Título: W3 em decadência
Autor: Heliete Bastos
Fonte: Jornal do Brasil, 02/02/2005, Brasília / Opinião, p. D2

É triste constatar que, apesar das muitas promessas de revitalização, a decadência da avenida W3 segue de forma gradual (mas não lenta!) diante da acomodação do GDF. A ninguém isso passa desapercebido.

Tudo seria muito simples se as autoridades preferissem a adoção de medidas eficazes aos planos mirabolantes. E se houvesse, de fato, vontade política em executá-las.

Que sejam analisadas as propostas de recuperação apresentadas pelos cinco primeiros colocados no concurso da W3 e se implementem as soluções de curto prazo. Para isso foi criado o Conselho Gestor da W3 sob a coordenação do GDF. As outras discussões, como a relativa ao Projeto Conceitual do Sistema de Transporte do DF e a construção de uma imensa praça subterrânea em frente ao Pátio Brasil continuariam a serem discutidas com a comunidade, pelo vulto do investimento que representam e pelas mudanças que encerram.

Até mesmo porque não há como se falar em qualquer plano de transportes para a W3, sem integrá-lo ao Plano Diretor da Área Tombada, assunto este que anda meio esquecido pelo Governo.

Igualmente bastante discutível, é essa idéia de se fazer uma praça subterrânea em frente ao Pátio Brasil. A seriedade da proposta do Instituto dos Arquitetos do Brasil, apresentada em reunião do Conpresb, na qual o nível atual da W3 seria reservado aos pedestres, cabendo aos veículos trafegarem no subsolo, precisa ser levada em consideração a despeito dos interesses econômicos que venha a contrariar. É a concepção da cidade que está em jogo.

E as medidas eficazes, de curto prazo, de que falamos ao início desse artigo? Ah, elas são de uma simplicidade incrível e em toda cidade que se preza fazem parte da rotina administrativa diária, senão vejamos. É difícil ter uma melhor iluminação, uma via limpa, sem lixo, com lixeiras em número adequado, sem faixas e propagandas, com banheiro públicos em condição de uso, passeios bonitos, padronizados e adequados aos portadores de necessidades especiais garantindo-lhes o direito de ir e vir? , E tudo isso sem se esquecer dos gramados,das placas de sinalização e paradas de coletivos, visualmente belos e integrados. A segurança se faria pela presença da Polícia em tempo integral, com viaturas estrategicamente posicionadas. Complemente-se esse ideário simples com um planejamento de segurança específico onde o monitoramento por meio de câmeras de vídeo faria parte dos meios disponíveis. Sem dúvida, as ações depredadoras (vide as pichações), seriam desencorajadas. Resultando em maior segurança aos transeuntes e moradores.

É obvio que há dificuldades a enfrentar. A fiscalização do GDF teria de se tornar eficaz. Padrões civilizados de conduta, limpeza e ocupação de área pública por parte dos quiosques, ambulantes e flanelinhas teriam de ser exigidos. Os mecânicos instalados tanto na W3 quanto na W2, quanto nas entrequadras - caso atípico de ocupação das áreas públicas para a prestação de serviços privados - teriam de deixar de contar com a complacência do Governo.

Tarefa de suma importância a ser enfrentada, em ação conjunta do Governo, é também a retirada de comércios, pousadas e pensões instalados nas 700, antiga reivindicação dos moradores pelos incômodos que trazem em uma área que deveria ser exclusivamente residencial.

É indiscutível a necessidade de envolvimento do morador e do comerciante no sentido de trazer uma cara nova à W3 e ouso afirmar que para isso não se furtariam em prestar a sua colaboração. Há de se compreender, no entanto, que eles precisam ter a certeza da contrapartida do governo, para que tudo não se esvaia na fragilidade das ações e na omissão dos responsáveis por zelar pelo patrimônio público.

Sem dúvida, a W3 carece mais de ações governamentais do que de grandes obras.

Ao alvorecer de 2005, esperamos que a conjugação de esforços entre oGDF, moradores e comerciantes, como o apoio dos sérios institutos existentes em nossa cidade, nos permita desfrutar, em breve, de uma W3 inserida em nossa Brasília, em perfeita harmonia com o título que a cidade ostenta.