O Estado de S. Paulo, n. 46922, 06/04/2022. Política, p. A10

A senadores, prefeitos citam pedidos de propina no MEC

Julia Affonso
Breno Pires
André Shalders



Em depoimento à Comissão da Educação no Senado, três prefeitos confirmaram ontem que o pastor Arilton Moura, integrante do gabinete paralelo do ex-ministro Milton Ribeiro, cobrou propina para liberar recursos da pasta. Os relatos foram antecipados pelo Estadão.

Por conta das revelações feitas pelos prefeitos, a Comissão de Educação decidiu encaminhar cópias dos depoimentos à Polícia Federal – o órgão já investiga as denúncias de cobrança de propina no Ministério da Educação.

A comissão também quer ouvir os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos. Foram enviados convites aos dois ontem para que compareçam à Comissão amanhã. O presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Marcelo Ponte, também foi chamado.

Aos senadores, o prefeito de Bonfinópolis (GO), Kelton Pinheiro (Cidadania), declarou que Arilton cobrou R$ 15 mil adiantados para destravar os recursos durante um almoço em Brasília. "(Arilton teria dito) 'Se não pegar antes, não paga ninguém'. Aquilo me deu ânsia de vômito." O encontro, segundo ele, ocorreu em 11 de março de 2021, e o pedido foi presenciado por Gilmar Santos.

Milton Ribeiro deixou o cargo na semana passada após a revelação da cobrança de propina na pasta. O esquema era operado por Arilton e Gilmar, em troca de liberação de dinheiro para creches e escolas.

Ouro. O prefeito Gilberto Braga (PSDB), de Luís Domingues (MA), relatou aos senadores que, após uma reunião no MEC foi a um almoço com "20 a 30" colegas, no qual também estavam Arilton e Gilmar. "Apresentei minhas demandas para ele e ele falou rapidamente. Disse: 'olha, você vai me arrumar os R$ 15 mil para mim (sic) protocolar as suas demandas e depois que o recurso já estiver empenhado, você, como a sua região é região de mineração, você vai me trazer 1kg de ouro'", afirmou.

O prefeito José Manoel de Souza (PP), de Boa Esperança do Sul (SP), relatou que durante um almoço com os pastores, em Brasília, Arilton disse: "'Você bem sabe como funciona né?'. Eu disse: 'não'", contou.

"Ele disse: 'prefeito, o Brasil é muito grande, nós temos mais de 5.600 municípios. Não dá para ajudar todos os municípios'. Eu disse: 'não dá, pastor?'. Ele falou: 'mas eu consigo te ajudar'."

O prefeito contou que perguntou a Arilton como seria a 'ajuda'. Segundo Souza, o religioso acenou com uma escola profissionalizante. "(Arilton teria dito) 'Você assina um ofício, eu já coloco no sistema e, em contrapartida, você deposita R$ 40 mil na conta da Igreja Evangélica'. Foi onde (sic) eu bati nas costas dele e falei: 'pastor, muito obrigado, não é desse jeito que funciona'".

"(Arilton teria dito) 'Se não pegar antes, não paga ninguém'. Aquilo me deu ânsia de vômito."

Kelton Pinheiro (Cidadania)

Prefeito de Bonfinópolis.

"Apresentei minhas demandas para ele e ele falou rapidamente. Disse: 'olha, você vai me arrumar os R$ 15 mil."

José Manoel de Souza (PP)

Prefeito de Boa Esperança do Sul.