Título: PT do Rio ameaça repetir história
Autor: Daniela Dariano
Fonte: Jornal do Brasil, 13/02/2005, País, p. A5

Parte da legenda teme apoio a candidato de Garotinho na eleição estadual e alerta para possível reedição da ''tragédia'' de 1998

Uma decisão considerada trágica por uma parte expressiva do PT do Rio em 1998 - de apoiar o então pedetista Anthony Garotinho ao governo fluminense, atropelando a possibilidade de candidatura do petista Vladimir Palmeira e enfraquecendo o Partido dos Trabalhadores no estado com conseqüências que duram até hoje - corre o risco de se repetir. A possibilidade de apoio, no ano que vem, ao candidato do PMDB, provavelmente o senador Sérgio Cabral, é uma ameaça, anunciada com os 25 anos do PT, não só de aumentar a debandada de intelectuais de sua militância como de parlamentares da legenda.

Ao mesmo tempo, o desafio do ''patinho feio'' - como o prefeito petista de Niterói, Godofredo Pinto, já chamou o PT do Rio - de unificar o partido com vistas a 2006 não tem alternativas que empolguem, senão o próprio Vladimir Palmeira, que ressurge no jogo político, porém, aparentemente, sem apetite por cargos. Se de um lado Vladimir aparece como uma figura capaz de devolver juventude a uma legenda ameaçada de envelhecer antes dos 30 - como avaliam alguns filiados -, já há uma corrente no PT defensora do apoio ao candidato do partido de Garotinho, admitem diversos políticos petistas.

As duas possibilidades se revelam perigosas. Uma porque Vladimir Palmeira, como lembra o cientista político da UFF Eurico de Lima Figueiredo, afirmou diversas vezes não ter intenção de concorrer a cargos. Ex-líder estudantil e ex-deputado federal, Vladimir não foi localizado pelo JB para comentar as especulações em torno de seu nome.

- Vladimir já disse diversas vezes que não quer ser nada. Poderia ter sido deputado federal várias vezes se quisesse. Isso demonstra pouco apetite pela vida política ou desilusão. Procurá-lo é um claro indicador de que o partido não vai bem - analisa Figueiredo.

Segundo o estudioso, o PT do Rio, quando comparado a estados como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, sempre foi muito dividido. Tanto que não foi por força própria que chegou ao governo estadual, mas por meio da aliança com o PDT de Anthony Garotinho. Foi a candidatura do então governador à Presidência da República que tornou a vice petista, Benedita da Silva, governadora.

- E em vez de ela estabelecer uma homogenia, instaurou uma crise no partido - acrescentou Figueiredo, apontando o fato de a ex-senadora e ex-ministra não ser nem uma hipótese de candidatura no ano que vem como uma demonstração de não haver no PT do Rio um pólo aglutinante ou uma facção forte o suficiente para evitar cisões definitivas na legenda.

A melhor opção para o partido no Rio, na opinião do cientista político da UFF, seria ''colar no PT nacional''. Se for o caso, apoiar o candidato do partido de Garotinho, sim. Claro que, nessa eventualidade, o ex-governador, que faz oposição frontal ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, teria deixado o PMDB. Apesar de assegurar um caminho ao dividido PT fluminense, a possível aliança promete provocar um novo êxodo do partido.

O deputado estadual Alessandro Molon diz não pensar ''ainda'' em abandonar o PT, mas não nega que essa posição pode ser mudada caso o partido opte por se aliar ao PMDB no Rio. Crítico à condução do governo petista em nível nacional, Molon acredita que o PT vem cometendo diversos erros ao longo dos seus 25 anos. Um deles, segundo o deputado - apoiado no pensamento pelo colega de Casa e partido Carlos Minc - foi fundamental: a intervenção federal de 1998, quando a direção nacional do partido impediu que o diretório regional escolhesse candidato próprio ao governo estadual e impôs o apoio a Garotinho.

- Ali o PT perdeu o rumo, se divorciou da sua história, rompeu com o respeito às regras do partido - lembra Molon, apontando como positiva e capaz de resgatar uma militância afastada desde 98 a volta de Vladimir ao debate no estado: seria um desejável ''reencontro com o passado''.

Para o deputado, não existe outra possibilidade, senão a candidatura própria. Uma aliança PT-PMDB no Rio seria ''uma tragédia'', ''inaceitável''. Carlos Minc também aponta a intervenção de 1998 como importante para o enfraquecimento do PT no Rio. O reaparecimento político de Vladimir Palmeira teria um simbolismo, além de político, ''freudiano'':

- Ele é um bom quadro, mas está há muito tempo distante. Seu reaparecimento tem simbolismo para dar uma volta nisso, que era um carma. Sou do campo majoritário, dou sustentação ao governo, mas me senti violentado com a intervenção, que vinha asfixiando todos nós.

Para Minc, a saída de mais de uma centena de militantes históricos do PT, como Plínio Arruda Sampaio Júnior e o economista Reinaldo Gonçalves, acende uma luz vermelha no partido.

- É preciso estar muito atento. Um dos esforços do PT deve ser a reaproximação da intelectualidade.