Título: Família e marido brigam pelo corpo
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Fonte: Jornal do Brasil, 02/04/2005, Internacional, p. A12

A morte da americana Terri Schiavo, de 41 anos, não pôs fim aos anos de disputa entre o marido e seus pais, quando um conflito familiar tornou-se o foco de uma polêmica mundial. Os pais de Terri, Robert e Mary Schindler, opõem-se a que o corpo de sua filha seja cremado, como é o desejo do agora viúvo Michael Schiavo.

Terri morreu ontem, duas semanas após o desligamento dos aparelhos que sustentaram uma vida de 15 anos em estado vegetativo. O corpo será devolvido ao viúvo após a realização de uma autópsia, prevista para ontem. Foi o próprio Michael que solicitou a autópsia, para provar que o dano cerebral de Terri a impedia de sentir qualquer coisa.

Michael enfrentou uma batalha judicial com os pais de Terri pela morte de sua mulher que, segundo ele, não gostaria de ser mantida viva artificialmente. A família afirmava que a paciente mantinha um traço de consciência, e defendia a idéia de que ela poderia melhorar, com o tratamento correto.

Bob e Mary dizem estar dispostos a voltar aos tribunais para brigar com Michael pela posse dos restos mortais da americana. Eles querem que a filha seja enterrada em um cemitério católico e planejam um funeral em Saint Petersburg, na Flórida, na próxima semana.

A morte de Terri exaltou os ânimos entre os manifestantes que ainda se reúnem na frente do hospital onde ela estava internada.

- Eu não vou embora até que seja aprovada uma lei federal impedindo que um tubo de alimentação seja removido em futuros casos - disse Lisa Wilson, que veio do Kansas, há oito dias, para participar dos protestos.

Ao contrário de Lisa Wilson, que está hospedada em um hotel, vários manifestantes resolveram acampar na região próxima ao hospital. É o caso de Jeff Amussen, um motorista de caminhão que dirigiu por três dias e chegou a Pinellas Park carregando um pequeno crucifixo e dizendo que ''Terri foi crucificada como Cristo''.

Apesar do diagnóstico de ''estado vegetativo persistente'', os manifestantes alegam que as informações sobre as verdadeiras condições da paciente foram manipuladas.

Para os ativistas do ''direito à vida'', maioria entre os manifestantes, Terri Schiavo virou mártir e o seu drama deve ser usado para pressionar o governo por uma revisão das leis sobre o assunto.

Os poucos partidários do marido da paciente mantinham discrição, mas uma declaração aos vários repórteres presentes no local, no entanto, foi suficiente para acirrar os ânimos.

Enquanto Pete Cordero dizia a jornalistas da BBC que era ''desumano'' manter alguém nas condições em que Terri Schiavo viveu por 15 anos, o missionário Tom Neverdal afirmava que essa era uma decisão que ''apenas Deus poderia tomar''.