Correio Braziliense, n. 20695, 20/01/2020. Brasil, p. 5

Fuga de presos liga o alerta nas fronteiras

Augusto Fernandes



O Ministério da Justiça e Segurança Pública acendeu o sinal de alerta com a fuga de 76 presos ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC) da Penitenciária Regional de Pedro Juan Caballero, no Paraguai, e colocou pontos de bloqueio na fronteira entre os dois países, no município de Ponta Porã (MS), na tarde de ontem. Além disso, o patrulhamento na divisa das duas nações foi intensificado, com o governo sul-mato-grossense deslocando equipes das polícias Militar, Civil e Rodoviária Estadual para cuidar da região e buscar possíveis fugitivos.

De acordo com o secretário da Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul, Antonio Carlos Videira, pelo menos 200 policiais seguiram para o município. Também fazem parte da operação homens do Departamento de Operações de Fronteira, de equipes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), do Batalhão de Choque e da Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assalto e Sequestro (Garras).

Em Ponta Porã, três veículos foram encontrados queimados na BR-463, próximo ao distrito de Sanga Puitã, do lado brasileiro da linha internacional que separa os dois países. Como o achado se deu logo após a fuga da penitenciária, Videira acredita que parte dos criminosos fugiu para o Brasil. “Vamos fechar não só a fronteira, mas também as divisas com os estados de São Paulo, Paraná e Goiás, pois já temos a informação de que muitos dos fugitivos são brasileiros de fora do nosso estado”, disse.

Segundo o secretário, a Polícia Rodoviária Federal (PRF), as secretarias de Segurança Pública estaduais e a Guarda Nacional do Paraguai já foram comunicadas para que sejam tomadas decisões de recaptura dos criminosos da facção. “Nossa inteligência está em contato ininterrupto com a polícia do Paraguai para a troca de informações e, se necessário, de documentos. Pode haver casos de presos de lá que não tenham mandado de prisão aqui. Vamos dar apoio incondicional a eles nesse caso, pois interessa à nossa segurança”, frisou.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, prometeu empenho do governo brasileiro para localizar os fugitivos. “Estamos trabalhando com as forças estaduais para impedir a reentrada no Brasil dos criminosos que fugiram da prisão do Paraguai. Se voltarem ao Brasil, ganham passagem só de ida para presídio federal”, postou o ministro em uma rede social. “Estamos à disposição também para ajudar o Paraguai na recaptura desses criminosos”, acrescentou Moro.

Demissões

Ainda está em apuração por parte do governo paraguaio como os detentos conseguiram deixar a penitenciária. Imagens do circuito interno da prisão serão analisadas. Até o momento, uma das hipóteses para a fuga está ligada a um túnel de 25m de extensão cavado pelos presos e que ligava um dos pavilhões à área externa da penitenciária. Outra possibilidade é de que os detentos saíram pela porta da frente com a ajuda de funcionários do complexo presidiário, tanto que diretores e agentes penitenciários responsáveis pelo presídio foram demitidos ontem.

Em entrevista, a ministra da Justiça do Paraguai, Cecilia Pérez, ressaltou que a pasta denunciou, em dezembro, a existência de um plano de “fuga ou resgate” do PCC, pelo qual agentes penitenciários receberiam US$ 80 mil pela liberdade de líderes da facção. O efetivo policial foi reforçado nos presídios, mas não conseguiu conter a fuga. A ministra considerou o caso “extremamente grave e sem precedentes” e colocou o cargo à disposição do presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez.

O ministro do Interior paraguaio, Euclides Acevedo, afirmou que está sendo investigada a possibilidade de que o túnel tenha sido construído “de fachada” para esconder a suposta cumplicidade dos funcionários. “Agora, o principal objetivo é recapturá-los e disponibilizá-los ao Ministério Público”, destacou.

Quarenta brasileiros

O Ministério da Justiça do Paraguai confirmou que aliados do traficante brasileiro Sérgio de Arruda Quintiliano, o “Minotauro”, um dos principais líderes do PCC, preso em fevereiro de 2018 pela Polícia Federal brasileira, estão entre os 76 detentos que fugiram. Segundo o órgão, 40 fugitivos são brasileiros e 36, paraguaios.

Os presos apontados por ligações com “Minotauro” são os brasileiros Julio César Gomes, de 29 anos; Ailton Botelhos dos Santos, 35; Felipe Diogo Fernandes Dias, 25; Rafael de Souza, 25, e Luciano de Souza Martins, 26, além do paraguaio Marcos Paulo Valdez Moreira, 25. “Minotauro” estava à frente da guerra do PCC contra facções rivais pelo controle do tráfico de drogas e armas na fronteira. Ele está preso em uma penitenciária federal.

Na lista de fugitivos estão outros cabeças do PCC, como Claudinei Predebon e Cícero Fernando de Lima Almeida, presos em 2018, em uma mansão de Pedro Juan Caballero, quando, supostamente, preparavam o resgate de detentos do PCC. Outro fugitivo, Timóteo David Ferreira, apontado como um dos responsáveis por recrutar paraguaios para a facção, protagonizou polêmica entre a Justiça e a polícia do país, ao ser enviado por uma juíza para uma clínica médica, quando havia um plano para o resgate.