Título: Desemprego acelera no Rio
Autor: Samantha Lima, Julia Ribeiro e Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 24/03/2005, Economia & Negócios, p. A17

Dispensas no setor turístico e no comércio elevam em 15% desocupação no estado. No país, taxa avança 4%, indo a 10,6%

A massa de desempregados aumentou 15% na região metropolitana do Rio de Janeiro em fevereiro, contribuindo decisivamente para a elevação de 4% na média nacional. As 56 mil dispensas nos setores ligados a atividade turística e no comércio, que concentram 38% dos empregados na região metropolitana do Rio, ocorridas depois da alta temporada de fim de ano e férias, foram as principais responsáveis pelo aumento de 7,4% para 8,4% na massa de desempregados na região. Foi a maior variação nas seis regiões pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que registrou desemprego em 10,6% no país, contra 10,2% no mês anterior. É o segundo mês de aceleração na taxa.

Nas seis regiões metropolitanas em que a pesquisa é feita, havia 2,3 milhões de pessoas procurando vaga no mês passado, 109 mil a mais do que em janeiro. De acordo com o gerente da pesquisa Mensal de Emprego, Cimar Pereira, o incremento se deve ao número de dispensas e também a um aumento no número de pessoas procurando emprego, já que 43 mil pessoas decidiram buscar trabalho.

Cimar chama atenção para o fato de que a variação na taxa nacional ocorrida em igual período do ano passado havia sido menor. Em janeiro de 2004, o desemprego estava em 11,7% e passou para 12%. A variação, portanto, havia sido de 2,5%, contra os 4% deste ano.

- Isso já pode ser atribuído à estabilização nos níveis da atividade econômica, em oposição a um crescimento maior no início do ano passado - analisa Cimar.

O economista Reinaldo Gonçalves, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, concorda.

- A economia já demonstra sinais de desaceleração. O ciclo de altas da taxa de juros (que passou de 16% para 19,25% em sete meses) e a política fiscal desmotivam o investimento do empresário e congelam o emprego. A taxa prevista de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), de 3,5%, só é suficiente para manter o desemprego no nível atual. Ou seja, só será suficiente para absorver a mão-de-obra que entrará no mercado em 2005. Não haverá criação de novas vagas este ano - aposta.

No Rio, as vagas dos setores de comércio e serviços ligados ao turismo que em janeiro colocaram a região como única em que não houve aumento no desemprego, desta vez deram o tom negativo do mercado de trabalho fluminense. Foram menos 19 mil vagas nas atividades ligadas ao lazer e 37 mil dispensas nos postos atrás dos balcões do varejo. Os setores concentram, respectivamente, 20,1% e 18,8% da força de trabalho do estado.

- O Rio está ficando muito para trás em relação ao desempenho nacional. Até mesmo nos indicadores onde houve melhora - avalia Cimar, do IBGE.

A esperança de conquistar uma vaga definitiva em uma loja de artigos de couro, construída em dezembro com as vendas aquecidas de Natal, se desfez em fevereiro para o estudante de administração Paulo Lima, de 25 anos. Terminado o período para o qual havia sido inicialmente contratado, o universitário foi demitido. Ele ainda não obteve outro emprego.

- Já participei de cinco processos seletivos e não passei em nenhum. Mesmo com experiência no setor e inglês fluente, não consigo voltar para o mercado - reclama.

Mas Paulo afirma que não desistirá fácil. Seu objetivo é juntar recursos para uma viagem de estudos à Inglaterra, no início do próximo ano.

Além da maior alta do desemprego no país, o Rio teve a maior queda salarial: 1,1%, indo de R$ 893,33 para R$ 883,50 entre janeiro e fevereiro.

O secretário de Emprego e Renda do Estado, Marco Antônio Lucidi, diz que o número já era esperado.

- No curto prazo, o número ainda vai crescer porque mais dispensados procurarão emprego. Mas acreditamos na recuperação no médio prazo, com o avanço da indústria nos setores naval e siderúrgico - aposta o secretário.