O Estado de S. Paulo, n. 46604, 23/05/2021. Política, p. A9

Aras pede que MPF seja ouvido em buscas
Fausto Macedo
Pepita Ortega


O procurador-geral da República, Augusto Aras, entrou com ação no Supremo Tribunal Federal para que todo juiz sempre ouça o Ministério Público antes de decidir sobre pedidos de prisão provisória, interceptação telefônica ou captação ambiental, quebra de sigilos fiscal, bancário, telefônico e de dados, busca e apreensão, entre outras.

O pedido se dá após a deflagração da Operação Akuanduba, da Polícia Federal, contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sem manifestação prévia da Procuradoria-Geral da República. A ofensiva foi aberta após autorização do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que determinou que fosse dada “imediata ciência” à PGR após o cumprimento das diligências. Na ocasião, a procuradoria disse, em nota, que o fato de não ter sido instada a se manifestar sobre a ação “em princípio, pode violar o sistema constitucional acusatório”.

Segundo a Procuradoria-Geral, a ação apresentada ao Supremo questiona “omissões” no Código de Processo Penal, na lei que trata de interceptações telefônicas e na norma que trata de procedimentos envolvendo processos perante as cortes superiores e o Regimento Interno do Supremo.

Sistema. Aras defende que tais textos “precisam ser compreendidos à luz da principiologia que rege o sistema acusatório, que tem o MP como único órgão com atribuição para propor ações penais”. Nessa linha, quer que o Supremo assente a “absoluta imprescindibilidade de manifestação prévia do órgão competente do Ministério Público” antes da decretação de uma série de medidas cautelares.

“Com o advento da Constituição de 1988, o direito processual penal brasileiro buscou superar o então sistema inquisitorial, fazendo clara opção pelo sistema penal acusatório. O modelo, em linhas gerais, impõe a separação orgânica entre as dimensões instrutória, acusatória e decisória, de modo que não se permita à mesma pessoa acumular as funções de investigar/acusar e de julgar”, escreve.