O Globo, n. 31486, 21/10/2019. Rio, p. 8

A História do Brasil como roteiro de cinema e séries de televisão

Tatiana Furtado


O Brasil atual tem sido um campo fértil para produções audiovisuais. Faz algum tempo que as mudanças constantes do cenário político estão ganhando as telas seja em forma de filmes ou de séries que discutem a história brasileira. O próximo será um documentário da cineasta Maria Augusta Ramos sobre a Operação Lava-Jato e suas consequências —incluindo os processos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

—O grande número de documentários e filmes de ficção cujos temas estão diretamente ligados à questão política é consequência desse momento histórico que estamos vivendo nos últimos anos —diz Maria Augusta Ramos, que, no ano passado, lançou “O Processo”, um documentário sobre o julgamento do impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016.

O novo projeto pretende registrar e refletir sobre o Poder Judiciário depois das revelações de mensagens dos procuradores da forçatarefa da Lava-Jato e do então juiz federal Sergio Moro, pelo site “The Intercept Brasil”.

— Diante de tudo o que aconteceu este ano, pensei na possibilidade de voltar a filmar e retratar a crise do sistema jurídico no Brasil —explica Maria Augusta.

O impeachment, a LavaJato e os personagens diretamente envolvidos já ganharam as telas outras vezes nos últimos anos.

O boom dessas produções ocorreu a partir de junho de 2013 —com as manifestações contra o aumento do preço das passagens de ônibus. Sobre o tema, o jornal “Folha de S.Paulo” lançou “Junho: O mês que abalou o Brasil”, dirigido por João Wainer, em 2015. O filme mostra diferentes cidadãos que foram às ruas naquela época e, ainda, o surgimento do grupo de direita Movimento Brasil Liberal( MBL).

Lava-jato

Há um mês, o próprio MBL lançou o seu filme sobre o impeachment de Dilma Rousseff. Intitulado “Não vai ter golpe” (ironia com o slogan dos contrários à destituição da ex-presidente), o documentário apresenta a visão e a participação do grupo no processo de impedimento uma vez que alguns de seus líderes assumiram mandatos no Congresso Nacional.

Ainda sobre o impeachment e suas consequências, foi lançado este ano “Democracia em vertigem”, de Petra Costa por meio da Netflix. A produção narra os últimos anos da política nacional do ponto de vista da diretora.

Antes disso, a plataforma de streaming apostou também na série “O Mecanismo”, de José Padilha, uma ficção inspirada na forçatarefa e seus desdobramentos. Padilha agora trabalha em um documentário sobre a operação, mas não quis falar sobre seu novo trabalho.

O ministro da Justiça, Sergio Moro, também já foi protagonista de cinema. Em 2017, no filme “Polícia Federal: A lei é para todos”, de Marcelo Antunez, Moro é interpretado por Marcelo Serrado.

Há pouco tempo também foi lançado “Torre de Donzelas” de Susanna Lira sobre a vida das presas políticas no presídio Tiradentes (SP) durante a ditadura militar . Entre elas, Dilma Rousseff.