Correio Braziliense, n. 20666, 22/12/2019. Brasil, p. 6

Deputado paraibano é afastado
Renato Souza


Em um sábado que começou agitado em Brasília, a Polícia Federal realizou buscas na Câmara e na Asa Sul. O alvo da operação foi o deputado José Wilson Santiago (PTB-PB), acusado de envolvimento em um esquema de pagamento de propina e desvios em uma obra pública da Paraíba. Além da capital federal, as equipes de investigação também cumpriram mandados em João Pessoa, São João do Rio do Peixe e Uiraúna (PB). O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), que expediu as ordens judiciais, determinou que o parlamentar seja afastado do cargo.   

A PF pediu a prisão de Santiago, no entanto, o magistrado negou a solicitação. A corporação encontrou indícios de superfaturamento nas obras de construção de um sistema adutor na região que corta as cidades de São José do Rio do Peixe e Uiraúna, no sertão paraibano. O empreendimento estava orçado em R$ 24,2 milhões, dos quais R$ 1,2 milhão teria sido repassado de forma ilícita aos envolvidos nas fraudes. Equipes da Polícia Federal foram até o gabinete de Santiago, na Câmara e em uma casa ligada a ele, na Asa Sul. A corporação apreendeu documentos físicos e arquivos eletrônicos que podem ajudar nas investigações. A Justiça determinou ainda, a indisponibilidade de imóveis que estão em nome dos investigados.   

Além do deputado, outras sete pessoas foram alvo da operação. Entre eles, está o prefeito de Uiraúna (PB), João Bosco Nonato Fernandes, que foi preso. Em imagens feitas pelos investigadores, João Bosco aparece colocando dinheiro na cueca após participar de encontros para distribuição de propina. Um funcionário do prefeito e um empresário também estão entre os investigados. No total, a PF cumpriu 13 mandados de busca e apreensão nas residências e locais de trabalho dos suspeitos, quatro mandados de prisão preventiva e sete ordens de afastamento das funções públicas. Os envolvidos podem responder pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro, fraude licitatória e formação de organização criminosa.    

Três assessores e um funcionário de Santiago aparecem entre os investigados. O advogado Luís Henrique Machado, que integra a defesa do parlamentar, afirmou que o cliente não tem relação com o caso. “O deputado Wilson Santiago recebe com respeito e acatamento a decisão do Ministro Celso de Mello. Está absolutamente tranquilo e demonstrará, em momento oportuno, a inexistência de qualquer relação com os fatos investigados”, informou o defensor, em nota. O PTB informou que “acompanhará o andamento das investigações” e “espera que Wilson Santiago consiga provar sua inocência”.    

O inquérito que resultou nas ações de ontem tem como base informações prestadas por meio de depoimentos relacionados a uma colaboração premiada, apresentada pela Polícia Federal e acolhida pelo ministro Celso de Mello. O nome do delator e os termos do acordo firmado com as autoridades permanecem em sigilo.