Correio Braziliense, n. 20605, 22/10/2019. Política, p. 3

Bolsonaro tenta minimizar crise

Jorge Vasconcellos


O presidente Jair Bolsonaro minimizou a crise no PSL, mas voltou a admitir a possibilidade de deixar o partido. Ao desembarcar em Tóquio para o início de uma viagem de 10 dias pela Ásia, ele comparou o episódio a uma ferida que “cicatriza naturalmente” e disse que houve apenas um “bate-boca exacerbado” na legenda. O presidente, para quem o “bem vencerá o mal”, participou da cerimônia de entronização do imperador japonês Naruhito, que contou com a presença de dois mil dignitários de mais de 170 nações.

“Que crise política? Inventaram a crise política. Não há crise nenhuma. Zero (...) Eu estou tranquilo e o parlamento está tranquilo também. A responsabilidade é de todos nós”, afirmou Bolsonaro aos jornalistas, durante caminhada pela região central de Tóquio, antes de iniciar a agenda de compromissos oficiais.

O presidente disse reconhecer que a maioria do PSL é nova na política. “Novato chega e acha que sabe de tudo. Eu passei 28 anos ali (na Câmara dos Deputados). Problemas, eu tive lá dentro, mas sem chegar ao nível que um parlamentar chegou agora, com linguajar que nunca vi em lugar nenhum do mundo”, disse.

Na semana passada, Delegado Waldir, quando ainda ocupava a liderança do partido na Câmara, ameaçou implodir Bolsonaro e o chamou de “vagabundo”. As declarações foram dadas após a divulgação de um áudio com o presidente tentando convencer um parlamentar a apoiar o nome de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), seu filho, para substituir Waldir na liderança.

Bolsonaro respondeu “tem de ver com o tempo”, quando foi perguntado se deixará o PSL. Durante essa crise, ele tem adotado um comportamento dúbio, interferindo nas questões internas do partido ao mesmo tempo em que admite a existência de conversas com outras siglas. Na caminhada, ele negou que os embates com correligionários o tenham deixado magoado, e comparou o episódio a uma ferida. “As coisas acontecem. É igual a uma ferida, cicatriza naturalmente”, afirmou. “Entre mortos e feridos, todo mundo vivo.”

Para o presidente, o episódio não deve atrapalhar as votações de pautas importantes do governo no Congresso. Ao todo, o presidente ficará três dias em Tóquio. Além da cerimônia de entronização do imperador Naruhito, a agenda inclui reuniões bilaterais com o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, e com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski. Haverá também encontros com empresários brasileiros e japoneses.

Depois do Japão, ele vai visitar também a China, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes e o Catar. O tour asiático faz parte de uma estratégia para melhorar a relação comercial com as nações do continente e aumentar o comércio de proteína animal.