O Globo, n. 31607, 19/02/2020. Economia, p. 26

BC quer permitir que mesmo imóvel garanta vários empréstimos

Gabriel Shinohara
Isabella Macedo


A diretoria do Banco Central estuda mudara legislação para permitir que um mesmo imóvel seja dado como garantia para diferentes empréstimos. O presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, explicou ontem que o mecanismo funcionaria como um contrato “guarda-chuva” e se aplicaria apenas a imóveis em grandes cidades. Segundo ele, a operação é comum em vários lugares do mundo. A informação sobre os planos do BC foi primeiro publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo.

— Se você tem um imóvel, você pode, de certa forma, extrair o valor do imóvel usando-o como garantia de um empréstimo. Esse é um produto ao qual tinha muita burocracia ligada, (era) muito difícil de fazer e muito custoso — disse Campos Neto, em reunião com parlamentares do DEM, no Congresso Nacional.

A estratégia do BC é facilitar essa modalidade de empréstimo, conhecida como home equity. Os imóveis residenciais, disse Campos Neto, são um estoque de capital “enorme” na economia, com valor conjunto de R$ 12,7 trilhões, mas com um volume muito baixo de financiamentos associados a ele. A medida seria uma forma de injetar dinheiro na economia.

— O Brasil, ao contrário de vários países do mundo, tem uma alavancagem muito baixa, o que significa que, na média, os brasileiros têm grande parte da casa paga. Então, desenhamos o plano pensando em como colocar dinheiro na economia sem gerar gasto público — disse.

Na explicação, Campos Neto disse que essa alteração também seria uma forma de baratear o crédito e estimular a competição. O assunto ainda está sob análise da diretoria do BC.

— Ainda vamos aprimorar, tem mais regra e mais regulamentações para sair, para estimular a competição e estimular as pessoas a usar seus imóveis para baratear o crédito — explicou.

Campanha por autonomia

Campos Neto se reuniu ontem com integrantes da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), do PSD e do DEM, para apresentar o projeto de autonomia do BC. Ele argumentou que a autonomia reduz a instabilidade econômica em momentos de transição de governo. E afirmou que a autonomia facilitaria manter a inflação em níveis baixos e proporcionaria juros menores e maior estabilidade monetária.

O presidente da FPA, deputado Alceu Moreira (MDBRS), disse acreditar que o projeto tenha condições de ser aprovado. Segundo o parlamentar, a Frente vai construir junto com o BC uma cartilha para tirar dúvidas dos parlamentares sobre a proposta.

O relator da proposta na Câmara, deputado Celso Maldaner (MDB-SC), também participou da reunião e disse que esse documento tiraria as dúvidas dos parlamentares e seria “praticamente um fechamento de questão”. Maldaner prevê a votação do projeto diretamente no plenário da Câmara depois do Carnaval.