O Globo, n. 31523, 27/11/2019. País, p. 10

Maia e Toffoli reagem a declaração de Guedes
Bruno Góes 
Paola de Orte


Os presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEMRJ), fizeram críticas à declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre o Ato Institucional nº 5, o mais duro do regime militar. Para o presidente da Corte, AI-5 não combina com democracia. Já Maia afirmou que falas como a do ministro geram insegurança e questionou o radicalismo de esquerda e direita.

— Acho que ele (Guedes) gera uma insegurança na sociedade e principalmente nos investidores, porque usar dessa forma (a hipótese de AI-5), mesmo para explicar o radicalismo do outro lado, não faz sentido. Por que allácio guém vai propor um AI-5 caso o ex-presidente Lula, que eu acho que está errado porque está muito radical, estimule manifestação de rua? O que uma coisa tem a ver com a outra? Vamos estimular o fechamento do Parlamento, dos direitos constitucionais, do habeas corpus? Porque foi isso que o AI-5 fez. Então se tiver manifestações de rua a gente fecha instituições democráticas? — disse Maia.

— O AI-5 é incompatível com a democracia. Não se constrói o futuro com experiências fracassadas do passado —afirmou Toffoli, ontem, no Encontro Nacional do Poder Judiciário, em Maceió.

Guedes fez a citação durante uma entrevista coletiva nos Estados Unidos na última segunda-feira. O ministro fazia referência ao chamado do expresidente Lula para que a população seguisse o exemplo de Chile e Bolívia de “lutar, resistir”. E disse que as pessoas não deveriam se assustar se “alguém pedir o AI-5”.

— É irresponsável chamar alguém para a rua agora para fazer quebradeira. Para dizer que tem que tomar o poder. Se você acredita numa democracia, espera vencer e ser eleito. Não chama ninguém para quebrar nada na rua. Este é o recado para o Brasil inteiro. Sejam responsáveis, pratiquem a democracia. Ou democracia é só quando o seu lado ganha? Não se assustem então se alguém pedir o AI-5 — afirmou o ministro.

PEDIDO DE “OFF”

Pouco antes, Guedes já havia citado o AI-5, ao fazer referência a declarações do deputado Eduardo Bolsonaro. Mas, assim que falou, Guedes afirmou ter dito a frase em off — expressão usada quando alguém não quer ser identificado. Os jornalistas lembraram que isso não havia sido combinado.

Ao ser perguntado se o AI-5 era admissível em alguma circunstância, respondeu:

— É inconcebível, a democracia brasileira jamais admitiria, mesmo que a esquerda pegue as armas, invada tudo, quebre e derrube à força o Pado Planalto, jamais apoiaria o AI-5, isso é inconcebível. Não aceitaria jamais isso. Está satisfeita?

— Isso é uma ironia ministro, o senhor está nos ironizando? —perguntou a jornalista.

— De forma alguma — respondeu.

Guedes voltou ontem ao assunto. Afirmou que o Brasil vive uma “democracia vibrante” e que ele não vê problemas com manifestações, mas que uma democracia “tem os dois lados” e ela deve ser praticada de maneira “responsável”.

— Que tipo de democracia é esta que só um lado pode ganhar? Eu acho que deveríamos praticar a democracia responsável.

O porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, disse ontem que citação sobre AI-5 de pessoa próxima a Bolsonaro é de “aspecto pessoal.”