Título: Escândalo Waldomiro completa um ano
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 13/02/2005, País, p. A6

Há um ano, a veste ética do PT caiu no chão, expondo um partido que se tornava igual aos demais. Uma matéria publicada pela revista Época em 13 de fevereiro de 2003 mostrava o então subchefe da Casa Civil, Waldomiro Diniz, pedindo propina ao bicheiro Carlinhos Cachoeira. A tentativa de extorsão ocorreu quando Waldomiro presidia a Loterj, em 2002. Mesmo assim, a bomba explodiu no colo do governo.

Indicado para a Casa Civil pelo titular da pasta, ministro José Dirceu, Waldomiro era responsável pelas negociações entre Executivo e Parlamento, incluindo liberações de verbas e renegociações de contratos, como o firmado entre a Gtech e a Caixa Econômica Federal. No dia de veiculação da reportagem, a oposição foi à tribuna e pediu não só a demissão de Waldomiro - que ocorreu a pedido do próprio - como a cabeça de Dirceu. Pefelistas e tucanos mobilizaram-se pela instalação de CPIs para investigar as ações de Waldomiro no Planalto.

Descobriu-se que o ex-assessor participava das negociações do anteprojeto de lei para regularizar o funcionamento dos bingos no país. PSDB e PFL, com auxílio do senador Magno Malta (PL-ES), apresentaram um pedido de instalação da CPI dos Bingos. Acuado, o governo editou, no dia 20, uma MP radicalizando a discussão e fechando todos os bingos brasileiros. Brasília e os estados ficaram repletos de funcionários de casas de jogo protestando contra a medida. Sindicalistas e empresários do setor calculavam que 20 mil pessoas perderiam os empregos.

Afundado em suspeitas de corrupção, com a economia tateando e a bancada parlamentar em frangalhos, o governo enfrentou a primeira de suas duas derrotas no Senado - a segunda aconteceria na MP que reajustou o mínimo para R$ 260. Os senadores rejeitaram a MP dos Bingos, e as casas de jogos reabriram suas portas.

No campo político, o até então superministro José Dirceu perdeu brilho e poder. Diante dos ataques constantes da oposição e sem conseguir explicar como indicou um assessor com um passado nebuloso, Dirceu fez mea-culpa público, dizendo-se traído.

O recém-empossado ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, foi guindado ao posto de articulador oficial do governo junto ao Parlamento, aumentando a ciumeira e a mágoa de Dirceu. O chefe da Casa Civil chegou a pedir demissão, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recusou o pedido. Um ano depois, Dirceu começa a recuperar prestígio e Waldomiro foi indiciado por corrupção e formação de quadrilha. Por precaução, os petistas transferiram para março as celebrações oficiais do Jubileu de Prata - 25 anos - do partido, tradicionalmente comemorado em julho. Enquanto isso, o PFL já avisou que vai retomar o caso durante seus programas eleitorais, demonstrando que o governo ainda não conseguir exorcizar esse fantasma do sótão palaciano.