Título: Governo redobra esforço no Congresso
Autor: Daniela Dariano
Fonte: Jornal do Brasil, 27/02/2005, País, p. A4

Além do simples balançar da gangorra do Legislativo, a presidência de Severino Cavalcanti (PP-PE) na Câmara e a conseqüente ascensão de um grupo antes sem muita visibilidade significam que o Executivo terá de exercitar muito mais seu poder de negociação com a Casa. Justo num ano decisivo para a sucessão presidencial, o jogo recomeçou. A vitória de Severino não só foi fundamental para compor o novo cenário como assegurou o equilíbrio entre os jogadores, demonstrando a força - até então subestimada - de um deles: o Parlamento. Esta é a avaliação de especialistas na relação entre os Poderes.

- Muda a relação entre governo e Congresso. O Orçamento brasileiro é autorizativo e se transforma numa moeda política. O governo vai ter que negociar mais, terá que qualificar a relação com o Congresso, que estava muito ruim - prevê o assessor parlamentar do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), Marcos Verlaine.

Doutor em ciência política pelo Iuperj, José Luciano Dias, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos, concorda:

- O processo de negociação pode se tornar mais necessário. O governo deverá gerir melhor (a liberação de emendas parlamentares), agora que os congressistas estão mais fortes - acredita, ponderando que isso não implica um gasto total maior do governo com essas emendas, já que o montante é restrito e pré-estabelecido.

Dias admite que deve aumentar a pressão pela liberação das emendas - verba do Orçamento que o parlamentar, com autorização do Executivo, destina à sua área de atuação ou região.

- Quem compra e vende o Legislativo com emendas é o Executivo. É o Executivo que usa as emendas para seus objetivos políticos. Esse é o problema - avalia.

Para aprovar projetos importantes em ano que antecede as eleições presidenciais, o Planalto deverá usar desse recurso. Com reformas cruciais para a disputa em 2006 por fazer, o governo Lula depende de uma Câmara que já não está em suas mãos, mas - o que é mais arriscado para o Planalto - com um grupo que antes não participava de grandes debates.

- A investidura do cargo vai impor a Severino um trato mais qualificado dos problemas, ele não poderá cuidar só das quinquilharias como fez até agora. Essa turma vai ter de se qualificar para o debate. Quem ficar na periferia será atropelado - acredita o assessor parlamentar do Diap Marcos Verlaine, que calcula esse grupo, o antes chamado de ''baixo clero'', em dois terços dos 513 deputados da Câmara.

A proposta de aumento salarial para os parlamentares, apesar de ''pegar mal'', acredita Verlaine, será esquecida quando as reformas sindical e política estiverem em discussão.

- Se essa turma não se alçar para esse nível de debate, pode não fazer a reforma sindical. Seria muito ruim para o governo, que precisava de alguém de confiança e de capacidade política.