O Globo, n. 32030, 17/04/2021, Sociedade, p. 13

 

Governo recomenda que mulheres adiem gravidez na pandemia

Paula Ferreira

17/04/2021

 

 

BRASÍLIA— O Ministério da Saúde indica que mulheres posterguem a gravidez devido ao avanço da pandemia de Covid-19. Em coletiva de imprensa nesta sexta-feira (16), o secretário de Atenção Primária à Saúde (SAPS), Raphael Câmara, afirmou que caso seja possível as mulheres devem esperar para engravidar. A pasta avalia ainda recomendar a vacinação para todas as gestantes.
— Outra recomendação, caso possível, é postergar um pouco a gravidez para um melhor momento em que você possa ter a gravidez de forma mais tranquila — afirmou o secretário. — Na época do zika teve uma diminuição das gravidezes no Brasil e depois aumentou, é normal. É óbvio que a gente não pode falar isso para quem tem 42, 43 anos, mas se for uma mulher jovem que pode escolher um pouco o seu momento de gravidez, o mais indicado é esperar um pouquinho até a situação ficar um pouco mais calma.
Câmara afirmou que ainda não há evidências científicas robustas sobre o efeito da variante do coronavírus nas grávidas, mas que observação clínica indica maior impacto.
— Não tem estudo comprovando isso, o Ministério da Saúde está correndo atrás de fomentar esses estudos, mas a visão clínica de especialistas mostra que essa variante tem ação mais agressiva nas grávidas— disse o secretário, afirmando que muitos médicos têm feito esse relato.
O número de mortes de gestantes e puérperas por Covid-19 no país em 2021 já representa cerca de 79,3% do registrado em todo o ano de 2020. Segundo dados apresentados pelo Ministério da Saúde em coletiva de imprensa, nesta sexta-feira, enquanto em 2020 foram registrados 546 óbitos nesse grupo, em 2021, com apenas quatro meses, foram 433.
Um estudo da Universidade de Washington, publicado em fevereiro na revista American Journal of Obstetrics and Gynecology, estima que a Covid-19 é 70% mais frequente em gestantes do que em mulheres da mesma faixa etária.
Já uma pesquisa do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) com 400 mil mulheres com coronavírus, 23.434 das quais grávidas, chegou à conclusão de que a gestação é fator de alto risco de agravamento da Covid-19. A chance de uma gestante ser internada em UTI foi 62% maior que a de mulheres da mesma faixa etária. A de intubação foi 88% maior.
Segundo o secretário, a pasta avalia recomendar a vacinação para todas as gestantes. Atualmente, de acordo com uma nota técnica emitida pela pasta em março, a imunização é recomendada apenas para grávidas com comorbidade.
As doenças listadas são as seguintes:
• diabetes
• hipertensão arterial crônica
• obesidade (IMC maior ou igual a 30)
• doença cardiovascular
• asma brônquica
• imunossuprimidas
• transplantadas
• doenças renais crônicas
• doenças autoimunes
O documento afirma que a questão será atualizada de acordo com surgimento de novas evidências.
— Já estamos em um trabalho muito forte junto com a Secretaria de Vigilância em Saúde e com o Programa Nacional de Imunizações para, se for o caso, aumentar essa recomendação para todas as gestantes — disse. — Estamos em tratativas avançadas,  mas é importante lembrar que a gestação é, por definição, um período trombótico. Temos que ter cuidado porque algumas vacinas, de forma muito rara, estão mostrando efeitos colaterais nesse sentido. Qualquer recomendação para grávida tem que ser feita com muito cuidado para não errar.
O Ministério da Saúde esclarece que, embora não haja estudos conclusivos relacionando as variantes da covid-19 aos óbitos de gestantes e puérperas, especialistas apontam sintomas mais graves da doença, principalmente, no primeiro e segundo trimestres da gravidez, diferentemente do que foi constatado no começo da pandemia, quando as formas mais graves apareciam no final da gestação.
Cabe ressaltar a importância do pré-natal e o reforço das medidas de prevenção, como uso contínuo de máscaras, evitar aglomerações e a higiene correta das mãos.