Título: Rejeição das siglas ameaça aumento para deputados
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 02/03/2005, País, p. A2

Com apenas 142 assinaturas, Mesa Diretora admite que projeto pode fracassar

Está por um fio a proposta de aumento dos salários dos deputados, que passariam de R$ 12.840 para R$ 21.500 agora e para R$ 24.500 em janeiro de 2006. O PFL é o sétimo partido que vai encaminhar voto contrário à proposta em plenário. O segundo vice-presidente da Câmara, Ciro Nogueira, empacou nas 142 assinaturas para que o projeto tramite em caráter de urgência. O deputado Chico Alencar (PT-RJ) apresenta hoje um documento com 6.610 assinaturas de populares e entidades contrários ao reajuste.

- Acho que o projeto nem chega a plenário. Vamos ter que retirar antes - admitiu um integrante da Mesa Diretora.

As bancadas do PFL, tanto na Câmara quanto no Senado, vão orientar seus parlamentares a votar contra a proposta. Não chegam ao extremo de fechar questão, alegando que esta não é uma discussão programática. Mas também não vão defender a proposta.

- Conversei com 40 deputados pefelistas desde quinta-feira até agora. Todos me garantiram que vão votar contra - afirmou o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ).

Com a adesão de ontem, já são sete partidos contrários ao aumento: PT, PSDB, PPS, PDT, PV, PSB e PFL. Na situação hipotética de todos os parlamentares destas legendas votarem contra o aumento salarial, já são 256 votos contrários à proposta - praticamente metade da Câmara.

- Pelo que tenho conversado, a posição do PSDB será praticamente unânime, fechada, seguindo orientação da Executiva Nacional - confirmou o líder da bancada na Câmara, Alberto Goldman (SP).

Para o líder da minoria, deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), o projeto de reajuste salarial está praticamente morto. O pefelista afirmou que não há deputado disposto a enfrentar a fúria da sociedade diante de uma proposta tão impopular. O líder do PL na Câmara, Sandro Mabel (GO), que chegou a admitir na semana passada que o desgaste já estava garantindo, independente da votação ou não em plenário, recuou e compartilhou da opinião de Aleluia.

- Todo deputado que tem uma certa projeção é contra o aumento. Já quem não tem, não tem nada a perder - afirmou.

Para Mabel, a sociedade cobra muito mais o aumento dos deputados do que dos ministros do Supremo Tribunal Federal - neste último caso, os líderes já assinaram o pedido de urgência. O líder do PL lembra que não ''há ninguém na rua para reclamar com o ministro do STF''.

- Já o parlamentar sempre enfrenta o desgaste das ruas - considerou.

O desgaste está explícito. O deputado Chico Alencar (PT-RJ) promove um ato hoje na Câmara no qual apresentará um calhamaço de documentos, com 6.610 assinaturas coletadas no Rio contra o reajuste. Além de populares, entidades como a CNBB, o Movimento pela Ética na Política e a Ação da Cidadania, de Betinho, também se manifestaram contra o aumento de vencimento dos deputados.

- O nosso ouvidor, deputado Custódio Matos (PSDB-MG), está com o e-mail abarrotado, com mais de 800 mensagens contrárias ao reajuste - garantiu Alencar.

Ciro Nogueira não desiste. Afirmou que a ausência de assinaturas para a tramitação do projeto com urgência não significa que ele não venha a ser apreciado e sim, que precisará tramitar antes pelas Comissões.

- É uma demagogia do PT. Se os dois candidatos petistas à presidência da Câmara (Luiz Eduardo Greenhalgh e Virgílio Guimarães) defendiam o reajuste, por que o partido não assina a urgência e vota contra em plenário? - cobrou Nogueira.