O Globo, n. 31439, 04/09/2019. País, p. 12

Garotinho e Rosinha voltam para prisão no rio
Juliana Castro
Maiá Menezes
João Paulo Saconi


Os ex-governadores Anthony Garotinho e Rosinha Matheus foram presos na manhã de ontem em casa, no Flamengo, na Zona Sul do Rio, acusados de receber R$ 25 milhões em propina da Odebrecht em virtude de obras para a construção de casas populares em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, onde ambos foram prefeitos. Acusados de corrupção passiva, eles foram levados à Cidade da Polícia, onde fizeram exame de corpo de delito e, depois, ao presídio de Benfica, onde é feito o ingresso no sistema penitenciário do estado. Com as prisões, são quatro os ex-governadores do Rio atrás das grades simultaneamente. Além deles, estão presos Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão. Moreira Franco também já foi detido, mas hoje está em liberdade.

Garotinho e Rosinha foram denunciados à Justiça estadual pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e pela Coordenadoria de Segurança e Inteligência, órgãos vinculados ao Ministério Público do estado. Os pedidos de prisão foram feitos em razão de investigações sobre superfaturamento em contratos celebrados entre a prefeitura de Campos e a Odebrecht para a construção de casas populares dos programas Morar Feliz I e Morar Feliz II durante os dois mandatos de Rosinha como prefeita (2009-2016).

Em nota, a defesa do casal diz que a prisão é “absolutamente ilegal, infundada e se refere a supostos fatos pretéritos” e que a prefeitura de Campos pagou só por casas prontas. Segundo a deputada Clarissa, filha do casal, a operação não deriva da Lava-Jato.

A ação é baseada na delação premiada de dois executivos da empresa homologadas pelo Supremo Tribunal Federal. Leandro Andrade Azevedo e Benedicto Barbosa da Silva Junior afirmaram que a construtora foi favorecida em concorrências superfaturadas avaliadas em R$ 1 bilhão para construção de 10 mil moradias. O MP aponta que o superfaturamento das obras, que não chegaram a ser concluídas, foi de R$ 62 milhões. Em abril de 2017, O GLOBO mostrou que as casas construídas pela Odebrecht não tinham portas, telhados e janelas.

A denúncia aponta que, em maio de 2008, Garotinho reuniu-se com executivos da Odebrecht para pedir dinheiro em espécie, sob o pretexto de doações para campanha de Rosinha à prefeitura. Na ocasião, foi acordado que o pagamento seria via caixa dois. Em contrapartida, a empresa seria contratada para a construção das casas populares. Segundo o MP, os pagamentos se estenderam de 2008 a 2014, sob a condição de uso em campanhas eleitorais.

Os promotores afirmam que os pagamentos de propina feitos ao casal eram organizados por Álvaro José Novis, delator na Lava-Jato e o mesmo que fazia a entrega de vantagens indevidas a Cabral e Pezão. A Odebrecht mantinha um sofisticado sistema de pagamento de propinas. Nas planilhas, havia o apelido do beneficiário, valor, data do pagamento e a obra, por exemplo, “Casas Campos II”. Garotinho aparecia com os apelidos de “Bolinho”, “Bolinha” e “Pescador”. Os mandados de prisão foram expedidos pela 2ª Vara Criminal de Campos.