualização e 99% do Amapá e 77% de Roraima ficaram cobertos por nuvens durante o período.

Apesar dos números ruins, Minc ressaltou que a média de desmatamento nos meses de estiagem - maio, junho, julho e agosto - desse ano ainda está abaixo da média dos anos anteriores. Em 2004, 5.249 km² de floresta foram destruídos nesse período contra 1.573 km² em 2005, 2.145 km² m 2006 e 968 km² no ano passado.

Segundo o ministro, o desmatamento aumenta em ano eleitoral porque os governadores e prefeitos não querem ser antipáticos com ninguém, não querem punir, nem embargar áreas. Para ter mais autonomia na fiscalização do meio ambiente, principalmente na Amazônia, Minc anunciou a criação de uma Força Federal de combate aos crimes ambientais que contará com três mil oficiais.

¿ Lula já bateu o martelo ¿ garantiu.

Além da Força, outras 11 medidas foram anunciadas para combater o desmatamento na Amazônia. Entre elas, a retirada de quatro mil bois piratas de Rondônia no mês de outubro, a criação de um grupo que vai cuidar das reservas ambientais no entorno da BR-319 e a revisão de planos de manejo em três Estados ¿ Mato Grosso, Rondônia e Pará.

A cobrança das multas aplicadas aos cem maiores desmatadores também está entre as prioridades.

¿ O problema ainda é a impunidade ambiental. De cada cem grandes devastadores, dez vão a juizo e um é punido ¿ explicou Minc. ¿ Nossa intenção não é encher os cofres do Ibama, o mais importante é mudar de atitude.

Transparência

Minc evitou culpar o Incra pelo aumento dos desmatamentos, mas disse que anunciar a lista é umaprova da transparência do ministério. Para o presidente do Incra, Rolf Hackbart, a lista divulgada pelo ministério é injusta:

¿ Os desmatamentos feitos pelos assentamentos são antigos. Foram feitos até 2000. O Ibama se baseou em fotos de satélite tiradas em 2006 foi lá e aplicou a multa. ¿ Sinto falta nessa lista dos grileiros, que não aparecem em lista nenhuma. Enquanto isso, mascaram o desmatamento colocando a culpa na reforma agrária.