Título: Um dia daqueles para o presidente
Autor: Sérgio Pardellas e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 20/04/2005, País, p. A3

Mulheres de militares protestam contra Lula e pesquisa CNT/Sensus mostra que sua popularidade caiu na avaliação dos brasileiros

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva amargou ontem um dia turbulento para o governo. Sua popularidade caiu, segundo a nova pesquisa do Instituto Sensus, elaborada a pedido da Confederação Nacional dos Transportes (CNT). Mulheres de militares, por sua vez, fizeram barulhenta manifestação durante a cerimônia em comemoração aos 357 anos do Exército, da qual participou o presidente. A 400 metros do palanque onde Lula estava, ao lado da primeira-dama Marisa Letícia, cerca de 30 mulheres tentavam furar o bloqueio da segurança para se aproximar do palanque presidencial com faixas reivindicando o prometido reajuste de 23% do soldo dos militares, segundo elas.

A promessa de reajuste foi feita em julho do ano passado e o aumento deveria ser pago em janeiro, mas até agora não saiu.

Marina Pavaresco, vice-presidente da Associação das Esposas de Militares das Forças Armadas, que chegou a passar mal durante o protesto no QG do Exército, afirmou que houve três suicídios de militares por causa da situação salarial nas últimas duas semanas.

O comandante militar do Planalto, general Marcius Teixeira Neto, no entanto, confirmou apenas uma morte desde que assumiu em janeiro e uma tentativa de homicídio.

Depois da solenidade, logo após o presidente ter deixado o local, Ivone Luzardo, presidente da Unemfa (União Nacional das Esposas de Militares das Forças Armadas), ainda fez um último protesto, agarrando-se a um carro da segurança presidencial.

O uso de mulheres nas manifestações, sem representação sindical, se deve às regras das Forças Armadas, segundo as quais militares da ativa não podem fazer protesto nem promover greves, o que caracterizaria uma insubordinação. Em 2004, houve eventos com a presença de até 700 mulheres de militares.

À tarde, o presidente Lula disse que o governo federal está analisando o aumento salarial para os militares e o reaparelhamento das Forças Armadas.

-Vamos trabalhar, não apenas com vontade política, mas com carinho para ver se nós encontramos uma forma, não apenas para discutir a questão salarial, mas de discutir a recuperação das Forças Armadas Brasileiras - disse o presidente, na cerimônia de apresentação dos 52 oficiais-generais recém-promovidos na Marinha, Exército e Aeronáutica, realizada no Planalto.

e Lula garantiu que tem discutido com o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, e com os comandantes como pode ser recuperado o prejuízo que as Forças Armadas vêm sofrendo há muitos anos.

- Se não bastasse o desmonte da máquina pública, nós temos o grande desmonte no soldo e no salário, tanto do servidor civil, quanto do militar. Como se essas pessoas não tivessem família, gastos e não tivessem que pagar escolas - falou o presidente tentando acalmar os militares.