Título: Campanha publicitária divide opiniões
Autor: Correia, Karla; Baldi, Neila
Fonte: Jornal do Brasil, 26/11/2008, Tema do Dia, p. A5

O receio da população brasileira em face à crise internacional fez o governo criar uma campanha publicitária, a ser lançada em dezembro, a fim de estimular o crédito internamente e animar os consumidores. A idéia dividiu economistas.

Para Virgílio Gibbon, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ), o contexto externo em nada afeta a campanha de estímulo ao crédito no Brasil. São dimensões diferentes. O economista explica que em economias como a da Europa e dos Estados Unidos, o crédito dependia essencialmente da iniciativa privada. Com a crise, os governos tentam agora reestruturar o sistema financeiro "estatizando" bancos, em um aparato puramente institucional.

¿ No Brasil é diferente, porque, se falta credibilidade aos bancos privados, instituições como CEF ou Banco do Brasil podem atuar em favor do crédito ¿ avaliou, ao destacar que trata-se de uma alternativa eficiente, porém transitória, até restabelecer a confiança das instituições privadas.

Análise com critério

O colega Cláudio Frischtak, da Inter B consultoria, sugere uma análise mais criteriosa do cenário brasileiro, a fim de mensurar os atuais índices macroeconômicos.

Se houver uma redução no ritmo de crescimento ¿ e a economia do país cresce a partir dos investimentos das empresas e do aumento do consumo da população ¿, acompanhada de sucessivos resultados negativos das taxas de emprego e renda, do encurtamento dos prazos e da alta taxa de juros, a medida se apresenta incoerente.

Já o ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Velloso defende a política do governo, e afirma que o país tem procurado "desempossar o crédito" com medidas de incentivo ao emprego, com o programa Bolsa-emprego, por exemplo.

Mas Reis Velloso acredita que, para garantir o equilíbrio da economia, o país precisa também renovar a demanda externa, e oferecer produtos inovadores.

O ex-ministro explica que os chamados non-commodities têm mais chance de concorrer externamente ¿ com preços até mais elevados ¿, do que com as tradicionais commodities.