Correio braziliense, n. 21062, 23/01/2021. Mundo, p.10

 

Senado começa a julgar Trump em 9 de fevereiro

Rodrigo Craveiro 

23/01/2021

 

 

O destino do outrora homem mais poderoso do mundo tem data para ser traçado pelo Senado, agora de maioria democrata. "O artigo de impeachment pelo incitamento à insurreição por Donald Trump será entregue ao Senado na segunda-feira, 25 de janeiro", anunciou a presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi. No dia seguinte, os senadores prestarão juramento. Em 2 de fevereiro, os advogados do magnata apresentarão a defesa. Depois de acordo firmado no Congresso e do pedido do atual presidente, Joe Biden, o julgamento terá início em 9 de fevereiro. "Haverá um julgamento no Senado dos Estados Uniodos e a condenação de Trump será votada", acrescentou Pelosi.

Uma revelação feita pela organização não governamental Center for Responsive Politics (CRP) deve complicar a situação de Trump: a campanha do republicano supostamente pagou mais de US$ 2,7 milhões a indivíduos e empresas que organizaram o protesto de 6 de janeiro que culminou na invasão ao Capitólio.

O site The Hill informou que os senadores democratas ponderam a invocação da 14ª Emenda da Constituição para impedir Trump a voltar a exercer a Presidência. "Depois do que fez, cujas consequências todos testemunhamos, Donald Trump não deveria ser elegível para concorrer a um cargo nunca mais", disse Schuck Schumer, líder democrata no Senado. A 14ª Emenda prevê o afastamento do presidente caso não tenha condições de ocupar o cargo. A condenação de Trump no julgamento depende da mobilização de todos os senadores democratas, além de 17 republicanos.

De acordo com Allan Lichtman, historiador político da American University (em Washington) e especialista que previu a derrota eleitoral de Trump, com o envio do processo de impeachment por Pelosi, caberá ao Senado determinar as regras do julgamento político. "É uma questão em aberto se o chefe da Suprema Corte, John G. Roberts, presidirá ou não o júri. Normalmente, não seria de esperar um quorum suficiente de senadores republicanos para votarem pela condenação de Trump. No entanto, dada a natureza hedionda da acusação — incitamento à insurreição — e a riqueza de evidências publicamente disponíveis, existe uma pequena possibilidade de que Trump seja condenado", afirmou ao Correio.

Lichtman lembra que, ao contrário do primeiro julgamento do ex-presidente republicano no Senado, em fevereiro de 2020, o líder do partido na casa, Mitch McConnell, acusou-o de cumplicidade no mortífero levante contra o Capitólio. "Outros senadores indicaram que mantêm suas mentes abertas (sobre uma condenação). Se o Senado votar pela condenação, certamente também votará para privar Trump do direito de ocupar qualquer cargo federal pelo resto da vida, o que o impediria de concorrer novamente em 2024. Neste caso, a votação requer apenas uma maioria simples, não a maioria de dois terços necessária para a condenação", explicou o estudioso.

Manifestantes

Em entrevista ao Correio, Anna Massoglia, pesquisadora da CRP, afimou que vários indivíduos e empresas pagas pela campanha de Trump estiveram envolvidos na organização dos protestos. "Não conhecemos necessariamente a completa extensão de seu envolvimento financeiro com a campanha de Trump, pois muitos pagamentos foram feitos por meio de empresas de fachada, escondendo quem foi pago pela campanha e com qual montante. Isso pode ter potenciais implicações no julgamento de impeachment do ex-presidente. Como o Congresso vota pela acusação de Trump por 'incitamento à insurreição', é importante saber mais sobre as conexões do ex-presidente com os organizadores do protesto", explicou. Segundo Massoglia, a falta de transparência e o uso de dinheiro escuso deixam uma série de perguntas sem respostas.