O Estado de S. Paulo, n. 46454, 24/12/2020. Economia, p. B4

 

Emprego formal é recorde, mas não recupera perdas

 

Amanda Pupo

Célia Froufe

Márcia De Chiara 

24/12/2020
 
 

 

O Brasil criou 414.556 empregos com carteira assinada em novembro, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério da Economia. O número é o maior de toda série histórica, iniciada em 1992 e o quinto mês seguido de geração de empregos com carteira assinada.

No acumulado de julho a novembro, foram criados 1,499 milhão de postos formais. Mesmo assim, ainda não houve recuperação das perdas entre março e junho, período mais agudo da pandemia, quando 1,612 milhão de vagas foram fechadas.

"Tivemos um mês com uma geração de empregos bastante razoável", disse o economista José Pastore, professor aposentado de Relações de Trabalho da FEA/USP. Na sua avaliação, esse desempenho mostra que as medidas tomadas pelo governo, como a redução de jornada, suspensão de contrato de trabalho e o auxílio emergencial – que injetou recursos no consumo com desdobramentos no emprego – deram resultado.

No entanto, essas medidas, até o momento, devem terminar em 31 de dezembro. O ponto é saber se essa retomada do emprego se sustenta no ano que vem com a retirada dessas muletas. "A questão que fica é o que será de janeiro em diante", alertou Pastore. Ele acredita que o fim do auxílio pode provocar um abalo no emprego.

Incerteza. "O cenário é bem incerto", concordou o economista Renan Pieri, professor da FGV/SP. Segundo ele, a dinâmica do emprego neste momento é uma recuperação lenta que depende da dinâmica da pandemia, com uma segunda onda de covid-19, o início da vacinação e a prorrogação ou não de medidas que ajudaram a segurar os trabalhadores nos últimos meses.

Já está no radar do ministro da Economia, Paulo Guedes, que é preciso resolver crise de saúde pública para recuperar a economia e o emprego. Ao comemorar os dados do Caged, o ministro disse contar com a vacinação em massa para a recuperação econômica. "Para ano que vem, nossa esperança vai ser a vacinação em massa para salvar vidas, garantir retorno seguro ao trabalho e garantir a retomada econômica", afirmou.

"Quando observamos serviços e comércios, foram exatamente os setores mais atingidos pela pandemia. E a economia voltou em V (quando a retomada é na mesma velocidade da queda) como eu tinha antecipado, como poucos acreditaram, confirmando nossas expectativas, em vez da destruição de empregos, como nas crises de 2015 e 2016, nós já estamos antes de chegar o dado de dezembro com 227 mil empregos criados", disse Guedes.

De acordo com ele, em 2015 e 2016, as crises foram criadas por "erros" na condução da economia que provocaram o fechamento das vagas. "Agora com a pandemia, que é questão de fora, criamos empregos." Na sua visão, as reformas "prosseguiram", mesmo com um ritmo "um pouco lento". "Mas seguem acontecendo", afirmou.

"Só o negacionismo pode negar os números, eles estão aí, ano de geração líquida de empregos. Não imagino que isso (emprego) tenha acontecido em qualquer outro país no mercado formal. Seguimos preocupados com invisíveis, vamos cuidar disso à frente também", acrescentou.

Ano. De janeiro a novembro deste ano, houve a geração de 227.025 empregos com carteira assinada. No mesmo período do ano passado, o Brasil registrou 948.344 contratações a mais do que demissões. O resultado acumulado deste ano também é o pior para esse período desde 2016.

Renan, da FGV , lembrou que devem ocorrer muitos desligamentos de trabalhadores após o Natal, especialmente do comércio. Em novembro, o saldo positivo do comércio foi de 179.077 vagas, atrás apenas dos serviços, com 179.261 contratações e que liderou o ranking entre os demais setores.

Já na indústria, foram abertas liquidamente 51.457 vagas em novembro, seguida pela construção civil, com um saldo de 20.724 postos de trabalho. Na contramão dos demais setores, agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura fecharam 15.353 vagas no mês passado, apontou o Caged.