Título: Sem-terra invadem Ministério da Fazenda
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 15/04/2005, País, p. A5

Cerca de 500 trabalhadores rurais ligados ao MLST ocupam prédio governamental e criticam política econômica de Palocci

BRASÍLIA - O Ministério da Fazenda virou ontem por mais de seis horas acampamento de sem-terra. Numa ação rápida e inesperada, centenas de membros do Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST) surpreenderam os seguranças e invadiram o prédio no fim da manhã. Os andares do edifício foram tomados, inclusive o do ministro Antonio Palocci, apesar de seu gabinete ter sido preservado. Idosos, mães com crianças no colo e famílias inteiras fizeram dos corredores do ministério um assentamento. Chegaram por volta de meio-dia e só saíram às 18h30 de forma pacífica, depois de quase três horas de negociação com representantes da Fazenda, do Ministério do Desenvolvimento Agrário e da Casa Civil.

Segundo a Polícia Militar, cerca de 500 sem-terra conseguiram entrar no edifício. Os coordenadores do protesto falavam em 1.200.

- É a primeira vez que integrantes de um movimento social ocupam o andar do ministro - comemorava Davi Pereira da Silva, um dos coordenadores do MLST.

O prédio da Fazenda já foi invadido antes, mas é a primeira vez que manifestantes chegam ao gabinete do ministro.

O MLST é um dissidência do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), ligada diretamente ao PT. A coordenação do MLST ressaltou que a invasão foi um ato de ''apoio ao governo e à política agrária do ministro Miguel Rossetto'', mas de repúdio à política econômica.

- Não vim aqui como dirigente do PT, mas da coordenação do MLST. O governo não é adversário. Temos certeza de que o governo funciona bem sob pressão - afirmou Bruno Maranhão, da coordenação do movimento, que também pertence à direção do PT e é ligado à tendência Brasil Socialista, da ala radical do partido.

A lista de reivindicações continha sete itens. O principal deles, que o governo liberasse integralmente os recursos do Orçamento destinados à reforma agrária. Da parte do governo, os sem-terra deixaram o ministério apenas com a promessa de que seriam estudadas formas de atendê-los.

- Não vão sair daqui com o cheque na mão. É só um encaminhamento - disse Lício Camargo, secretário-adjunto da Fazenda, encarregado de tratar com os sem-terra.

De acordo com os manifestantes, contudo, o governo prometeu apresentar em 15 dias uma proposta de renegociação das dívidas dos pequenos agricultores. Deve acontecer também, segundo o MLST, reunião com Lula.

O ministro da Fazenda já havia deixado Brasília quando o prédio foi invadido. Viajou pela manhã para São Paulo. De lá, seguiria para os Estados Unidos, onde participará do encontro anual do FMI.

As críticas e manifestações contra o governo eram direcionadas ao ministro. ''Arroz, feijão, Palocci é um ladrão'', era um dos ''gritos de guerra'' bradados repetidamente.