O Estado de S. Paulo, n. 46158, 03/03/2020. Política, p. A12
Número de homicídios em fevereiro é o maior desde 2014
Renato Vasconcelos
Lôrrane Mendonça
O número de assassinatos durante o mês de fevereiro no Ceará, quando policiais militares ficaram parados por 13 dias, foi o maior dos últimos cinco anos. Foram registrados 386 homicídios entre os dias 1.º e 26. Em 2019, fevereiro registrou 164 mortes assassinatos. Em 2014, foram 394 crimes do tipo.
Uma das vítimas foi o cabo da PM Heitor Amorim da Silva, de 31 anos, encontrado morto em um terreno baldio, no município de Pacatuba, Região Metropolitana de Fortaleza, no último sábado. Ele teria invadido uma residência e sido atingido por um homem que estava armado na casa. O suspeito foi preso em flagrante hora depois.
Segundo a tia do policial, Aurivanda Gadelha, o sentimento é de muita tristeza. “Não queremos saber o porquê, quem e como. A tristeza é ainda maior porque nós vivemos em uma rotina de violência muito grande. Só queremos reafirmar nossa posição de educar os nossos filhos para a paz. A gente acredita que as armas não defendem. Elas matam”, disse Aurivanda.
As famílias do acusado e da vítima não souberam dizer o motivo da suposta invasão.
Ainda durante o Carnaval, uma travesti foi assassinada na madrugada do dia último dia 23. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, a vítima foi encontrada sem identificação.
A alta de crimes despertou ainda mais o medo nos moradores. Com a crise na segurança pública, muitos arrastões ocorreram na capital, inclusive no centro de Fortaleza, onde há grande concentração de lojas.
A ambulante Claudia Magalhães relatou os momentos de tensão que vivenciou durante um desses episódios. “Foi um terror. Todo mundo fechando as lojas, fecharam até mais cedo com medo de mais assaltos. Infelizmente não dava para parar de trabalhar, mas eu vinha com medo”, disse Claudia, lembrando onda de roubos no dia 21.
O gerente Wellington Rodrigues relata que a falta de policiais nas ruas o deixou apreensivo. “Nossa loja fica em uma área privilegiada, aqui no Centro, com muita visibilidade. A gente conta sempre com o apoio e o trabalhos dos policiais, mas esses dias em que eles não estavam por aqui foram muito tensos. Graças a Deus, não aconteceu o pior”, disse.
Além dos crimes, o motim de PM causou outros problemas. Alunos de uma escola municipal que fica ao lado do 18.º Batalhão, local de concentração dos amotinados, ficaram sem aulas, pois o colégio ficou ocupado pelos policiais. A Secretaria de Educação informou que as aulas serão retomadas hoje.
Vítima
“A tristeza é ainda maior porque nós vivemos em uma rotina de violência muito grande. As armas não defendem. Elas matam.”
Aurivanda Gadelha
Tia de policial assassinado