Correio Braziliense, n. 20750, 15/03/2020. Política, p. 2

Morre Gustavo Benianno, ex ministro de Bolsonaro

Luiz Carlos Azedo


O corpo do ex-ministro de Jair Bolsonaro e pré-candidato a prefeito do Rio Gustavo Bebianno foi enterrado ontem, no final da tarde, no Cemitério Municipal Carlinda Berlim, em Teresópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, cidade onde faleceu. Na madrugada, em seu sítio, o ex-ministro passou mal, sofreu uma queda e teve um infarto fulminante, segundo o laudo médico divulgado pela Polícia Civil fluminense. Ele estava acompanhado do filho e do caseiro, que o socorreram. Familiares e amigos velaram o corpo, entre os quais o presidente do PSDB, Paulo Marinho, seu amigo. O governador de São Paulo, João Doria, também compareceu à despedida do ex-ministro.

Gustavo Bebianno tinha 56 anos, era advogado e faixa preta de jiu-jitsu. Chegou ao Hospital das Clínicas de Teresópolis Constantino Ottaviano (HCTCO) com parada cardiorrespiratória, não sendo possível reanimá-lo, apesar das tentativas. Era pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro pelo PSDB. Bebianno aproximou-se do então deputado federal Jair Bolsonaro em 2017. À época, se ofereceu para atuar graciosamente em processos judiciais, sendo o principal articulador da filiação de Jair Bolsonaro ao PSL. Como condição para o acordo com a legenda, Bebianno assumiu a presidência do PSL, interinamente, no lugar do deputado Luciano Bivar (PSL-PE).

Bebianno estreitou as relações com Bolsonaro e se tornou um dos principais coordenadores de sua campanha, ao lado do empresário Paulo Marinho, que se tornou o primeiro suplente do senador fluminense Flávio Bolsonaro, filho mais velho de Bolsonaro. Essa aproximação foi mais intensa durante o período em que o, até então, candidato à presidente esteve hospitalizado, em decorrência da facada que recebeu em Juiz de Fora, no primeiro turno do pleito. Com Bolsonaro eleito, integrou o primeiro time da equipe responsável pela transição de governo, em Brasília, ao lado do general Augusto Heleno, chefe do gabinete de Segurança Institucional (GSI), e do deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que viria a ser o ministro da Casa Civil e hoje é o titular do Ministério da Cidadania, além do ministro da Economia, Paulo Guedes.

Seu trabalho durante a transição garantiu-lhe o posto de secretário-geral da Presidência, sendo um dos primeiros anunciados por Bolsonaro para compor o ministério, ocupando um dos gabinetes do Palácio do Planalto, ao lado do então secretário de Governo, general Santos Cruz. Ambos acabaram rompendo com o chefe do Executivo, depois de quedas de braços com o vereador carioca Carlos Bolsonaro, o 02, que atua como cão de guarda do pai nas disputas políticas. O auge da crise com Bebianno se deu durante a internação de Bolsonaro para a retirada da bolsa de colostomia, cirurgia realizada no dia 28 de janeiro do ano passado, que coincidiu com as denúncias de envolvimento do senador Flávio Bolsonaro no escândalo das “rachadinhas” na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, o chamado caso Queiroz.

Teoria da conspiração

Bebianno foi acusado de vazar informações sobre a atuação do ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz e o envolvimento do clã Bolsonaro com as milícias no Rio de Janeiro, o que foi considerado uma traição. Bebianno negou as acusações, mas acabou se desgastando ainda mais numa troca de mensagens pelo Twitter com Bolsonaro, o que tornou sua situação insustentável. A turma do deixa disso tentou uma saída mais honrosa, oferecendo a embaixada de Roma para Bebianno pedir demissão do cargo, mas não houve acordo. Uma diretoria na Itaipu Binacional, outro cargo muito cobiçado, também foi recusada. Bolsonaro, para encerrar a novela, exonerou o ministro, com os agradecimentos de praxe. A última conversa entre ambos havia tornado a situação insustentável.

O festival de plantações na mídia, de ambos os lados, com troca de ameaças e farpas, inviabilizou as negociações de bastidor para acabar com a crise. Nas conversas com interlocutores, o ministro mostrava-se inconformado; nas declarações lacônicas à imprensa, mandava recados públicos para Bolsonaro, que deixou o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e voltou a Brasília, convencido pelos filhos Carlos (vereador), Eduardo (deputado federal) e Flávio (senador) de que Bebianno era uma espécie de quinta-coluna no Palácio do Planalto. Pelo Twitter, o presidente da República divulgou um vídeo agradecendo os serviços prestados: “Avalio que pode ter havido incompreensões e questões mal entendidas de parte a parte, não sendo adequado prejulgamento de qualquer natureza. Tenho que reconhecer a dedicação e comprometimento do senhor Gustavo Bebianno à frente da coordenação da campanha eleitoral em 2018. Seu trabalho foi importante para o nosso êxito", afirmou.

Desde então, Bebianno passou à oposição, revelando bastidores da campanha e de governo em entrevistas e declarações polêmicas. Nesse processo, se aproximou do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), por meio do suplente de senador Paulo Marinho, que assumiu o comando da legenda no Rio de Janeiro. Na verdade, o empresário foi o pivô da crise entre Bebianno e o presidente da República, pois a interpretação meio paranoica dada por Bolsonaro ao Caso Queiroz foi de que haveria uma conspiração para cassar o mandato do senador Flávio Bolsonaro, por causa das “rachadinhas”, e aprovar o seu impeachment, por envolvimento com as milícias. Bolsonaro foi convencido pelo filho de que o general Santos Cruz e o vice-presidente Hamilton Morão haviam se aliado a Bebianno, o que levou à demissão do primeiro, depois de uma feroz campanha de Carlos Bolsonaro e Olavo de Carvalho, e ao isolamento do vice-presidente. Sobrou também para o governador fluminense Wilson Witzel, que tem a ambição de disputar a Presidência da República, pois Bolsonaro suspeita que teria passado informações sobre as investigações do Caso Queiroz para Bebianno vazar à imprensa.